31 julho 2007
no mesmo dia, desapareceram 2 dos últimos grandes cineastas clássicos.
depois de bergman, antonioni.
depois de bergman, antonioni.
ficamos com godard, rohmer..
dos 4 ases, a sorte madrasta fez um raide fulminante ao tabuleiro de jogo - levou-nos, com uma só mão, dois dos quatro.
é assim a vida. nascemos e logo logo começamos a morrer.
difícil escrever obituários, quando nos toca a nós, à nossa grande família - aquelas pessoas que nunca conhecemos mas que nos formaram o carácter, que nos moldaram o olhar, que nos transmitiram valores que nenhuma escola por onde passámos ousou sequer aflorar.
ao menos assim, ao panteão dos imortais, chegaram de mão dada. a discutir se o plano panorâmico de michelangelo valia mais do que o grande plano do ingmar. se o vazio de deus, que habitava um e outro, era mais captável quando esculpido nos rostos de bergman ou nas coreografias desérticas de antonioni. se monica vitti ou liv ullman. se, se, se. em amena cavaqueira, com aquela sensação de que cumpriram a sua longa e exigente missão - fazer da vida uma jornada ética.
filmar, mostrar o imostrável, representar em película o medo, a angústia, a opressão interior, a ausência, o deserto vermelho, o gelo que crepita e estala. a aventura humana, no seu lado mais sombrio. e verdadeiro.
sublime e insustentável este cinema.
(alguém, aí atrás, disse.. esta vida?)
acontece, em momentos e movimentos descontínuos, olhar para algo, alguém, alguma coisa com um 'olhar novo', um 'olhar claro'. receber o espanto da surpresa, daquilo que nunca antes vimos ou sentimos. acontece com coisas novas-novas e com coisas formidavelmente transformadas pelo nosso olhar (aquilo em que nunca reparámos verdadeiramente, apesar de pensarmos o contrário - o que pensávamos que víamos era, afinal, o resultado de um filtro ligado por nós próprios). acontece com pessoas, acontece com filmes, acontece com uma flor à beira da estrada, acontece com um reflexo num vidro particular, acontece e acontece e acontece. muitas vezes, cai-nos em cima (literalmente); não menos vezes, cai-nos cá dentro (metaforicamente).
isto para dizer que
a beleza estranha é, em dias de lua cheia, uma beleza fulminante.
ora vejam:
'weird science', by alexander mcqueen
isto para dizer que
a beleza estranha é, em dias de lua cheia, uma beleza fulminante.
ora vejam:
'weird science', by alexander mcqueen
30 julho 2007
29 julho 2007
28 julho 2007
27 julho 2007
lua (um plano para salvar veneza)
casper david friedrich
(..)
sentei-me numa esplanada nas margens do grande canal e pedi uma coca-cola... é terrível chegar ao fim do século dos refrigerantes com esta INFINITA sensação de SEDE.
(..)
o século vinte é um vasto DESERTO de poços de petróleo. perfurei o solo da minha terra mas o que me saiu foi um JACTO DE POEMAS.
(..)
picasso morreu antes que pudesse levar a cabo o seu sonho, um ÚNICO fresco que ocupasse não a abóbada da capela sistina, mas a abóboda CELESTE.
fernando pessoa morrera muito antes numa clínica lisboeta, completamente ignorado, depoits de ter colocado um padrão com a CRUZ das quinas num dos areais de areia MAIS FINA do universo.
(..)
todas as pessoas deixam uma marca indelével no século por onde passam, uma pegada na areia ou o nome escrito a letras de oiro no pedestal das estátuas. a ÚNICA marca que QUERO deixar é uma pequena MORDEDURA ATRÁS DA ORELHA.
jorge de sousa braga, in 'plano para salvar veneza'
(ou esta voz que fala por mim)
26 julho 2007
25 julho 2007
run away, turn away, run away, turn away..
tal como tantas e tantas vezes, olhou as paredes-céu e pensou: as coisas que me acontecem. ou as coisas que faço acontecer. vai dar ao mesmo. que conversa esta. a lei das improbabilidades, sou um tratado na lei das improbabilidades.
do alto dos seus quase 20 anos, ela havia dito coisas assim:
- porque tens uns olhos tão tristes? não tens quem tos acenda?
- porque é que estás sempre a pensar?
- sabes que a vida são dois dias e que mesmo aos quase 20 anos já é possível saber isso (quanto mais aos 25 ou assim, que é o que deves ter)..
- onde é que estás agora, agorinha mesmo (os teus olhos não estão aqui, isso é certinho!)?
continuou a pensar, naquele seu jeito de se ausentar. como se uma emoção abstracta o percorresse por dentro e bloqueasse todos os seus tendões, todas as suas células nervosas. assim uma espécie de 'stand-by', ainda por acender, apesar de se ver a luzinha de serviço mínimo vital ligada. só a pensar. pensar, pensar, pensar.
- tens uns olhos bonitos, um sorriso bonito, umas mãos bonitas. devias pensar menos, cismar menos (sim, a voz de há pouco continuava a ecoar dentro de si).
- é tudo culpa do signo. tens um signo tramado, é como te digo. sei do que falo, podes crer. mas olha, sabes que mais, não te esqueças que podes escolher. não digo que seja fácil ou rápido ou isso, mas é possível. é isso que é importante. estás a ouvir-me?, falo contigo.., estás a ouvir-me?
claro que a estava a ouvir. não é todos os dias que uma miúda de 19 anos entra assim, a pés juntos - mas com doçura. uma espécie de altivez própria da juventude, um porte indefinidamente aristocrático, mas uma intenção inegável no uso das palavras e na procura de um efeito essencialmente bom (de quando se quer bem).
um desperdício. como não lembrar - mesmo quando se está a pensar o universo - este qualificativo, para mais dito pelos lábios mais improváveis? um desperdício, repetira a voz. o que é que era um desperdício? - tenta lembrar-se, ainda e sempre de si para si.
de si para si.
sempre em silêncio, sempre a ferver, sempre em estilhaços.
deixa uma frincha na porta, pode ser que a sabedoria da juventude faça nova visita. afinal, ele é o rei das improbabilidades. das improbabilidades prováveis.
do alto dos seus quase 20 anos, ela havia dito coisas assim:
- porque tens uns olhos tão tristes? não tens quem tos acenda?
- porque é que estás sempre a pensar?
- sabes que a vida são dois dias e que mesmo aos quase 20 anos já é possível saber isso (quanto mais aos 25 ou assim, que é o que deves ter)..
- onde é que estás agora, agorinha mesmo (os teus olhos não estão aqui, isso é certinho!)?
continuou a pensar, naquele seu jeito de se ausentar. como se uma emoção abstracta o percorresse por dentro e bloqueasse todos os seus tendões, todas as suas células nervosas. assim uma espécie de 'stand-by', ainda por acender, apesar de se ver a luzinha de serviço mínimo vital ligada. só a pensar. pensar, pensar, pensar.
- tens uns olhos bonitos, um sorriso bonito, umas mãos bonitas. devias pensar menos, cismar menos (sim, a voz de há pouco continuava a ecoar dentro de si).
- é tudo culpa do signo. tens um signo tramado, é como te digo. sei do que falo, podes crer. mas olha, sabes que mais, não te esqueças que podes escolher. não digo que seja fácil ou rápido ou isso, mas é possível. é isso que é importante. estás a ouvir-me?, falo contigo.., estás a ouvir-me?
claro que a estava a ouvir. não é todos os dias que uma miúda de 19 anos entra assim, a pés juntos - mas com doçura. uma espécie de altivez própria da juventude, um porte indefinidamente aristocrático, mas uma intenção inegável no uso das palavras e na procura de um efeito essencialmente bom (de quando se quer bem).
um desperdício. como não lembrar - mesmo quando se está a pensar o universo - este qualificativo, para mais dito pelos lábios mais improváveis? um desperdício, repetira a voz. o que é que era um desperdício? - tenta lembrar-se, ainda e sempre de si para si.
de si para si.
sempre em silêncio, sempre a ferver, sempre em estilhaços.
deixa uma frincha na porta, pode ser que a sabedoria da juventude faça nova visita. afinal, ele é o rei das improbabilidades. das improbabilidades prováveis.
24 julho 2007
camera obscura, 'super trouper' (abba cover)
but i wont feel blue
(sup-p-per troup-p-per)
like i always do
(sup-p-per troup-p-per)
cause somewhere in the crowd theres you
the comfort of 'strangers', again
edelweiss
(autres noms: pied-de-lion, étoile des alpes, étoile d'argent ou des glaciers)
'quand ils s'arrêtèrent essoufflés pour s'appuyer contre un mur, il lui glissa dans les mains un petit bouquet de violettes. elle n'eut pas besoin de les regarder pour savoir qu'il les avait volées, comme si elle avait assisté à la scène. les fleurs contenaient l'été tout entier, avec ses ombres et ses lumières gravées dans les feuilles, et elle en pressa toute la fraicheur contre sa joue. '
in, 'la traversée de l'été', truman capote, grasset
(e um obrigado do tamanho de mim)
onde está o gi?
algures, por entre músicas, copos e conversas, dizias-me:
'tem tanto a ver contigo!'
nunca tinha pensado nisso.
mas é uma ideia.
e todas as ideias merecem serem pensadas, passe a 'blague' de linguagem.
- onde estarei eu, amiga?
pulp, 'common people'
'tem tanto a ver contigo!'
nunca tinha pensado nisso.
mas é uma ideia.
e todas as ideias merecem serem pensadas, passe a 'blague' de linguagem.
- onde estarei eu, amiga?
pulp, 'common people'
23 julho 2007
paulo nozolino
i've got a photo from a long time ago
hold it in your pocket
hold it in your pocket
i've got a ring that my grandmother gave to me
wear it on your finger
wear it on your finger
i've got a letter that's full of our secrets
the last one you sent to me
the last one you sent to me, oh
what shall i do with a life turned to memory ?
i tried to forget you
i tried to forget you
where shall i go when i wake from a dream of you ?
i tried to forget you
i tried to forget you
i still see you
i still see you
i still see you
i turn in my sleep and i see you beside me
it's your imagination
it's your imagination
i go to the places we went to together
find another countries
find another countries
i turn in my sleep and i see you beside me
it's your imagination
it's your imagination
i want to go on but it's another day without you
i tried to forget you
i tried to forget you
i still see you
i still see you
i still see you...
[words by electrelane, 'saturday']
hold it in your pocket
hold it in your pocket
i've got a ring that my grandmother gave to me
wear it on your finger
wear it on your finger
i've got a letter that's full of our secrets
the last one you sent to me
the last one you sent to me, oh
what shall i do with a life turned to memory ?
i tried to forget you
i tried to forget you
where shall i go when i wake from a dream of you ?
i tried to forget you
i tried to forget you
i still see you
i still see you
i still see you
i turn in my sleep and i see you beside me
it's your imagination
it's your imagination
i go to the places we went to together
find another countries
find another countries
i turn in my sleep and i see you beside me
it's your imagination
it's your imagination
i want to go on but it's another day without you
i tried to forget you
i tried to forget you
i still see you
i still see you
i still see you...
[words by electrelane, 'saturday']
22 julho 2007
adoro adoro adoro adoro adoro (sou só um rapaz)
vejam o que quiserem,
façam do mundo
um mundo em branco
voar
voar
e
desaparecer
no
sol
-destino
enfim
cumprido.
21 julho 2007
map of africa
'quanto a mim, é-me perfeitamente indiferente o que pensam a meu respeito; estou apaixonado por naomi. naomi tem agora vinte e três anos, e eu trinta e seis.'
in 'naomi', junichiro tanizaki, relógio d'água
in 'naomi', junichiro tanizaki, relógio d'água
20 julho 2007
história de amor: últimos capítulos (jean-luc lagarce)
indícios e assim
na primeira cadeira da última fila, fechava os olhos e escutava as palavras vindas do palco.
o primeiro homem (eu:eu); o segundo homem (ele:eu também); a mulher (ela:tu).
história de amor: últimos capítulos, fala-nos de um triângulo. o primeiro homem narra uma história, a sua história, a história deles. narrador e actor, co-existem nele e há uma luta entre a história narrada e a história realmente vivida (foi assim; não, não foi assim; foi, foi!; não, não foi!; ok, foi mais ou menos assim..). as personagens (ele-o-primeiro-homem; o-outro-o-segundo-homem; ela-a-mulher) estão no palco e representam / encenam a narração (o que ele-o-primeiro-homem viu do que realmente se passou) da sua própria vida (na cidade velha, junto ao rio, antes da guerra, que idade é que nós tínhamos?).
- quando doer menos.
ela-a-mulher, a partir do palco, fixa os olhos no espectador sózinho que está sentado na primeira cadeira da última fila. ele sente. o olhar, que normalmente trespassa o espectador (técnica de representação, fixando o infinito), desta vez concretiza-se, cai sobre ele. (vocês estão aí, nós não..).
sim, eu estou aqui.
na cidade velha, junto ao rio, antes da guerra.
que idade é que eu tenho..?
que dia é hoje..?
19 julho 2007
18 julho 2007
lisbon revisited - a minha cidade
o meu manifesto:
1. quero que a nomenklatura municipal se afaste deste kremlin com tejo ao fundo. não sendo possível, passemos a coisas possíveis (exigentes, mas possíveis).
2. quero que estes 2 anos que faltam até às próximas eleições sejam usados para:
a) resolução de 10 (e não 100! ou 342!) problemas urgentes, que sejam quick wins para a cidade e a sua população (residente e móvel). back to the basics.
b) força de tarefa, incluindo experts da administração central, para gizar plano que contrarie, a longo-prazo, a asfixia financeira da câmara municipal (sim, é matéria árida; mas sim, é matéria sine qua non..)
c) que os partidos (e as forças supra-partidárias que agora se revelaram) pensem nestes 2 anos numa ideia de cidade, num desígnio estratégico e num master-plan. mais do que sound-bytes, medidas avulsas ou teorizações vazias, quero que se apresentem, daqui a 2 anos, com verdadeiros contratos-programa com os eleitores; então sim, escolheremos com base em mais do que 'simpatias partidárias', 'carisma pessoal', 'votos contra alguma coisa'. queremos votar 'a favor'!
d) que o modelo, caduco e ineficaz, segundo muitos constitucionalistas e especialistas em direito administrativo, de organização política do poder local seja revisto, a tempo das próximas eleições. não queremos assembleias municipais contra executivos camarários; queremos uma clarificação do modelo [presidencialista ou parlamentarista, mas não o que temos: 'o pior dos dois' (vital moreira, no jornal público de hoje)].
3. quero, a médio-prazo, uma cidade
aberta ao mundo, cosmopolita (porque é um traço distintivo que cada vez mais, num mundo globalizado, será uma vantagem competitiva)
fraterna (para com os idosos, para com as crianças, para com os jovens, para com os desvalidos)
people friendly (porque as cidades são das pessoas, pelas pessoas, para as pessoas)
business friendly (porque estamos no século XXI)
talent friendly (porque é o futuro que aqui se joga)
navegável (com mobilidade interna)
com uma identidade estabilizada (o que é, o que não é, o que quer ser, o que não quer ser) e partilhada entre administração central, local, população, sociedade civil, etc.
quero uma cidade que seja desejável.
quero uma cidade sedutora.
quero uma cidade que seja um affair memorável para quem cá vem.
quero uma cidade que seja um amor de uma vida para quem cá permanece. e que mais e mais affairs sejam suavemente transformados num 'enduring-life-lasting-love'.
quero uma cidade em branco - onde tudo seja (ainda) possível.
quero uma cidade que nos diga:
- honramos os mais velhos, porque a cidade é deles, antes de todos os outros; temos memória!
- respeitamos e atraímos os adultos, porque sabemos que aqui se joga a sustentabilidade de um projecto social;
- seduzimos os jovens em processo de solidificação de vida, porque queremos uma cidade cheia de energia e groove; porque queremos ganhar a batalha do hoje, do amanhã e do depois de amanhã;
- amamos as crianças, porque queremos alegria à solta e porque queremos criar novos cidadãos que digam um dia: 'nado, criado e vivido em lisboa. viajei pelo mundo e nunca encontrei um lugar assim. perguntem aos meus filhos. e perguntem ao meus netos. dir-vos-ão o mesmo!'.
não somos os maiores,
não somos os mais eficientes,
mas somos bons
em atrair empresas de nova geração
em atrair empresas dos palops e brasileiras
em atrair investimentos anglófonos
criámos corredores com pequim e com nova deli
(é agora comum vermos estudantes desses países a estudar em lisboa
na rede de empresas e universidades que entretanto algumas grandes escolas lançaram por cá ou naquelas que, fruto de uma estratégia de alianças, joint-ventures, 'coop-tição', as nossas souberam criar)
somos flexíveis.
somos rápidos.
somos adaptáveis.
somos pacíficos.
e temos aquele sol, aquele mar, aquela brisa, aquela luz, aquele balanço que faz com que nos apaixonemos por um sítio vivo.
acorda, lisboa!
tens tudo para ser 'tanto',
não queiras ser 'só';
abre as asas e vôa, lisboa!
1. quero que a nomenklatura municipal se afaste deste kremlin com tejo ao fundo. não sendo possível, passemos a coisas possíveis (exigentes, mas possíveis).
2. quero que estes 2 anos que faltam até às próximas eleições sejam usados para:
a) resolução de 10 (e não 100! ou 342!) problemas urgentes, que sejam quick wins para a cidade e a sua população (residente e móvel). back to the basics.
b) força de tarefa, incluindo experts da administração central, para gizar plano que contrarie, a longo-prazo, a asfixia financeira da câmara municipal (sim, é matéria árida; mas sim, é matéria sine qua non..)
c) que os partidos (e as forças supra-partidárias que agora se revelaram) pensem nestes 2 anos numa ideia de cidade, num desígnio estratégico e num master-plan. mais do que sound-bytes, medidas avulsas ou teorizações vazias, quero que se apresentem, daqui a 2 anos, com verdadeiros contratos-programa com os eleitores; então sim, escolheremos com base em mais do que 'simpatias partidárias', 'carisma pessoal', 'votos contra alguma coisa'. queremos votar 'a favor'!
d) que o modelo, caduco e ineficaz, segundo muitos constitucionalistas e especialistas em direito administrativo, de organização política do poder local seja revisto, a tempo das próximas eleições. não queremos assembleias municipais contra executivos camarários; queremos uma clarificação do modelo [presidencialista ou parlamentarista, mas não o que temos: 'o pior dos dois' (vital moreira, no jornal público de hoje)].
3. quero, a médio-prazo, uma cidade
aberta ao mundo, cosmopolita (porque é um traço distintivo que cada vez mais, num mundo globalizado, será uma vantagem competitiva)
fraterna (para com os idosos, para com as crianças, para com os jovens, para com os desvalidos)
people friendly (porque as cidades são das pessoas, pelas pessoas, para as pessoas)
business friendly (porque estamos no século XXI)
talent friendly (porque é o futuro que aqui se joga)
navegável (com mobilidade interna)
com uma identidade estabilizada (o que é, o que não é, o que quer ser, o que não quer ser) e partilhada entre administração central, local, população, sociedade civil, etc.
quero uma cidade que seja desejável.
quero uma cidade sedutora.
quero uma cidade que seja um affair memorável para quem cá vem.
quero uma cidade que seja um amor de uma vida para quem cá permanece. e que mais e mais affairs sejam suavemente transformados num 'enduring-life-lasting-love'.
quero uma cidade em branco - onde tudo seja (ainda) possível.
quero uma cidade que nos diga:
- honramos os mais velhos, porque a cidade é deles, antes de todos os outros; temos memória!
- respeitamos e atraímos os adultos, porque sabemos que aqui se joga a sustentabilidade de um projecto social;
- seduzimos os jovens em processo de solidificação de vida, porque queremos uma cidade cheia de energia e groove; porque queremos ganhar a batalha do hoje, do amanhã e do depois de amanhã;
- amamos as crianças, porque queremos alegria à solta e porque queremos criar novos cidadãos que digam um dia: 'nado, criado e vivido em lisboa. viajei pelo mundo e nunca encontrei um lugar assim. perguntem aos meus filhos. e perguntem ao meus netos. dir-vos-ão o mesmo!'.
não somos os maiores,
não somos os mais eficientes,
mas somos bons
em atrair empresas de nova geração
em atrair empresas dos palops e brasileiras
em atrair investimentos anglófonos
criámos corredores com pequim e com nova deli
(é agora comum vermos estudantes desses países a estudar em lisboa
na rede de empresas e universidades que entretanto algumas grandes escolas lançaram por cá ou naquelas que, fruto de uma estratégia de alianças, joint-ventures, 'coop-tição', as nossas souberam criar)
somos flexíveis.
somos rápidos.
somos adaptáveis.
somos pacíficos.
e temos aquele sol, aquele mar, aquela brisa, aquela luz, aquele balanço que faz com que nos apaixonemos por um sítio vivo.
acorda, lisboa!
tens tudo para ser 'tanto',
não queiras ser 'só';
abre as asas e vôa, lisboa!
elle est retrouvée.
quoi ? - l'éternité.
c'est la mer mêlée
au soleil.
mon âme éternelle,
observe ton voeu
malgré la nuit seule
et le jour en feu.
donc tu te dégages
des humains suffrages
des communs élans
et voles selon...
- jamais d'espérance
ps d'orietur.
sience et patience,
l supplice est sûr.
pus de lendemain,
baises de satin,
vtre ardeur
et le devoir.
ele est retrouvée !
- qoi ? - l'éternité.
c'est la mer mêlée
au soleil.
alchimie du verbe,
dans 'une saison en enfer'
jean-arthur rimbaud
17 julho 2007
16 julho 2007
i want to slide down the carpeted stairs or down the bannister i got a new kaleidoscope and i got a stack of records it's on your head so don't dare move we could be happy just listening to your pulse take ecstasy with me, baby take ecstasy with me i have to laugh, it's so unreal to lay and laugh under the northern lights we've got a lot that others have to realize in a world where we get beat up just holding hands take ecstasy with me, baby take ecstasy with me take ecstasy with me, baby take ecstasy with me take ecstasy with me, baby take ecstasy with me ecstacy, ecstacy, ecstacy
stephin merritt
stephin merritt
fractais
poema de amor
esta noite sonhei oferecer-te o anel de saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo
poema em forma de delta
há rios
que são navegáveis
e navegam. é desses que eu gosto.
ainda anteontem ia a começar e já está. li de um trago, de um só fôlego, a 'poesia reunida', de jorge de sousa braga (assírio & alvim).
apetece-me colocar o livro - todo! - 'em linha'.
partilhá-lo convosco;
obrigar-vos, com suavidade, a mergulharem nestoutro continente afinal o mesmo.
a forma como o jorge decifra o mundo é
tocante
desarmante
profunda
- e, contudo, suave.
vamos pela mão.
as suas palavras ficam dentro de nós, agarram-se, agarram-nos.
vou pintar este jardim com as palavras dele, dar-lhe um retoque estival. deixar o verão entrar, mesmo que esta seja uma outra cartografia das estações.
agarra o verão, gi, agarra o verão - diria o sttau monteiro.
agarra o jorge, gi, agarra o jorge
agarra o gi, jorge, agarra o gi.
agarrem-se..
a greve dos controladores de vôo
não foi enxofre que caiu sobre sodoma, mas pólen. haverá alguma cidade que resista a uma tempestade de pólen?
vários rios têm alagado nos últimos tempos os serviços de psiquiatria, queixando-se todos eles do mesmo pesadelo: os jacintos de água doce.
passara quarenta anos de binóculos assestados, a seguir as migrações das aves e a tomar estranhos apontamentos num caderno. a última vez que foi visto voava a meia altura em direcção ao sul.
levaram-no ao serviço de urgência. perdera a fala subitamente. o médico que o assistiu veio a apurar que ligara as cordas vocais entre si para escapar da sua prisão interior.
esta noite uma nova estrela fez a sua aparição no céu da constelação de órion. nenhum dos observatórios astronómicos espalhados pelo globo resgistou o fenómeno. apenas uma criança negra que fugira da casa dos pais no harlem lhe sorriu.
esta noite sonhei oferecer-te o anel de saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo
poema em forma de delta
há rios
que são navegáveis
e navegam. é desses que eu gosto.
ainda anteontem ia a começar e já está. li de um trago, de um só fôlego, a 'poesia reunida', de jorge de sousa braga (assírio & alvim).
apetece-me colocar o livro - todo! - 'em linha'.
partilhá-lo convosco;
obrigar-vos, com suavidade, a mergulharem nestoutro continente afinal o mesmo.
a forma como o jorge decifra o mundo é
tocante
desarmante
profunda
- e, contudo, suave.
vamos pela mão.
as suas palavras ficam dentro de nós, agarram-se, agarram-nos.
vou pintar este jardim com as palavras dele, dar-lhe um retoque estival. deixar o verão entrar, mesmo que esta seja uma outra cartografia das estações.
agarra o verão, gi, agarra o verão - diria o sttau monteiro.
agarra o jorge, gi, agarra o jorge
agarra o gi, jorge, agarra o gi.
agarrem-se..
a greve dos controladores de vôo
não foi enxofre que caiu sobre sodoma, mas pólen. haverá alguma cidade que resista a uma tempestade de pólen?
vários rios têm alagado nos últimos tempos os serviços de psiquiatria, queixando-se todos eles do mesmo pesadelo: os jacintos de água doce.
passara quarenta anos de binóculos assestados, a seguir as migrações das aves e a tomar estranhos apontamentos num caderno. a última vez que foi visto voava a meia altura em direcção ao sul.
levaram-no ao serviço de urgência. perdera a fala subitamente. o médico que o assistiu veio a apurar que ligara as cordas vocais entre si para escapar da sua prisão interior.
esta noite uma nova estrela fez a sua aparição no céu da constelação de órion. nenhum dos observatórios astronómicos espalhados pelo globo resgistou o fenómeno. apenas uma criança negra que fugira da casa dos pais no harlem lhe sorriu.
15 julho 2007
bilhete postal
toda a gente sabe
que ao sol
só se chega
montado no dorso dourado
dos cavalos selvagens
que habitam em nós
14 julho 2007
desafio
a cristina teve a gentileza de me desafiar para partilhar convosco as minhas últimas 5 leituras.
aqui está um tema que, para mim, é um elevadíssimo prazer. adoro palavras!
3 leituras recentes:
pedro reis, 'em câmara lenta'
um romance, curto em páginas mas poderoso em evocações e invocações, que me surpreendeu. um romance psicológico, escuro como a noite interior, que fala de salvador e de santiago, amigos em via sacra pela vida. paixões, vidas falhadas, fantasmas à solta, redenção em bares duvidosos, um leve erotismo, o poder das memórias como condutores de vida. abre com uma cena magistral, em que um ritual de amor se transforma num ritual de morte. eros e thanatos, em português nada suave.
ana teresa pereira, 'quando atravessares o rio'
o último livro da enigmática autora insular. romance? novela? conto longo? apenas - e venham de lá aspas carregadas - a mais recente peça da obra mágica que ana teresa pereira tem vindo a edificar, ao longo da última década. personagens que saltam das páginas, uma escrita que combina uma simplicidade desarmante com uma eficácia magistral. seduz, embriaga, vicia. romance noir, thriller psicológico sem crime, pequenos ensaios ontológicos espalhados aqui e ali, personagens vorazes, uma escrita a meio caminho entre o fantástico e uma espécie de pureza ancestral e intemporal. é um mergulho num abismo - fácil entrar, difícil sair. fica o aviso.
pedro bandeira freire, 'entrefitas e entretelas'
um saborosíssimo livro de memórias, de um personagem real, quase quase 'bigger than life'. toda a lisboa burguesa dos anos 50 aos nossos dias passa por aqui. histórias e estórias, episódios anedóticos, alguns mitos revisitados. optando por um registo não cronológico e dividido em centenas de pequenas entradas (10 linhas a 3 ou 4 páginas), ficamos a conhecer a vida do pedro, um humanista à moda antiga, amigo das coisas boas da vida, arauto de uma certa alegria de viver, trovador do amor. o resgate de memórias e algumas cartas em sangue, constituem um sub-nível ao longo de todo o livro (e de toda a vida): a luz do amor, o prazer sexual assumido, bálsamos indispensáveis a esta 'travessia' que é a vida. escrita crua, sem grandes floreados, mas de uma riqueza (e ternura) que diverte e, não raro, comove.
tendo sido fundador do cinema quarteto, a cinefilia atravessa todo o livro. cada entrada é polvilhada com um diálogo, uma cena, saída dos filmes da vida do pedro. um estratagema curioso e feliz, ou não nos dissesse o pedro que no cinema aprendeu os seus valores. a caçar estrelas, também.
2 leituras a acontecer:
gonçalo m. tavares, 'ensaios sobre o medo'
descobri este livro no blog 'o café dos loucos' (olá, miguel!). é um livro que arrepia. quando a lucidez, a inteligência, um certo desencanto se cruzam com a capacidade de escrever 'a sério' saímos diferentes.
é cedo para dizer mais. um livro inquietante. e belo.
jorge de sousa braga, 'o poeta nu [poesia reunida]'
um poeta de cabeceira, já aqui trazido - neste blog -. uma poética minimal, aqui e ali remetendo para uma técnica quase haiku. com poucas palavras, o autor esculpe cristais. brilhantes, perfeitos, objecto de desejo - queria saber escrever assim -, ora glaciais ora vulcânicos. releio estas palavras e percebo que nada dizem. leiam qualquer coisa dele. por exemplo essa obra de que tanto gosto (mas tanto!) e que aqui vos trouxe em tempos:'fogo sobre fogo'
..
desafio agora, suspense..
o abssinto
a nan
a un-dress
(se já responderam; se não vos apetece responder.. não é preciso. neste jardim respira-se liberdade).
aqui está um tema que, para mim, é um elevadíssimo prazer. adoro palavras!
3 leituras recentes:
pedro reis, 'em câmara lenta'
um romance, curto em páginas mas poderoso em evocações e invocações, que me surpreendeu. um romance psicológico, escuro como a noite interior, que fala de salvador e de santiago, amigos em via sacra pela vida. paixões, vidas falhadas, fantasmas à solta, redenção em bares duvidosos, um leve erotismo, o poder das memórias como condutores de vida. abre com uma cena magistral, em que um ritual de amor se transforma num ritual de morte. eros e thanatos, em português nada suave.
ana teresa pereira, 'quando atravessares o rio'
o último livro da enigmática autora insular. romance? novela? conto longo? apenas - e venham de lá aspas carregadas - a mais recente peça da obra mágica que ana teresa pereira tem vindo a edificar, ao longo da última década. personagens que saltam das páginas, uma escrita que combina uma simplicidade desarmante com uma eficácia magistral. seduz, embriaga, vicia. romance noir, thriller psicológico sem crime, pequenos ensaios ontológicos espalhados aqui e ali, personagens vorazes, uma escrita a meio caminho entre o fantástico e uma espécie de pureza ancestral e intemporal. é um mergulho num abismo - fácil entrar, difícil sair. fica o aviso.
pedro bandeira freire, 'entrefitas e entretelas'
um saborosíssimo livro de memórias, de um personagem real, quase quase 'bigger than life'. toda a lisboa burguesa dos anos 50 aos nossos dias passa por aqui. histórias e estórias, episódios anedóticos, alguns mitos revisitados. optando por um registo não cronológico e dividido em centenas de pequenas entradas (10 linhas a 3 ou 4 páginas), ficamos a conhecer a vida do pedro, um humanista à moda antiga, amigo das coisas boas da vida, arauto de uma certa alegria de viver, trovador do amor. o resgate de memórias e algumas cartas em sangue, constituem um sub-nível ao longo de todo o livro (e de toda a vida): a luz do amor, o prazer sexual assumido, bálsamos indispensáveis a esta 'travessia' que é a vida. escrita crua, sem grandes floreados, mas de uma riqueza (e ternura) que diverte e, não raro, comove.
tendo sido fundador do cinema quarteto, a cinefilia atravessa todo o livro. cada entrada é polvilhada com um diálogo, uma cena, saída dos filmes da vida do pedro. um estratagema curioso e feliz, ou não nos dissesse o pedro que no cinema aprendeu os seus valores. a caçar estrelas, também.
2 leituras a acontecer:
gonçalo m. tavares, 'ensaios sobre o medo'
descobri este livro no blog 'o café dos loucos' (olá, miguel!). é um livro que arrepia. quando a lucidez, a inteligência, um certo desencanto se cruzam com a capacidade de escrever 'a sério' saímos diferentes.
é cedo para dizer mais. um livro inquietante. e belo.
jorge de sousa braga, 'o poeta nu [poesia reunida]'
um poeta de cabeceira, já aqui trazido - neste blog -. uma poética minimal, aqui e ali remetendo para uma técnica quase haiku. com poucas palavras, o autor esculpe cristais. brilhantes, perfeitos, objecto de desejo - queria saber escrever assim -, ora glaciais ora vulcânicos. releio estas palavras e percebo que nada dizem. leiam qualquer coisa dele. por exemplo essa obra de que tanto gosto (mas tanto!) e que aqui vos trouxe em tempos:
..
desafio agora, suspense..
(se já responderam; se não vos apetece responder.. não é preciso. neste jardim respira-se liberdade).
13 julho 2007
polaroid
o táxi apanhado ao começo da tarde.
o calor das 15h, suavizado pela brisa atlântica.
sabor a verão que tarda.
e a conversa:
'apaixonei-me aos 56 anos, veja lá. só pode ser amor, não é?, quero dizer, nestas circunstâncias. transportei aquela senhora durante 7 semanas, todos os dias. sózinha em lisboa, vinda de longe, fazia radioterapia. transportei-a, calhou assim, todos os dias. eu que sou vivido - que conheço e vivi a cidade -, não dei por nada. uma mensagem aqui, já nem sei bem (talvez a propósito do dia da mulher..), e palavras que chegam e dizem mais. daqui a 2 anos, se tudo correr bem, vou deixar isto e viver com ela. perguntam-lhe por lá: 'ouve lá, ele deve ser especial; tu, viúva com dois filhos; doente'. mas sabe, é como lhe digo, eu apaixonei-me por ela e não pela doença. só pode ser uma história de amor, não é? interessei-me pelo caso e como, na altura, transportava um médico do ipo, comecei a saber tanto ou mais do que ela própria sobre a sua doença. o médico chegou a perguntar-me 'então, como vai esse romance?' - e eu, 'oh sr dr, nada disso, nada disso'. sabe, amigo, isto parece um filme e talvez desse para uma telenovela. mas é mesmo assim, é a realidade, pode crer. só pode ser uma história de amor, não é?'
pela segunda vez hoje, saí do táxi.
pela segunda vez hoje, não tenho comentários a fazer.
pela terceira vez hoje, senti cá uma alegria.
que nem vos conto..
o calor das 15h, suavizado pela brisa atlântica.
sabor a verão que tarda.
e a conversa:
'apaixonei-me aos 56 anos, veja lá. só pode ser amor, não é?, quero dizer, nestas circunstâncias. transportei aquela senhora durante 7 semanas, todos os dias. sózinha em lisboa, vinda de longe, fazia radioterapia. transportei-a, calhou assim, todos os dias. eu que sou vivido - que conheço e vivi a cidade -, não dei por nada. uma mensagem aqui, já nem sei bem (talvez a propósito do dia da mulher..), e palavras que chegam e dizem mais. daqui a 2 anos, se tudo correr bem, vou deixar isto e viver com ela. perguntam-lhe por lá: 'ouve lá, ele deve ser especial; tu, viúva com dois filhos; doente'. mas sabe, é como lhe digo, eu apaixonei-me por ela e não pela doença. só pode ser uma história de amor, não é? interessei-me pelo caso e como, na altura, transportava um médico do ipo, comecei a saber tanto ou mais do que ela própria sobre a sua doença. o médico chegou a perguntar-me 'então, como vai esse romance?' - e eu, 'oh sr dr, nada disso, nada disso'. sabe, amigo, isto parece um filme e talvez desse para uma telenovela. mas é mesmo assim, é a realidade, pode crer. só pode ser uma história de amor, não é?'
pela segunda vez hoje, saí do táxi.
pela segunda vez hoje, não tenho comentários a fazer.
pela terceira vez hoje, senti cá uma alegria.
que nem vos conto..
polaroid
o táxi apanhado ainda cedo.
lisboa que desperta (esta luz que não cessa de nos deslumbrar - uma luz que brilha).
e a conversa.
'o meu patrão não tem 40 anos ainda. tem 42 táxis. foi taxista 7 anos e lançou-se, arriscou. é uma pessoa inteligente e humana. entre as 17h e as 19h - a hora da rendição de turnos - está por lá, fala com o pessoal, sempre com aquele sorriso de quem faz as coisas por gosto. preocupa-se com o pessoal, com as coisas. temos uma oficina própria, tudo modernizado. e gps. e telemóvel por conta da casa, para falarmos uns com os outros e com ele. e tudo em dia, segurança social, impostos, essas coisas. quando vai lá um rapaz e lhe 'diz quero ser táxista', ele responde 'vamos lá ver isso. e vai!'. temos um protocolo, acho que é assim que se diz, com a carristour, fazemos formação para táxistas (256 horas). faz dia 16 de julho 2 anos que terminei o curso. era camionista, de distribuição. tive um acidente muito grave, infelizmente. como o senhor pode ver, fiquei quase sem dedos numa mão, mas com força e adaptação, cá ando. estive três semanas em coma. estive morto. mas tive uma segunda vida. é esta.'
sem comentários.
mas com uma alegria que nem vos conto.
lisboa que desperta (esta luz que não cessa de nos deslumbrar - uma luz que brilha).
e a conversa.
'o meu patrão não tem 40 anos ainda. tem 42 táxis. foi taxista 7 anos e lançou-se, arriscou. é uma pessoa inteligente e humana. entre as 17h e as 19h - a hora da rendição de turnos - está por lá, fala com o pessoal, sempre com aquele sorriso de quem faz as coisas por gosto. preocupa-se com o pessoal, com as coisas. temos uma oficina própria, tudo modernizado. e gps. e telemóvel por conta da casa, para falarmos uns com os outros e com ele. e tudo em dia, segurança social, impostos, essas coisas. quando vai lá um rapaz e lhe 'diz quero ser táxista', ele responde 'vamos lá ver isso. e vai!'. temos um protocolo, acho que é assim que se diz, com a carristour, fazemos formação para táxistas (256 horas). faz dia 16 de julho 2 anos que terminei o curso. era camionista, de distribuição. tive um acidente muito grave, infelizmente. como o senhor pode ver, fiquei quase sem dedos numa mão, mas com força e adaptação, cá ando. estive três semanas em coma. estive morto. mas tive uma segunda vida. é esta.'
sem comentários.
mas com uma alegria que nem vos conto.
12 julho 2007
a lista: guilty as charged
notas:
1. as 2 últimas canções caíram do alinhamento final (a ideia original era: introdução + 35 canções + end theme). mas assim também está bem - e a forma como encerra está 'mais do que perfeita', na minha forma de ver..
2. o end theme original era 'i am older now', em vez de 'i fantasize of you' - ambos de jay jay johanson
3. a versão da canção 'baby' (original d'os mutantes, grupo basilar do psicadelismo brasileiro (final anos 60 e anos 70)) é realizada por um grupo de portugueses, para um cd especial da fnac. inclui nuno rebelo e vocalização por anabela, ambos ex-mler if dada;
4. a faixa 'i love you' é assinada pelos spain e não, como aparece, por the blue.
from (the) garden where i feel secure
virginia astley
oh, please, please, please
release the stars
for me
for you
and for everyone we know.
it's july
- spring in summer,
at last.
11 julho 2007
soprar estrelas
in my own private dictionary (science: hands off!)
soprar: verbo regular. insuflar ou criar uma corrente de ar direccionada.
estrelas: plural do substantivo estrela. corpo celeste que irradia luz. da geometria imutável de certas relações espaciais entre estrelas se diz serem constelações.
soprar estrelas: efeito multiplicador que consiste na exponenciação da luminosidade de uma determinada estrela, através do dom de as trazer para a palma da mão e de nelas soprar luz vinda de dentro. a propriedade expansiva das estrelas conduz a este efeito, raro, de uma estrela assimilar a luz que lhe é soprada, assumindo novas formas ou especialíssimas escalas de luminosidade.
soprar: verbo regular. insuflar ou criar uma corrente de ar direccionada.
estrelas: plural do substantivo estrela. corpo celeste que irradia luz. da geometria imutável de certas relações espaciais entre estrelas se diz serem constelações.
soprar estrelas: efeito multiplicador que consiste na exponenciação da luminosidade de uma determinada estrela, através do dom de as trazer para a palma da mão e de nelas soprar luz vinda de dentro. a propriedade expansiva das estrelas conduz a este efeito, raro, de uma estrela assimilar a luz que lhe é soprada, assumindo novas formas ou especialíssimas escalas de luminosidade.
10 julho 2007
nostalGIa em 3 compassos
the shirelles, 'will you still love me tomorrow?'
the shirelles, 'baby, it's you'
the shirelles, 'dedicated to the one i love'
the shirelles, 'will you still love me tomorrow?'
the shirelles, 'baby, it's you'
the shirelles, 'dedicated to the one i love'
09 julho 2007
ao cair da noite as saudades chegam(-nos) de mansinho. em bicos de pés, com pézinhos de lã, pé ante pé, pequeninas, pequenininhas.
saudades, sim, saudades.
das 2400 palavras doces, ficaram.. quase todas.
mas o pódio vai para aquelas três que, bem juntinhas e quase de forma imperceptível, segredaram: 'tenho saudades tuas'.
boa noite.
vamos nanar.
saudades, sim, saudades.
das 2400 palavras doces, ficaram.. quase todas.
mas o pódio vai para aquelas três que, bem juntinhas e quase de forma imperceptível, segredaram: 'tenho saudades tuas'.
boa noite.
vamos nanar.
impressões a sul
destes dias marítimos (atlânticos, apetecia cantarolar, como faziam os nossos ban), ficam algumas impressões. meras notas de viagem. por isso mesmo o título: impressões.
1. dos abraços que nos consolam a alma
um abraço longo e saboroso com o meu velho amigo sr. j. vindo de lisboa, na sexta, vim ao encontro de um jantar de amigos da família. os meus pais, de propósito, combinaram inventar uma ligeira pantomina, não revelando quem era 'a amiga' que vinha a caminho, ter com as minhas irmãs. excusado será dizer que quando o sr. j. me viu, por entre as janelas cruzadas dos carros, de lá veio aquele sorriso franco e fracamente alegre. diria que é aquele sorriso das coisas simples, algo que, nos nossos dias, nos esquecemos de exercitar com mais frequência. bom, abraço dado, lá fomos para uma daquelas tasquinhas paralelas à ria formosa, algures para as bandas de tavira. por vezes, esqueço-me destes prazeres simples; do bom que é, por entre um copo de vinho sem marca e uma imperial, provar um portentoso arroz de lingueirão. conversar horas a fio, sobre tudo e sobre nada. e ouvir dizer - e dizer -: 'que bom é estar aqui'; 'estou tão contente por teres vindo'; 'gosto de ti'. é assim como que se a alma que trazemos amarrotada das agruras e desencontros da vida, por artes mágicas, recuperasse aquele viço brilhante que nos diz: 'enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, a gente vai continuar' (jorge palma). leiam como quiserem, com a amplitude que quiserem.
2. da nostalgia com vista para a infância. e das coisas certificadas.
ficámos instalados - família nuclear completa, digamos assim - no mesmo aldeamento de quase sempre. este quase sempre refere-se aos tempos em que eu e as minhas irmãs éramos meninos. um conjunto de casas semi-ligadas entre si, muitas árvores e jardins em redor. tudo harmonioso, bem tratado, mas sem aquele ar artificial dos jardins de agora. casas simples, típica arquitectura dos anos 60 (aquele suave travo a 'decadência com charme', para olhos que saibam ver e apreciar..), um grande relvado para o qual quase todas dão. cheiro a pinheiros. acordar bem cedo com a luz brilhante que entra pela janela, embalados pelo canto dos pássaros que nos envolvem com os seus bailados. há muitos pássaros, bem bonitos. sinal de que a natureza deu a sua caução a este espaço. isto sim é uma certificação a sério. em vez de papel, sons, cores e cheiros. e animais a olharem para (e por) nós. e coisas que batem certo. e aquela serenidade indefinível que só o mergulho na natureza pode dar. senti o mesmo no topo do mundo, há muitos anos atrás.
ainda podemos estar aqui, mais de 20 anos depois. seja lá o que isso quer dizer, a minha gratidão. vocês sabem do que é que eu estou a falar. fica o silêncio, esse companheiro de viagem que tantas vezes fala mais alto do que qualquer palavra. poupemos no estilo. fique a essência. um silencioso obrigado.
3. dos mares nunca dantes navegados. dos pólos. dos bilhetes postais. do espanto. da supresa. dos gomos de tangerina.
coisa linda.
coisa linda.
coisa linda.
é isso. é tanto. é tudo.
1. dos abraços que nos consolam a alma
um abraço longo e saboroso com o meu velho amigo sr. j. vindo de lisboa, na sexta, vim ao encontro de um jantar de amigos da família. os meus pais, de propósito, combinaram inventar uma ligeira pantomina, não revelando quem era 'a amiga' que vinha a caminho, ter com as minhas irmãs. excusado será dizer que quando o sr. j. me viu, por entre as janelas cruzadas dos carros, de lá veio aquele sorriso franco e fracamente alegre. diria que é aquele sorriso das coisas simples, algo que, nos nossos dias, nos esquecemos de exercitar com mais frequência. bom, abraço dado, lá fomos para uma daquelas tasquinhas paralelas à ria formosa, algures para as bandas de tavira. por vezes, esqueço-me destes prazeres simples; do bom que é, por entre um copo de vinho sem marca e uma imperial, provar um portentoso arroz de lingueirão. conversar horas a fio, sobre tudo e sobre nada. e ouvir dizer - e dizer -: 'que bom é estar aqui'; 'estou tão contente por teres vindo'; 'gosto de ti'. é assim como que se a alma que trazemos amarrotada das agruras e desencontros da vida, por artes mágicas, recuperasse aquele viço brilhante que nos diz: 'enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, a gente vai continuar' (jorge palma). leiam como quiserem, com a amplitude que quiserem.
2. da nostalgia com vista para a infância. e das coisas certificadas.
ficámos instalados - família nuclear completa, digamos assim - no mesmo aldeamento de quase sempre. este quase sempre refere-se aos tempos em que eu e as minhas irmãs éramos meninos. um conjunto de casas semi-ligadas entre si, muitas árvores e jardins em redor. tudo harmonioso, bem tratado, mas sem aquele ar artificial dos jardins de agora. casas simples, típica arquitectura dos anos 60 (aquele suave travo a 'decadência com charme', para olhos que saibam ver e apreciar..), um grande relvado para o qual quase todas dão. cheiro a pinheiros. acordar bem cedo com a luz brilhante que entra pela janela, embalados pelo canto dos pássaros que nos envolvem com os seus bailados. há muitos pássaros, bem bonitos. sinal de que a natureza deu a sua caução a este espaço. isto sim é uma certificação a sério. em vez de papel, sons, cores e cheiros. e animais a olharem para (e por) nós. e coisas que batem certo. e aquela serenidade indefinível que só o mergulho na natureza pode dar. senti o mesmo no topo do mundo, há muitos anos atrás.
ainda podemos estar aqui, mais de 20 anos depois. seja lá o que isso quer dizer, a minha gratidão. vocês sabem do que é que eu estou a falar. fica o silêncio, esse companheiro de viagem que tantas vezes fala mais alto do que qualquer palavra. poupemos no estilo. fique a essência. um silencioso obrigado.
3. dos mares nunca dantes navegados. dos pólos. dos bilhetes postais. do espanto. da supresa. dos gomos de tangerina.
coisa linda.
coisa linda.
coisa linda.
é isso. é tanto. é tudo.
06 julho 2007
3 anos depois do primeiro cd, ainda escondido nas filas de trás, ter sido encontrado numa loja de lisboa.
3 anos depois desta electricidade diferente fazer das suas, nas noites longas de um grupo de amigos.
3 anos depois de aprender de cor os acordes mentais; de o corpo aprender de cor aquele balanço espasmódico, físico; de algo cá dentro aprender de cor os recantos gelados daquela solidão glacial (e contudo luminosa), os contornos daquela espécie de ressaca do que está por vir (ou do que já veio e já partiu).
3 anos depois de gravatas pretas em riste.
..eles estiveram aqui, juntinho ao tejo.
foi bom demais. daquelas coisas em que, rodeados por outros milhares de fiéis devotos - e aqui o número é irrelevante -, estamos sintonizados com o palco e com o nosso mundo. exactamente, como se não houvesse amanhã.
interpol.
- comet on fire, oh yeah!
interpol, 'rest my chemistry' (non-official video)
05 julho 2007
c'est plus pareil
JE NE SUIS PLUS CELLE QUI S'ACCROCHAIT A VOS LEVRES
JE NE SUIS PLUS L'ELEVE LA PLUS IMPOPULAIRE
JE NE SUIS PLUS CELLE QUI VOUS FUYAIT DU REGARD
JE NE FAIS PLUS VRAIMENT LE MEME GENRE DE CAUCHEMAR
C'EST PLUS PAREIL
DE QUELLE MANIERE ?
JE CREVE DE NE PAS SAVOIR COMMENT
J'ATTENDS MON HEURE
LA OU AILLEURS
COMME CEUX DONT J'AI OUBLIE LE NOM
JE SUIS PLUS LA FILLE QUI PREFERAIT SE TAIRE
JE NE SUIS PLUS L'ELEVE LA PLUS IMPOPULAIRE
J'ACHETE DES BILLETS DE TRAIN POUR VOIR LA MER
COMME UNE PARISIENNE A PEU PRES ORDINAIRE
C'EST PLUS PAREIL
DE QUELLE MANIERE ?
JE CREVE DE NE PAS SAVOIR COMMENT
J'ATTENDS MON HEURE
LA OU AILLEURS
COMME CEUX DONT J'AI OUBLIE LE NOM
JE NE SUIS PLUS DANS L'OMBRE DES ARRIERE BOUTIQUES
A DESSINER DES CERCLES PARFAITS SUR LES VITRES
A RECOMPTER MES DOIGTS A L'INFINI
J'AI PERDU LE GOUT DE CES CHOSES LA DEPUIS
[chamam-se holden, são franceses. gravaram esta pérola há coisa de três anos. é (mais) uma canção especial. é vossa..]
04 julho 2007
bloc party, 'pioneers'
if it can be broke then it can be fixed, if it can be fused then it can be split
- it's all under control
if it can be lost then it can be won, if it can be touched then it can be turned
- all you need is time
03 julho 2007
the riddle
e de repente, cumprindo lei e sina, há uma palavra nova.
uma ideia desvairada (herberto).
um navio que não navega, cavalga (cesariny).
mais azul (sá-carneiro).
n'
esta cidade a que alguns dão o nome (belo).
comet on fire.
e, de repente, espanto interior.
improbabilidade.
lua crescente, maré que chega.
e, de repente
prodíGIo.
uma ideia desvairada (herberto).
um navio que não navega, cavalga (cesariny).
mais azul (sá-carneiro).
n'
esta cidade a que alguns dão o nome (belo).
comet on fire.
e, de repente, espanto interior.
improbabilidade.
lua crescente, maré que chega.
e, de repente
prodíGIo.
02 julho 2007
35 anos / 35 canções de inverno
pois é, o tempo passa.
poderia complementar com um :-(
ou com um :-X
ou ainda com um :-?
mas, sabem que mais?
está decidido..
é mesmo com um :-))!
fiz recentemente 35 anos (pronto, aqueles que pensavam que eu seria mais um 'cyber-teen' já sabem que não é o caso!).
para comemorar, decidi, entre outras coisas, organizar uma mini-mini compilação de 35 canções que me marcaram, ao longo destes anos. foi difícil chegar ao alinhamento final, mas ajudou-me o critério de garantir que tivesse efectivamente acesso a 95% das faixas em suporte físico. eu não tenho muitos cd's, razão, pensei eu, para que o meu 'conservador' critério de aquisição pudesse, de certo modo, ajudar-me também na selecção.
para além de ter oferecido o cd aos meus amigos e familiares mais próximos (gosto, neste contexto, da expressão 'mais estruturantes'), resolvi fazer uma coisa. passo a descrever.
dentro do bom-senso (stock oblige!), vou oferecer algumas cópias deste cd.
chamei-lhe '35 years, 35 winter songs - a winter music collection for summer days'. porque acredito que, por vezes, o nome diz tudo.
lambchop jeff buckley leonard cohen bob dylan jack the go-betweens the walkmen os mutantes camané lloyd cole sol seppy neil young massive attack johnny cash adriana calcanhoto nick cave j.p. simões the blue nile rufus wainwright chico buarque paolo conte air tindersticks gavin friday david sylvian sia perry blake mazzy star lucinda williams spain the divine comedy ryan adams etc..
quem estiver interessado(a), apenas tem que me enviar: i) um nome; ii) e um endereço postal para: flores_de_inverno@hotmail.com
o resto é comigo!
[adenda: formas alternativas de entrega podem evidentemente ser propostas; desde que sejam exequíveis, tentarei responder o melhor que me for possível]
poderia complementar com um :-(
ou com um :-X
ou ainda com um :-?
mas, sabem que mais?
está decidido..
é mesmo com um :-))!
fiz recentemente 35 anos (pronto, aqueles que pensavam que eu seria mais um 'cyber-teen' já sabem que não é o caso!).
para comemorar, decidi, entre outras coisas, organizar uma mini-mini compilação de 35 canções que me marcaram, ao longo destes anos. foi difícil chegar ao alinhamento final, mas ajudou-me o critério de garantir que tivesse efectivamente acesso a 95% das faixas em suporte físico. eu não tenho muitos cd's, razão, pensei eu, para que o meu 'conservador' critério de aquisição pudesse, de certo modo, ajudar-me também na selecção.
para além de ter oferecido o cd aos meus amigos e familiares mais próximos (gosto, neste contexto, da expressão 'mais estruturantes'), resolvi fazer uma coisa. passo a descrever.
dentro do bom-senso (stock oblige!), vou oferecer algumas cópias deste cd.
chamei-lhe '35 years, 35 winter songs - a winter music collection for summer days'. porque acredito que, por vezes, o nome diz tudo.
lambchop jeff buckley leonard cohen bob dylan jack the go-betweens the walkmen os mutantes camané lloyd cole sol seppy neil young massive attack johnny cash adriana calcanhoto nick cave j.p. simões the blue nile rufus wainwright chico buarque paolo conte air tindersticks gavin friday david sylvian sia perry blake mazzy star lucinda williams spain the divine comedy ryan adams etc..
quem estiver interessado(a), apenas tem que me enviar: i) um nome; ii) e um endereço postal para: flores_de_inverno@hotmail.com
o resto é comigo!
[adenda: formas alternativas de entrega podem evidentemente ser propostas; desde que sejam exequíveis, tentarei responder o melhor que me for possível]
the fiery furnaces, 'tropical iceland'
(depois de me acharem parecido com um dos tipos dos 'editors', não é que uma alma amiga detectou neste video fortes parecenças, segundo a própria, com o matthew friedberger - irmão da frontwoman eleanor? vá lá, que ando em boas companhias musicais!)
sim, recordo-me
recordo-me
de estar sentado ao teu colo, enquanto simulavas um cavalo a passo, depois a trote, depois a galope
de te saber feliz, rodeado pelos teus 7 meninos e meninas
de dizeres adeus à porta do nosso portão
de criares brinquedos para mim
do teu enciclopédico saber sobre tudo, das artes manuais à composição de uma orquestra, da química aos procedimentos administrativos
da tua memória viva de um mundo que foi o século xx em oliveira de frades
da tua paciência infinita
da tua preocupação de pai para com o meu pai, ainda pouco antes apenas teu filho
dos livros que me compravas, religiosamente, todos os fins-de-semana
das lágrimas que chorei no dia da minha licenciatura, por não te ver ao meu lado
da tua mão na minha, enquanto caminhávamos na gafanha da vagueira e tu me contavas aquelas histórias sobre tudo (tu sabias de tudo, de uma forma que nunca mais encontrei em ninguém)
do orgulho de ir às comemorações da província e saber-te fundador da banda filarmónica, dos bombeiros voluntários, etc.
de seres um cidadão exemplar
de escreveres cartas a todas as 'autoridades', sempre que havia assuntos que o mereciam
de sofreres com o grupo desportivo oliveirense como nunca te vi sofrer com o nosso sporting (até o médico te proibir de ires ao futebol)
dos piqueniques e dos passeios, dos magustos, de coisas de que tanto gostavas
de grande parte da vida teres sido fumador e apreciador de um copito, até a saúde e a força de vontade (pela ordem inversa) te terem alterado comportamentos
daquele verão de 1989, em que o mundo rebentou
dos iogurtes caseiros, com essências aromatizantes que me pareciam coisa de alquimista, com que me recebias e às minhas manas
das minhas infantis promessas de não comer pastilhas elásticas (que tu dizias faziam mal) e gelados, em troca de Deus te fazer vencer a luta contra aquela maldita doença, espécie de oração desesperada
de te ter dedicado mil livros que nunca escrevi, sempre sempre aparecendo na minha cabeça as palavras mágicas a ti dedicadas
da tua descrição do tempo em que, com um projeccionista teu conhecido, organizavam sessões de cinema ao ar livre, a rua que vai das traseiras da igreja antiga para a casa que foi dos teus pais servindo de plateia, as cadeiras pedidas emprestadas na escola de música que era ali ao lado, creio
sim, lembro-me. sim, recordo-me. sim, recordo-te. sim, recordo-nos.
chamas-te álvaro henriques de oliveira e silva.
no sábado, 30 de junho de 2007, terias feito 100 anos.
que digo..
no sábado, 30 de junho de 2007, fizeste 100 anos.
obrigado, avô.
de estar sentado ao teu colo, enquanto simulavas um cavalo a passo, depois a trote, depois a galope
de te saber feliz, rodeado pelos teus 7 meninos e meninas
de dizeres adeus à porta do nosso portão
de criares brinquedos para mim
do teu enciclopédico saber sobre tudo, das artes manuais à composição de uma orquestra, da química aos procedimentos administrativos
da tua memória viva de um mundo que foi o século xx em oliveira de frades
da tua paciência infinita
da tua preocupação de pai para com o meu pai, ainda pouco antes apenas teu filho
dos livros que me compravas, religiosamente, todos os fins-de-semana
das lágrimas que chorei no dia da minha licenciatura, por não te ver ao meu lado
da tua mão na minha, enquanto caminhávamos na gafanha da vagueira e tu me contavas aquelas histórias sobre tudo (tu sabias de tudo, de uma forma que nunca mais encontrei em ninguém)
do orgulho de ir às comemorações da província e saber-te fundador da banda filarmónica, dos bombeiros voluntários, etc.
de seres um cidadão exemplar
de escreveres cartas a todas as 'autoridades', sempre que havia assuntos que o mereciam
de sofreres com o grupo desportivo oliveirense como nunca te vi sofrer com o nosso sporting (até o médico te proibir de ires ao futebol)
dos piqueniques e dos passeios, dos magustos, de coisas de que tanto gostavas
de grande parte da vida teres sido fumador e apreciador de um copito, até a saúde e a força de vontade (pela ordem inversa) te terem alterado comportamentos
daquele verão de 1989, em que o mundo rebentou
dos iogurtes caseiros, com essências aromatizantes que me pareciam coisa de alquimista, com que me recebias e às minhas manas
das minhas infantis promessas de não comer pastilhas elásticas (que tu dizias faziam mal) e gelados, em troca de Deus te fazer vencer a luta contra aquela maldita doença, espécie de oração desesperada
de te ter dedicado mil livros que nunca escrevi, sempre sempre aparecendo na minha cabeça as palavras mágicas a ti dedicadas
da tua descrição do tempo em que, com um projeccionista teu conhecido, organizavam sessões de cinema ao ar livre, a rua que vai das traseiras da igreja antiga para a casa que foi dos teus pais servindo de plateia, as cadeiras pedidas emprestadas na escola de música que era ali ao lado, creio
sim, lembro-me. sim, recordo-me. sim, recordo-te. sim, recordo-nos.
chamas-te álvaro henriques de oliveira e silva.
no sábado, 30 de junho de 2007, terias feito 100 anos.
que digo..
no sábado, 30 de junho de 2007, fizeste 100 anos.
obrigado, avô.