31 janeiro 2008

30 janeiro 2008




pedaços de vinil com lama

(..)

o que me comove, passado tanto
tempo, é perceber que fiz a esse disco
o mesmo que faço e volto a fazer
aos corpos que julgo amar:

parti-los muito devagar, para
que doam sempre um pouco mais.



opus 78


(..)

IV. alegretto

não esperes que te ajude o cavaleiro
andante ou — menos ainda — a música.

cresceste demasiado, o teu corpo
não cabe no teu corpo e o amor

(ah, o amor) ajuda mas não salva.

— vem comigo partir estes pinhões,
sob o esboroado cor-de-rosa das paredes.
os cavalos, acredita, não te farão mal.

depois das laranjeiras havia um tanque,
depois do tanque um jardim. mas
de pouco te serve dizê-lo, agora que tratas

por tu a mais íntima distância do que foste.



manuel de freitas


[passo por ti, de vez em quando. da última vez, de relance, os meus sentidos captaram-te, acompanhado do jorge silva melo - mas seria mesmo ele? - e de outro comparsa de esplanada, discutindo, pareceu-me a mim que passava em passo estugado, editoras, livros, coisas assim. eras aquela pessoa, naquele exacto momento fotográfico: uma pessoa amena numa amena cavaqueira de final de tarde. doutras vezes, encontro-te a almoçar, invariavelmente sózinho (tu; eu também, mas de outra maneira). existem ainda os livros, onde, de forma bissexta - que é para não desabar -, me encontro com os teus escritos. coisas tocadas pela graça dos caídos, pela beleza própria que tem o grão de sujidade. dizem os entendidos que poesia como a tua é ar do tempo, que é quase um mero produto da pós-modernidade desencantada, da falta de spleen adolescente descompensada, ainda mais, por uma angústia urbana, triste, miserabilista. eles dizem essas coisas e eu apetece-me enfiar-lhes um murro no focinho - desculpa eu não costumo escrever assim. são sete da tarde, pela janela do gabinetezinho vejo a noite descendente. penso numa coisa simples: afinal, qual dos manueis serás tu? há ainda o crítico que escreve no semanário do regime, afinal deves ser para aí 5 ou 6, meia-dúzia seguramente.. será que também tu me vês assim? será que os outros me vêem assim, desmultiplicado? será que também eu não sou mais do que pó do tempo, escrevinhando num registo piegas e patético (verista, para dar patine à coisa)? ou será que.. releio as tuas palavras, retiradas desse moderno oráculo que é a internet. não é maravilhoso o presente? esta sensação de velocidade! um léxico novo! as tecnologias que farão enfim cantar os amanhãs! tu sabes do que falo. sabes, manel, apetece-me enfiar-te um murro nas trombas, por espetares o dedo na ferida! por me obrigares a sentir. por afastares da minha mão suplicante os analgésicos de ocasião. isso não te perdôo; nem a ti, nem aos teus companheiros de luta. os poetas, os estetas, essa malta toda. gente triste, gente deprimente. gente como a gente. tudo se perdôa, até o amor despedaçado. tudo. tudo menos essa pôrra do espelho - o espelho não, o espelho não, o espelho não.]



i was in the coal mine picking up diamonds
that the miners had left behind, behind, behind
and i admired their cold shine
simple & bright
and i pocketed many in the cavernous night
clear, when held up to the light

you belong to no one
you are easy to be around
cuz you belong to no one
you are easy to be around
cuz you belong to no one
you are easy to be around

and i scattered them on the ground...

in the wake of your eyes it decays
you despise any weight
and because and because
and because you give it up
you are easy to be around
i like to walk beside you
y're so easy to be around
it's like i'm not even walking beside you
we are rolling along the ground
one shadow made of mercury
we were two till we melted down
now y're easy to be around

y're easy to be around...

i was in the coal mine picking up diamonds
so heavy i had to leave them all behind
coming up from the mineshaft
sparkling bright
see me laughing having nothing in an infinite night
clear, and dangling in the light

same as what you came with
makes you easy to be around
cuz the door remains the same width
y're so easy to be around
both forgetting what our name is
in a dance as the sun goes down

you are easy to be around
y're easy to be around
y're easy to be around
y're easy to be around


diane cluck

suzanne vega, 'marlene on the wall'


marlene watches from the wall
her mocking smile says it all
as she records the rise and fall
of every man who's been here

but the only one here now is me
i'm fighting things i cannot see




suzanne vega, 'caramel'

29 janeiro 2008

estação de inverno: 13-ª estação

hoje, a décima terceira estação de inverno.


a poesia 'sem artifício' de helga moreira.

e as canções, só aparentemente simples, da menina suzanne vega.

uma hora em que revelaremos algumas pequenas estrelas sonoras, raramente escutadas.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

28 janeiro 2008

atenção! muita atenção!




a rádio zero acaba de anunciar que está receptiva a novas propostas para programas! para celebrar o seu aniversário (início de março), pretende arrancar com novos formatos.

amigas & amigos: esta pode ser a V/ oportunidade!

mais informações no site da rádio zero.


(voltarei a dar notícias sobre este assunto)




Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra

Dia 16 de Fevereiro 08, 21h30

Indie Folk TAGV: Ola Podrida [EUA] + Magic Arm [Inglaterra]


No dia 16 de Fevereiro, o palco do Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, recebe dois projectos sob o signo da etiqueta indie. Dois nomes que, apesar de separados pela sua geografia e pelos diferentes territórios sonoros que exploram, partilham a mesma liberdade criativa e descomprometimento comercial. Tanto a folk dos Ola Podrida como a pop electrónica de Magic Arm comportam poucos recursos para além da criatividade e engenho dos seus autores. No palco não existem fugas. Subsiste a autenticidade que acompanha as suas composições desde o primeiro momento, que as resgatou de um quarto, no qual sobreviveram ao longo de meses, num registo confessional e despojado. No palco existe o erro.


Ola Podrida [EUA]

Fly over America. Um vasto território que se perde de vista, percorrido pelas personagens que habitam as composições de David Wingo, presas às suas próprias frustrações, incapazes de partir. As suas pequenas histórias foram traçadas ao longo dos anos na cidade de Austin, quando ainda dividia os seus dias entre o balcão de um clube de vídeo e a composição da banda sonora de George Washington, filme realizado pelo seu amigo David Gordon Greene. De capital relevância no surgimento dos Ola Podrida, as colaborações entre ambos sucederam-se, conferindo hoje uma forte marca cinematográfica à lírica de David Wingo. Em 2007, após ter-se mudado para Nova Iorque, edita pela Plug Research o seu primeiro trabalho enquanto Ola Podrida, projecto de indie folk que conta com a colaboração de vários músicos, entre os quais Andrew Kenny dos American Analog Set. Bastante aclamado pela crítica, que o compara a Iron & Wine e Sufjan Stevens, transpõe para o presente a tradição da folk norte americana, cujo despojamento encerra uma sonoridade acústica, pontuada por banjos, bateria e pela voz de David Wingo, num registo de storyteller que não perdeu, após partir para a grande metrópole…No TAGV estará acompanhado pelo baterista Matthew Frank, numa formação reduzida do projecto.

Discografia
Ola Podrida: “Ola Podrida” [ed. Plug Research, 2007]
Site Oficial
www.myspace.com/olapodrida


Magic Arm [Inglaterra]

Há alguns meses, o grupo Grizzly Bear, através do seu site oficial, chamava à atenção para um projecto denominado Magic Arm, reputando-o como “stunning”. Pouco se sabe hoje sobre Marc Rigelsford, o jovem compositor britânico que assina enquanto Magic Arm. Oriundo de Manchester, editou em 2007 um EP intitulado Outdoor Games que, para além de ter chamado a atenção da reputada banda nova iorquina, também recolheu críticas favoráveis em publicações como o The Guardian. Na antecâmara do seu primeiro longa duração, traz-nos uma indie pop dominada por elementos electrónicos, construída em laboratório, mas de forma alguma fria. Cada faixa é portadora do legado musical de Manchester, e não poucas vezes são convocados os Stone Roses ou os Happy Mondays. As vocalizações de Rigelsford acompanham a métrica dos instrumentos usados, recorrendo a máquinas de escrever, relógios e teclados vintage. Em Magic Arm tudo é meticulosamente programado, num crescendo cadenciado e dirigido por um só homem.

Discografia
Magic Arm: “Outdoor Games EP” [ed. Switchflicker, 2007]
Sites Oficiais
www.magicarm.co.uk
www.myspace.com/magicarm


Preçário:
Preço normal 10,00€
Preço estudante e sénior 8,00€
Preço Amigo/a TAGV 5,00€


Para mais informações contactar:
Serviços Artísticos e de Produção
Teresa Santos
Tel. _ 239 855630
Fax_ 239 855637
E-mail: s.artisticos@tagv.uc.pt
URL: http://www.uc.pt/tagv


Teatro Académico de Gil Vicente
Praça da República _ 3000-343 Coimbra
Tel.: +351 239 855630 _ Fax: +351 239 855637
E-mail: teatro@tagv.uc.pt
Url: www.uc.pt/tagv
Blog: http://blogtagv.blogspot.com/


Porém, a coisa não fica pelo concerto... para além de uma after-party no Salão Brazil, terá lugar uma conversa aberta ao público intitulada "Os territórios indie e as suas fronteiras".

Convidados: valter hugo mãe - escritor, editor, bloguer, vencedor do prémio Saramago de 2007 -, João Bonifácio (do Y - jornal 'Público'), Rodrigo Cardoso ('lead manager' da Borland) e Rita Moreira (voz da Oxigénio). A moderação da coisa vai ser da responsabilidade do Pedro Sousa e da Carla Lopes (ambos da organização do evento).

Sobre a temática, há pano para mangas: definição da etiqueta indie, o que a caracteriza, se poderemos definir um estilo como sendo indie, qual a relação entre as ditas bandas e o mainstream, outras formas artísticas catalogadas como tal, quais as linhas estéticas, a chuva de publicações e de etiquetas disponíveis na Internet que vieram por arrasto, a forma de publicar os discos, como subcultura de que forma se diferencia das outras subculturas..

A conversa acontecerá às 15 horas, no dia do concerto, no Foyer do Teatro Gil Vicente.

26 janeiro 2008




gosto de ti, pá.
e eu, quando gosto..
amor & arte.

nada mais cabe na barca sem rumo.
amor & arte.

nada mais cabe na barca sem rumo.



tudo não passa de um batel deserto a cantar a noite cega
e cerrada no mar do norte

lívidas flores vogam na barca sem remo



joão miguel fernandes jorge

um nome



Christopher McCandless

rem, 'why not smile'

24 janeiro 2008

das personagens (& dessa coisa que é o olhar)

o homem de cor que, pelo vidro modesto, olha o par de botas desejadas, engendrando mentalmente uma estratégia económica para as poder, um dia destes, vir a orgulhosamente usar.

o velho homem humilde, de sobretudo honrado, caminhando pela rua com o velho rádio-transístor enfiado num bolso, espécie de walkman do antigamente, em contra-ciclo com o e.mundo 2.0. (lê-se imundo, não é?).

a mulher com os dois miúdos, um conduzindo freneticamente o outro que, sentado num carrinho de bebé ostensivamente pequeno já para a sua idade, uiva de prazer, enquanto o irmão mais velho se imagina pilotando um fórmula 1, rua fora, noite dentro. os caixotes do lixo remexidos por este improvável trio ficaram já lá atrás, ao passo que o sonho segue com eles ("God is their co-pilot" - i wish).

as meninas brasileiras, espalhando charme pelo ar, naquele jeito gingão de marcar a diferença (mesmo num país tristonho, a alegria é sempre possível).

a jovem mulher, estranhamente infantil, nos seus passos de karaté contra o ar, brincando com a miúda, à porta do coliseu. a miúda, estranhamente adulta, no seu porte e roupinha desfasada da idade (mesmo que aceitando e entrando na brincadeira).

o arco do tronco envergonhado onde, há tantos anos, luis vaz de camões foi preso, por 'participar numa arruaça'.


'se a encostares ao ouvido, ouve-se o mar
o que é preciso é saber escutar'
(jorge de sousa braga).


e ver, jorge. e ver.

23 janeiro 2008

no retrovisor de partículas mágicas




'se tu és um tipo inteiro, vais passar um mau bocado'

(premonitórias palavras, premonitórias palavras..)

22 janeiro 2008

hoje

um dos discos de que se fala (hyperdub they say..)

estação de inverno: 12-ª estação (será desta?)

hoje, a décima segunda estação de inverno.


a poesia em fogo lento de jorge de sousa braga.

e labaredas de electricidade à solta numa noite cheia de 'angst e teenage kicks'.

esperemos que seja desta :-)


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

21 janeiro 2008

para a história que um dia se contar dessa coisa chamada 'música pop', algures bem no cimo da gaveta 'ultra-românticos' estará esta cançãozinha.

the triffids, 'bury me deep in love'.
eram os anos 80.
e éramos nós com eles e neles. e eles em nós.




bem-vindos!

[um segredo: os livrinhos vindos deste planeta são assim uma delícia - lindos, lindos, lindos. são escritos, aposto, com a ternura que reservamos para aquelas pessoas de quem gostamos muito, muito, muito! mas isto sou só eu a falar. o melhor é verem mesmo com o coração dos vossos olhos.. ah, e claro, a tangerina é, sem dúvida, um fruto da família da laranjeira (de que fala don antónio, no poeminha que serve de epígrafe ao jardim..)]



in everyone there sleeps
a sense of life lived according to love.
to some it means the difference they could make
by loving others, but across most it sweeps
as all they might have done had they been loved.
that nothing cures.



philip larkin



uma rapariga no inverno será uma rapariga à espera do verão?

20 janeiro 2008

uma flor


julie doiron, 'snow falls in november'

isto sim, é uma canção de inverno..

engraçado como a palavra inverno se transforma lentamente numa espécie de humilde marca registada: flores primeiro; estação depois. que se seguirá?
um escritor daqueles a sério escreveu um livrinho a que chamou 'uma rapariga no inverno'. é isso, o nome verdadeiro deste 'projecto' é, com a devida vénia, 'um rapaz no inverno'. e se não é, passa a ser. por decreto do gi.

um:rapaz:no:inverno@lisboa.pt


[ainda ouvirão falar disto, se a voz me não doer].

16 janeiro 2008

you go back to her
and i go back to.. black


[diz a miúda. e ela tem cara de quem faz por saber o que diz.]


estação de inverno: 12-ª estação

por razões de índole técnica, não foi possível passar ontem o programa anunciado (jorge de sousa braga). em sua substituição, passou a repetição da 11-ª estação de inverno (rosa alice branco).

as nossas desculpas, aos 5 ouvintes que estavam a escutar o programa.

assim que possível, informaremos quando passa a prometida 12-ª sessão (se no Domingo, 19h-20h; se na próxima Terça-Feira, no horário das 23h-24h).

muito gratos pela V/ compreensão.

15 janeiro 2008

estação de inverno: 12-ª estação

hoje, a décima segunda estação de inverno.


a poesia em fogo lento de jorge de sousa braga.

e labaredas de electricidade à solta numa noite cheia de 'angst e teenage kicks'.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

14 janeiro 2008

heil to the thief!
ave césar, os que vão morrer te saúdam!
salve sire, os que vais matar se ajoelham a teus pés!

you, f*****g thief; you, f*****g césar; you, f*****g sire.
you, the biggest liar of them all.
em menino, à volta da lareira-com-L, rezava-se o terço. coisas de família, pelo menos da sua família. heranças vindas dos confins dos tempos, construídas de acordo com o tempo e o modo e as convicções. fortaleza e esperança.
os terços dividem-se em 'mistérios' (grupo composto por 1 Pai-Nosso e 10 Avé-Marias), as quais se rezam após uma 'jaculatória', a qual é uma espécie de pequena profissão de fé renovada e, ao mesmo tempo, uma 'declaração de intenção'.
os mistérios (em número de 5, por cada terço rezado), por sua vez, obedecem a uma calendarização semanal: consoante o dia em que se reza, assim deverão presidir ao terço os chamados mistérios 'gozosos' (de alegria), 'gloriosos', 'dolorosos', 'luminosos'). o sentido deste detalhe prende-se com o tempo em que era comum rezar terço todos os dias. conseguia-se, por via de uma espécie de escala ordenada dos 'mistérios', renovar as intenções, por assim dizer. era o tempo em que se rezava em largo espectro..

para ajudar a rezar o terço oração, surgiu o terço objecto - constituído por conjuntos de 5 Avé-Marias, separados por marcadores de Pai-Nosso e, se a memória não nos atraiçoa, ainda por algumas contas representando as orações iniciais e finais. as contas, tais como na joalharia e nos mecanismos aritméticos antigos, representam unidades (no caso, uma unidade equivale a uma unidade-oração).

..

as pessoas dividem-se em dois grupos.

há um grupo de pessoas que nunca se esquece de que o terço são elas próprias. para estas, as pessoas com que se cruzam, serão assim uma espécie de contas. cada uma vale por si, naturalmente, mas o mistério não está em cada uma delas individualmente. são uma peça de uma coisa maior.

e há um segundo grupo de pessoas para as quais cada pessoa com quem se cruzam é um terço completo, um conjunto de mistérios, com características quase 'definitivas'. estas pessoas olham para os outros e neles investem o tempo de um rosário (oração, em traços simples, agregando três terços) e a intenção de um rosário (reparem como se pode também dizer que três terços = 1/3 + 1/3 + 1/3 = uma unidade = 100% = TUDO).
é assim natural, que TODOS os mistérios do terço oração ('gloriosos', 'gozosos', 'dolorosos', 'luminosos') se cruzem, se entreteçam entre si, muitas vezes se repitam, constituindo, de forma figurada, 'tecidos de mistérios' com padrões muito complexos. estas pessoas são aquelas para as quais cada ser humano é uma cordilheira imensa de vales e planaltos, de rios e lagos, de céus e sombras; estas pessoas como que nascem, vivem e morrem em cada pessoa em que tropeçam.

esta é uma diferença fundamental entre as pessoas. e é curioso, muito curioso, que a chave, o 'insight', seja de ordem religiosa.

é preciso entender ISTO, para se poder SEGUIR viagem.

13 janeiro 2008

but i guess it's right
to love the girls who fight.


kurt wagner
no guichet, dois livrinhos de senhas.
o dos os amorosos anónimos.
e aquele outro, o dos desamorosos anónimos.
o amor compulsivo, embriagante, vinho de lírio.
e a falta dele, a fuga sem fim (como no filme com o river phoenix).
há dias assim.
nem na porra do guichet acertamos, quanto mais na vida.

'oh, rapaz, grande azar seria
não acertares na vida
e acertares na pontaria.
(alexandre o'neill)'


no dia em que amamos, nesse dia começamos a perder.
no dia em que nascemos, nesse dia começamos a morrer.
eros & thanatos, contado aos ímpios. e às criancinhas.

[perdoai-lhe, coração-nosso-que-estás-cá-dentro, que ele não sabe do que fala, que ele não sabe o que diz.]
as noites brancas.
a noite em branco.
o sonho em osmose.
o sonho ou a vida! - ordena o ladrão de esquina.
(a vida sem sonho? de que serve?)
(o sonho sem vida? improvável ser vivido, não é?)
o sonho ou a vida, rápido, rápido - comanda a voz tonitruante.
e nós agachados, agarrados, tremendo por dentro e fingindo por fora, lá balbuciamos qualquer coisa, naquela esperança desalentada dos que abdicam.
o sonho e a vida, lê-se no neón em frente, letras em cor-de-rosa choque.
voilá.
oh, como dizia um dos poetas de inverno, 'fantasmas do reino animal', sombras do reino animal, rios venenosos que correm em mim: quando deixais de me assombrar? nunca, nunca, nunca. para sempre, esta valsa de um só homem, esta decadente feira de santelmo, estas coisas aos tropeções.
oh, poeta invernal, porque é que cá dentro tenho 'um homem fora do sítio'? até quando, até quando, até quando?
de vergílio, comecei apenas um livro, que logo interrompi. 'para sempre' é muito tempo. 'para sempre' é mais tempo do que podemos suportar. por isso, fiquei na página vinte e cinco (ou trinta, por aí).

eu que leio todos os livros
eu que mergulho verticalmente
eu que perco o pé
que me perco.

lost at last?
antes fosse, lust.
mas talvez lust seja o abracadabra que tudo fecha.
lust in translation.
lost, portanto.
the let go.
letting go.
o ponto final termina exactamente no mesmo 'spot' da página. deve ser por acaso, claro está.
aforismos de pacotilha.
mastigar e deitar fora, mas sorver o voluptuoso sabor da goma (do açúcar artificial, melhor dizendo) na boca. (tudo na vida por um segundo, não é don antónio?).

uma fatia de lombo não é um lombo em fatias - ou de como um plural subtil muda tudo, mesmo numa realidade nada subtil.

no singular, é tudo mais difícil. muito mais difícil. e muito menos. ou então é a fome que tolda o discernimento.
das noites, nem sempre mais belas que os nossos dias, se dizem coisas.
nunca encontrei algumas 'dessas coisas' - 'essas coisas' que se dizem das noites (provavelmente durante as próprias noites).

eu gosto mais de dizer:

de noite, todas as gatas são pardas.
de noite, todos os gajos são parvos.

quer dizer: não é propriamente gostar. é mais constatar. e dizê-lo para lembrar.

as palavras

maturidade & liberdade.
a minha prenda para ti.
gosto de um disco de uma banda de rapazes, 'dashboard confessional'.
podia ser o nome deste jardim - dashboard + confessional. por vezes, dashboring. mas isto, claro, é só alguém de quem não gosto a falar de mim. a parte de mim que não gosta de mim a falar de mim. não é para perceber. nem sempre é para perceber. nem sempre é possível perceber.

12 janeiro 2008

meus amigos, se eu vos dissesse o quanto gosto desta canção
meus amigos, se eu vos dissesse os sonhos que esta música guarda
meus amigos, se eu vos dissesse que ainda hoje morro de comoção
meus amigos, se eu vos dissesse que isto mostra o poder da música popular (não erudita)
meus amigos, se eu vos dissesse o quanto_________________________________


11 janeiro 2008

(post-scriptum)

o do amor


espaço sem portas, sem estradas, o do amor.

o primeiro desejo dos amantes

é serem velhos amantes.

e começarem assim

o amor pelo fim.


regina guimarães

para ouvir sempre e sempre e sempre e sempre..

09 janeiro 2008

branco, alice? rosa, alice? rosa, alice, branco; branco-rosa, alice.


A TUA PELE DESCALÇA

veio uma onda . a varrer o meu sono .
caminhava nele como caminho na areia .
nada me une ou divide. nada me retém.
sentas-te onde me sento no teu colo
e peço sempre a mesma história . a tua voz
cria as memórias que hei-de ter . por agora
caminho ao longo das gaivotas e grito como elas
quando a maré baixa . às vezes apoio-me num rochedo
para dizer “casa” e logo desmorono. sigo descalça
como tu para dizer “seguimos”. mas são apenas sons
sob o sol de maio. murmúrios do que não serei.
sempre tive problemas com o verbo ser. faço
e desfaço as malas, entro e saio das gavetas.
pausa na camisa que vestiste da última vez.
uma vontade de a amarrotar, desapertar os botões
e sentir lá dentro a tua pele cá fora.
tudo isto é tão verdade como podem ser os botões
de uma camisa escrita. confesso que não pensei na cor,
ou se era às riscas. agora acho que podia ser a de quadrados.
em qualquer delas a tua pele entra na minha.


RETRATO PUÍDO NAS ENTRANHAS

palmeiras inclinadas. ao longe o casario.
é na água que o vejo, que sinto a cidade acordar.
mais uma mulher que olha o rio. tenho as mãos desatadas,
os pés a caminho. as margens alargam quando estou perto,
mas do outro lado as mulheres não reflectem
o rosto ou mesmo a sua ausência.
são matéria do verbo fazer e caminham junto ao chão,
na curva da noite para o marido. gastos os sonhos por usar.
descorado pano que ficou ao sol. nelas a cidade não acorda,
não regressam os barcos à tardinha.
vêm pela beira dos caminhos, a tristeza amável,
a raiva cega e às vezes um sorriso que sacode os ombros
porque até a tristeza tem um custo, uma esperança
na sola do sapato. vejo-as todos os dias e é como se a vida
me atasse os pés, me anelasse os dedos. como eu,
outras mulheres olhando o rio, desbordando o pano,
descozendo a sopa. ama-se o homem que vira a esquina
connosco e sabe que não podemos fingir que a ferida
está fechada. as casas acendem.
é na água que vejo a sua luz descendo o rio.
as mulheres passam em silêncio para as casas,
atravessam a pele – deixam um retrato puído nas entranhas.
olho o rio e não sei fingir que finjo tanto mar.


rosa alice branco

08 janeiro 2008

estação de inverno: 11-ª estação

hoje, a décima primeira estação de inverno.


a poesia à flor da pele de rosa alice branco.

e as assombrosas versões de susanna e sua orquestra mágica.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

06 janeiro 2008

05 janeiro 2008

shriekback - 'faded flowers' (clássicos cá de casa)

título do ano (& outras coisas mais)



yes,

'the past is a grotesque animal'.

--------------

the past is a grotesque animal
and in its eyes you see
how completely wrong you can be
how completely wrong you can be

the sun is out, it melts the snow that fell yesterday
makes you wonder why it bothered

i fell in love with the first cute girl that i met
who could appreciate georges bataille
standing at swedish festival discussing "story of the eye"
discussing "story of the eye"

it's so embarrassing to need someone like i do you
how can i explain, i need you here and not here too
how can I explain, i need you here and not here too

i'm flunking out, i'm flunking out, i'm gone, i'm just gone
but at least I author my own disaster
at least i author my own disaster

performance breakdown and i don't want to hear it
i'm just not available
things could be different but they're not
things could be different but they're not

the mousy girl screams, "violence! violence!"
the mousy girl screams, "violence! violence!"
she gets hysterical because they're both so mean
and it's my favorite scene
but the cruelty's so predictable
it makes you sad on the stage
though our love project has so much potential
but it's like we weren't made for this world
(though i wouldn't really want to meet someone who was)

do i have to scream in your face?
i've been dodging lamps and vegetables
throw it all in my face, i don't care

let's just have some fun
let's tear this shit apart
let's tear the fucking house apart
let's tear our fucking bodies apart
but let's just have some fun

somehow you've red-rovered the gestapo circling my heart
and nothing can defeat you
no death, no ugly world

you've lived so brightly
you've altered everything
i find myself searching for old selves
while speeding forward through the plate glass of maturing cells

i've played the unraveler, the parhelion
but even apocalypse is fleeting
there's no death, no ugly world

sometimes i wonder if you're mythologizing me like i do you
mythologizing me like i do you

we want our film to be beautiful, not realistic
perceive me in the radiance of terror dreams
and you can betray me
you can, you can betray me

but teach me something wonderful
crown my head, crowd my head
with your lilting effects
project your fears on to me, i need to view them
see, there's nothing to them
i promise you, there's nothing to them

i'm so touched by your goodness
you make me feel so criminal
how do you keep it together?
i'm all, all unraveled

but you know, no matter where we are
we're always touching by underground wires

i've explored you with the detachment of an analyst
but most nights we've raided the same kingdoms
and none of our secrets are physical
none of our secrets are physical
none of our secrets are physical now

----------------

[ao dia 5, tropeço n@ minha canção do ano 2008.
que é também @ minha canção sobre o meu ano 2007.
ai, ai.]

04 janeiro 2008



evidência do dia: 'i don't live here anymore'.

(coisas que acontecem; coisas que se nos revelam.)

o rapaz que fazia livros

a escrita de obituários é uma arte agridoce. tradição muito presente na imprensa anglo-saxónica, encontra em portugal poucos cultores do género e ainda menos pessoas verdadeiramente capazes de a levar a bom porto, sem cair no panegírico puro e simples ou, nos antípodas, num factualismo quase frio.
um dos bons escritores de obituários é o nosso antigo diplomata josé cutileiro que, semana após semana, nos brinda nas páginas do jornal 'expresso' com textos que, só por si, valem meio jornal. assinalar a morte, brindando à vida, por assim dizer.
isto tudo serve de introdução (e de preparação) para partilhar convosco a nota escrita hoje mesmo, no segundo caderno do jornal 'público', pelo jorge silva melo, a propósito da morte de olímpio ferreira, um dos grandes paginadores portugueses da última década, apesar da sua juventude.
talvez agora que estudo 'edição de livros' esteja mais desperto para estas coisas - quantos de nós sabemos o que é um paginador e a sua imprescindível função para que possamos ter o prazer de ler um livrinho?
mas o importante não é isso. o importante é nós lermos as palavras - tingidas pela dor e pela emoção - do jorge silva melo e percebermos que este era um rapaz que valia a pena.
morreu com 40 anos, de forma inesperada.
e era um 'rapaz que fazia livros' - que coisa mais bonita de se dizer!

[image created by digital architecture, isao nagaoka and joe henke - new york]


sometimes we lock ourselves in the 'waiting room'.
now what? is there a key inside? or is it 'simply' a matter of faith in the path of time?
we should remind ourselves that in 'waiting room'.. we wait.
perhaps for a different self.
perhaps for the right tune.
perhaps, perhaps, perhaps (just like the song).


03 janeiro 2008

02 janeiro 2008

sadness in his eyes says it all

Definha à espera de investidores


Os antigos sanatórios, mas também casas, terrenos, lojas e edifícios, estão à venda ou ao abandono. Aquela que foi a única vila portuguesa planeada de raiz perdeu o brilho de outrora e está hoje praticamente abandonada.

A vila foi criada em 1921 e foi a primeira do País a dispor de saneamento básico e electricidade. Nasceu para cuidar dos tuberculosos mas com a erradicação da doença a estância foi desactivada e aos poucos foram sendo encerrados e abandonados os 19 sanatórios que acolhiam doentes de todo o País. A situação é lamentada pelo presidente da Junta de Freguesia: "temos um ar de abandono e desmazelo que nada condiz com a beleza desta serra", afirma o autarca. Reconhece que, apesar de procurar não existem investidores. "Nem mesmo o Estado quer saber disto", desabafa.

Na vila silenciosa, três das placas que apregoam 'Vende-se' encimam sanatórios: o da Bela Vista, pertença de um médico de Coimbra; a "Antiga Zona", nome que os locais deram ao sanatório que funcionava como bloco operatório, propriedade de uma empresa de Albergaria-a-Velha; já o Sanatório Central foi comprado aos antigos donos pelos proprietários de um café na vila que agora se querem desfazer dele.

Um agente imobiliário da cidade mais próxima consultado pelo DN aponta valores na casa dos "400 mil euros para o sanatório Central e 150 mil para o da Bela Vista".

Já o Sanatório Salazar deu lugar a um Hotel. Dois outros sanatórios foram transformados em casas de habitação. Outros três foram convertidos em lares para idosos. Um recebe doentes com problemas psiquiátricos. Existe ainda um que é propriedade da Opus Dei e onde a ordem realiza retiros e encontros. Três foram demolidos. Os restantes permanecem abandonados, emparedados e à espera de investidores que tragam melhores dias.

O Sanatório Infantil, propriedade do Ministério da Saúde, é um dos que estão ao abandono e, pese embora o esforço na busca de soluções para o edifício por parte do presidente da Junta, "o Estado demorou três anos a responder-me". Para me dizer que estavam a analisar o processo. Entretanto o sanatório vai ruindo", desabafa.

Também o pequeno comércio, habitações e terrenos estão à venda. "Os preços são exorbitantes. Um café, degradado e que precisa de grandes obras chega a custar 50 mil euros. Uma casa a precisar de obras totais pode custar 60 mil euros", refere o agente imobiliário.

Apenas o Grande Sanatório, propriedade de uma importante família local, vai sendo usado para fins culturais. São os proprietários da sociedade que detém o que resta do espólio dos sanatórios e aguardam por investidores que "queiram rentabilizar este património". Entretanto o abandono alastra: terrenos inundados de mato, comércio decadente, casas emparedadas.


in, Diário de Notícias, 31.12.07
(ligeiramente editado)

01 janeiro 2008

estação de inverno: 10-ª estação

hoje, a décima estação de inverno.


a poesia a rebentar de ternura de alexandre o'neill.

e as canções 'alt.country.broken.heart' de ryan adams.

Feliz Ano Novo.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]



stay down, champion, stay down.
let them @ll have your neck.



the national, in 'boxer' (frase escrita no interior do cd)
[já agora, um dos disquitos do meu ano]

feliz ano novo (& uma reprise (em solo absoluto))