29 fevereiro 2012


two months now, my best unbeaten brother, on the dark side of the moon.
fortunately, we both know how to sing the song.
fortunately, we both have deep within blake's view.

28 fevereiro 2012


on the road, again.
but this time not with my friend.

27 fevereiro 2012

repara: este imenso adeus, como nos livros de chandler, tem em si uma coisa bonita e generosa: aqui e ali, ali e aqui, deixo-te um conjunto de palavras incendiárias, e incendiadas: uma herança afectiva, preciosa, para que, também tu que me lês, possas retirar do deserto alheio o seu sumo mais sagrado: repara neste imenso adeus, com olhos humildes: só assim poderás aprender com a dor e a glória alheia, mais do que fruir da palavra pela palavra - o que seria porventura prazeiroso, mas estéril: glória e eternidade ao amor, pelos séculos dos séculos? então: tens que aprender, como eu tive que aprender, the harder it takes, the better it gets, my dear reader: código de aprendizagem do amor do século XXI, mas não o amor em si: esse, é como a chuva que aquece, o frio que queima, a palavra que se sente: repara, um milagre, repara: outra coisa não é o amor. vai-te a ele. vai-te agora. vai.

26 fevereiro 2012


não decerto migalhas,
tu que olhas por mim.

17 fevereiro 2012



the ghost
of you
l
i
n
g
e
r
s
.
.
.
.
.
.
.
.

15 fevereiro 2012



twenty commandments for today (and quite possibly for tomorrow)


no pressure
smiles everywhere
napalm of flowers
gentle assertiveness
respect all the time
avoid negativism
nurture positivism
play today
each and every day can be a start
surprise but do not over-surprise
confident and steady
fight back the pain with sugar and books
follow the inner truth
trust yourself
trust the other
no claims
no promises
follow and lead, naturally
no must’s, please
simplicity is all around




well you're a wild horse

on a collision course
with the sun

14 fevereiro 2012

12 fevereiro 2012

09 fevereiro 2012

07 fevereiro 2012

cadernos andaluzes
(in memoriam)

III. la posada de manolo

no topo do mundo, segredavas-me ao ouvido,
instalados nesse maravilhoso pátio
de onde avistávamos o mundo, inteirinho,
como se pela primeira vez, outra vez.

o sol caía sobre as nossas cabeças despenteadas,
o ar próprio da estação inundava-nos daquele
estranho júbilo a que, em dias serenos,
bem podemos chamar paz.

no topo do mundo, como outrora decerto,
os limites do mundo eram automáticos,
o que a vista alcançava,
nem mais, nem menos, nem diferente.

a justa medida é uma ciência, e das finas,
como esse espinhoso caminho
que é sempre o do equilíbrio
(como desenhar os contornos de algo assim abstracto?).

no topo do mundo, existiam cores, aromas,
todos os sentidos fundidos a frio e a quente
como se alta cozinha molecular e sápida cozinha caseira
se encontrassem finalmente, num nec plus ultra improvável.

do prédio ao lado, coisas da vida que nunca entenderemos,
saía o som perfeito de uma juvenil orquestra sinfónica
ensaiando a preceito alguma grande gala.

star wars
, indiana jones, bandas sonoras cinéfilas assim,
inundavam ruas, praças, veredas - até o topo do mundo
que neste preciso momento recupero e reivento
para fugaz deleite de dois ou três leitores.

em toledo, na posada de manolo,
recebi uma lição nada menosprezável:
até às cidades feias deves dar a tua oportunidade.

em toledo, no topo do mundo,
tudo isto aconteceu de verdade,
como se este poema enxuto de metáforas
fosse um quase relato da vida tal e qual.

tudo isto aconteceu. ou quase tudo.
não me segredaste ao ouvido,
porque não estavas lá.

sózinho, no topo do mundo,
- que triste e certeiro remate para um poema.

ou para uma vida.

06 fevereiro 2012

cadernos andaluzes
(in memoriam)

II. coitadinho dele

adoro a vida que tenho, não me esqueço de o dizer a mim própria, a cada manhã que Deus me concede. bem sei que sou pouco exigente, para os dias que correm. uma velha pateta, sofrida, pobremente vestida - decerto que é assim que me retratam, virando costas com a displicência e a alegria que a juventude, a beleza física, o dinheirito no bolso, normalmente trazem consigo. quem os censura? não eu. não eu. todos os dias carrego comigo, como esta cidade que me viu nascer, viver e onde provavelmente morrerei, a memória dos dias de antigamente. como quando, a partir desta cidade, os mouros ou lá o que eram, dominavam parte importante do que hoje é este país. provavelmente tenho sangue deles, talvez sim. nunca estudei, não sei explicar estas coisas, o ar torrado que os rapazes, em nova, diziam que eu tinha. esplendor (aprendi com um senhor, no outro dia, esta palavra) - ou não será esplendor sentirmo-nos jovens e amadas pelos rapazes da terra? cada qual sabe de si, mas, para mim, isso foi o melhor que tive, até hoje. agora a vida é outra, num rame-rame próprio dos velhos, dos que não contam para as contas. graças a Deus que o tino ainda ficou aqui na cabecinha. e é por isso, se querem saber, que ainda me mantenho viva. todos os dias, à força de pernas e braços, desço do bairro e instalo-me nas ruas mais movimentadas, onde vendo os chocolates, os rebuçados, os doces, que turistas (muitos) e companheiros de luta (poucos) me vão comprando. no dia em que parar, não duro duas estações, é como digo. a sorte de ter uma ocupação, a sorte de ter o que fazer, e o dinheirinho que sempre ajuda a manter a casa arrumada, uma roupita limpa, a pôr comida na mesa. coisas que quem me compra os doces provavelmente não entenderá, mas também para que é que seria preciso que entendessem, bem vistas as coisas? cada um na sua, aprendi com a senhora minhã mãe (Deus a guarde, pobrezinha), que uns nascem para serem poucochinho, mas que talvez haja uma razão para isso. cala-te, mulher, que sabes tu da vida? tantas vezes o teu pai (Deus o guarde, pobrezinho) te deu nas mãos, por meteres o bedelho onde não és, nem nunca foste, chamada. cala-te, mulher. adoro a vida que tenho, já vos disse? podia ser melhor, claro que sim. para outros, mas não para mim. gosto de me levantar bem cedo, de cruzar as ruas com os turistas que querem ver o palácio em sentido contrário. não há lá nada, já morreu tudo, mas querem ver, dizem que é um monumento importante. não sei, nunca estudei, mal sei ler. dizem que sim, que é, e eu acredito. levanto-me cedo, desço do bairro, dou uns dedos de conversa a quem calha, monto a tenda devagarinho, numa sombra que dê jeito e traga gente, e sigo o dia, vendendo o que posso. uns euros aqui, uns euros ali, coisa pouca, mas honesta, como aprendi com quem já não está cá (Deus guarde as minhas tias e o meu homem, pobrezinhos).
hoje, vi um rapaz a olhar para mim, tão triste
, que nem queiram saber. coitadinho dele. apesar de estrangeiro, ninguém merece tanta tristeza. uma velha tonta, até ao fim, é o que é, é o que sou.

03 fevereiro 2012

cadernos andaluzes

(in memoriam)


i. no dia no teu aniversário
 
toda a poesia é guerra, disse alguém
e quem sou eu para desdizê-lo?

por exemplo: hoje.
aqui, à sombra das laranjeiras e dos limoeiros,
bebendo nos lábios a fina luz da manhã,
contemplo séculos de história
e um complexo edifício-síntese,
combinando a memória do islão e do cristianismo
numa coexistência pacífica, comovente até.

qual o segredo?, perguntas-me.
e eu respondo-te: a ausência de seres humanos,
daqueles que estão ainda verdadeiramente vivos.
quer dizer: não é a completa ausência,
mas antes esse papel secundário
que todos os turistas desempenham
no grande esquema do mundo.
esta memória religiosa, arquitectónica,
mutuamente incrustada e indissolúvel,
faz-me lembrar eu próprio,
outra forma de dizer que me lembra a forma incontornável
como tomaste conta de mim.

por exemplo: hoje.
hoje, dia do teu aniversário, a centenas, talvez milhares,
de quilómetros de distância,
não deixas de estar aqui, e portanto de seres eu próprio,
tal como tudo o que ficou para trás e o que há-de vir
são extensões de uma essência presente qualquer,
como todo o amor que já morreu não deixará nunca de ser.
como tudo o que não há e que um dia houve ou um dia virá a existir.

nesta mesquita-catedral que me acolhe
em seus frondosos e intemporais braços,
é a ausência de vida quotidiana que permite um olhar doce,
desabitado de fantasmas e morticínios.
toda a poesia é uma jihad, uma guerra santa inclemente,
e agora sou eu que o digo.

entretanto, o dia entra em combustão,
o sol da andaluzia dá sinal de si,
regressam os passarinhos e o seu canto embalsamado.
cheira a verão, apesar de ser já setembro.

no dia dos teus anos, eu estava em córdoba,
e, tenho quase a certeza, um pedaço de ti também.

02 fevereiro 2012





'a única liberdade que me resta é partir'
, escreveu ruben a.
(o último, no sentido esquerda direita.)

antes de nós, depois de nós, houve e existirão míriades de mulheres e homens, que amaram e foram amados, que serão amados e que amarão, um novelo de sonhos, interrogações nocturnas, expressões graves, cintilações, palavras obscuras, ideias luminosas - uma pirotecnia de afectos-presos, uma explosão de radicais livres, toda a extrema verticalidade e o seu mais horizontal oposto. céus tocando a terra, clarins interiores, tardes de futebol, alpendres amando livros. toda a formidável magia humana.

01 fevereiro 2012



foto: fernando lemos


'a única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.'


agostinho da silva
, in 'diário de alcestes'