30 junho 2012




entre o poema de antónio gamoneda, lá mais acima, 
o poema de ruy belo, aqui mesmo em cima,
e o meu próprio poema, ali logo em baixo,
está tudo o que importa saber 
sobre o adn do 'flores de inverno'
- outra forma de dizer,
todo o código decifrado sobre este eu 
que, existindo, talvez nem sequer tenha deveras existido. 
o resto é o meu amor, 
sobre a tua tostada e salgada e adivinhada pele.
e todas as flores.

29 junho 2012


6 meses 6




like a broken umbrella
(in memoriam do nosso rapaz)


embalado pela chuva minuciosa de Borges,
pela lacrimejante poesia do José Miguel Silva,
(viva o cosmopolitismo poético, viva!)
pelas bátegas de saudades que caem copiosamente,
podia desatar a escrever poemas,
reacender o rastilho que ensopado
deixei muito lá atrás,
nesse tempo em que ainda.

em tua memória e dos teus conselhos,
não o farei, contudo.
lembro, ademais, toda a minha lógica quebrada
que gritava contra a usura do tempo
e a ferrugem dos nossos dias, enquanto tu
me lembravas uma lição básica da vidinha:
nenhum desespero substitui a dor,
antes amplifica-a, até à exaustão.

era outro tempo, outro século,
esse em que nos aconchegávamos, mui masculinamente
encafuados no carro que calhava, queimando sonhos e cigarros, 
sonhando as índias que nunca chegaram.

hoje, solitário cavaleiro andante, perpetuo a tua memória, 
sabendo que esperas por mim, nesse algures inominável,
a última cartografia absoluta que resta.
estas palavras, sim, estas palavras, eu sei,

são um cenotáfio ridículo erguido na tua ausência,
à falta de melhor – que seria sempre um acto de amor concreto,
tornado agora impossível nesta geometria terrena.
(a minha poesia morreu contigo, penso não raro.)

e é enredado nestas vielas cheias de amargura
que me lembro do teu sonho de menino de teres
toda a colecção Dois Mundos, da editora Livros do Brasil.

não tínhamos dinheiro, 
como hoje não nos temos um ao outro,
mas éramos felizes, a sonhar com livros e namoradas e futuros.

embora não o soubéssemos, era sempre de amor que falávamos,
um amor fraternal e desmedido como já não se usa.
ficámos no museu das coisas extintas, querido amigo,

acompanhados por tanta gente outrora vivente
como estas palavras que, daqui a segundos,
me morrerão nas pontas dos dedos, enquanto

enxugo este meu coração-filho-da-outra
mas pai de tanta coisa que felizmente sai à mãe
- ou a uma luminosa e improvável ideia de mãe.

saudades, pá. saudades.

e este nosso telemóvel brother to brother
agora calado para sempre,
bem por dentro do meu peito.

28 junho 2012


inspiro-me na beat generation,
para brincar aos poemas,
na vã esperança de que não me saia ao caminho
uma outra geração (a nossa, temo bem):

the beaten generation.

outra forma de dizer que também nós (nos) perdemos.

26 junho 2012



50 states
50 lines
50 crying all the time's
50 boys
50 lies
50 I'm gonna change my mind's
I changed my mind
I changed my mind
Now I'm feeling different

We were young
We were young
We were young, we didn't care
Is it gone?
Is it gone?
Is it floating in the air?
I changed my mind
I changed my mind
Now I'm feeling different

All that time wasted
I wish I was a little more delicate
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my name was Clementine

50 states
50 lines
50 crying all the time's
50 boys
50 lies
50 I'm gonna change my mind's
I changed my mind
I changed my mind
Now I'm feeling different

We were young
We were young
We were young, we didn't care
Is it gone?
Is it gone?
Or it's floating in the air?
I changed my mind
I changed my mind
Now I'm feeling different

All that time wasted
I wish I was a little more delicate
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my name was Clementine

All that time wasted
I wish I was a little more delicate
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my
I wish my name was Clementine

25 junho 2012


"Quando já não se consegue distinguir as nuvens do céu do fumo das fábricas, é hora de partir."

Béla Tarr

22 junho 2012



on leaving.

06 junho 2012


estrada fora, outra vez.
longe do ruído, da espuma, da ferrugem, da usura.
claro que, como diria um mestre, quem da pátria foge talvez de si próprio não escape. mas, na dúvida, arriscar é preciso.
estrada fora, outra vez.
até daqui a umas quantas semanas.

04 junho 2012




all your women things
set the control for the heart of the sun
while a peculiar kind of fire
explodes deep inside
(and yet in silence)
this broken man of mine.



set the control for the heart of the sun

01 junho 2012


he thinks and thinks about life
and he thinks about death.

he thinks about flowers growing

(or about flowers dying, instead?)

in the very top, in the very inner,

of his singular (or just crazy?) head.