31 outubro 2006

alexandre-o-grande (bom feriado)

às dores inventadas prefere as reais,
doem muito menos
ou então muito mais.

alexandre o'neill

procura-se:

há por aí alguém que tenha a gentileza suprema de me explicar a vida? :-(

30 outubro 2006

ah, como o cinema era belo!

18 FILMES (MESMO MESMO) INESQUECÍVEIS

1 – Sábado, 4 de Novembro, às 15:30
HOW GREEN WAS MY VALLEY / 1941
(O Vale Era Verde)
de John Ford
2 – Sábado, 4 de Novembro, às 18:30
STARS IN MY CROWN / 1950
("Estrelas da Minha Coroa")
de Jacques Tourneur
3 – Domingo, 5 de Novembro, às 15:30
CITIZEN KANE / 1941
(O Mundo a Seus Pés)
de Orson Welles
4 – Domingo, 5 de Novembro, às 18:30
SOME CAME RUNNING / 1958
(Deus Sabe Quanto Amei)
de Vincente Minnelli
5 – Domingo, 5 de Novembro, às 21:30
SPLENDOR IN THE GRASS / 1961
(Esplendor na Relva)
de Elia Kazan
6 – Sábado, 11 de Novembro, às 21:30
ORDET / 1955
(A Palavra)
de Carl Th. Dreyer
7 – Domingo, 12 de Novembro, às 15:30
THE GHOST AND MRS. MUIR / 1947
(O Fantasma Apaixonado)
de Joseph L. Mankiewicz
8 – Sexta, 8 de Dezembro,às 15:30
JOHNNY GUITAR / 1954
(Johnny Guitar)
de Nicholas Ray
9 – Domingo, 7 de Janeiro, às 15:30
THE RIVER / 1951
(O Rio Sagrado)
de Jean Renoir
10 – Sábado, 13 de Janeiro, às 21:30
IT’S A WONDERFUL LIFE / 1946
(Do Céu Caiu uma Estrela)
de Frank Capra
11 – Domingo, 14 de Janeiro, às 15:30
LEAVE HER TO HEAVEN / 1945
(Amar Foi a Minha Perdição)
de John M. Stahl
12 – Domingo, 14 de Janeiro, às 21:30
PERSONA / 1966
(A Máscara)
de Ingmar Bergman
13 – Sábado, 20 de Janeiro, às 15:30
LILITH / 1964
(Lilith e o Destino)
de Robert Rossen
14 – Sábado, 20 de Janeiro, às 18:30
LETTER FROM AN UNKOWN WOMAN / 1948
(Carta de Uma Desconhecida)
de Max Ophuls
15 – Sábado, 20 de Janeiro, às 21:30
VERTIGO / 1958
(A Mulher Que Viveu Duas Vezes)
de Alfred Hitchcock
16 – Domingo, 28 de Janeiro, às 15:30
I KNOW WHERE I'M GOING / 1945
(Sei Para Onde Vou)
de Michael Powell e Emeric Pressburger
17 – Sábado, 10 de Fevereiro, às 18:30
ONLY ANGELS HAVE WINGS / 1939
(Paraíso Infernal)
de Howard Hawks
18 – Domingo, 11 de Fevereiro, às 21:30
SENSO / 1954
(Sentimento)
de Luchino Visconti

obrigado joão bénard da costa.
obrigado fundação calouste gulbenkian.
a isto chama-se.. serviço público.

fractais II

'eu, que pelos sentimentos pertenço ao passado e pelas ideias ao futuro, não tenho lugar no presente'

luchino visconti

receita universal ?

fui à farmácia em londres, lá para as bandas de 'magnetic fields'. o senhor que me atendeu, nem novo nem velho, distintamente embrulhado naquele cerrado sotaque cockney, escrevinhou umas palavras num papel de ocasião e murmurou: ' leia só quando chegar a casa'. assim fiz. mais tarde, na poltrona de sempre, retirei da algibeira o papelito e deparei-me com as seguintes palavras:

all things shall pass,
so raise your glass
to change and chance.
and freedom is the only law,
shall we dance.
so if you’re feeling low,
stuck in some bardo*,
i, even i, know the solution:
love, music, wine and revolution.
love, music, wine and revolution.

[é caso para cantarolar: 'magnetic fields forever'!]

em letrinhas pequeninas, dizia assim:
* in tibetan buddhism a bardo is a waiting period between death and rebirth into your next incarnation.

27 outubro 2006

é assim (bom fim-de-semana)

era assim:

queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas?
ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...

ana hatherly
um calculador de improbabilidades
quimera
2001

maior = melhor ? melhor = o quê ?

não sei qual seria a personalidade em quem votaria, caso a meio da rua surgisse uma equipa de reportagem que me colocasse perante tão incontornável pergunta: ' quem é o maior português de sempre?'.
o porquê (mediático e civilizacional, digamos) desta necessidade de criar 'rankings', todos entendemos. mas hoje o desafio é outro.
todos conhecemos 'grandes pessoas' que, por acaso, são portugueses. é uma nuance importante este 'por acaso', mas mais importante ainda é pensar nas pessoas com que nos cruzamos, pessoalmente, em fragmentos de conversas alheias, ao espreitar os 'media', etc. e, que no fundo do nosso coração, ganham um cantinho para a eternidade.
este meu post é apenas um incentivo pequenino para que todos vós se lembrem de que ainda há e sempre haverá 'grandes pessoas'. da próxima vez que repararem numa, pensem em dizer-lhe obrigado ou, ainda melhor, pensem que, não havendo super-heróis, porque é que não podemos nós todos simplesmente.. tentar.. ser.. um bocadinho mais assim?
fazer a diferença, aos bocadinhos, faz toda a diferença.
um dias destes digo-vos quem são alguns daqueles que admiro - mas só se me pedirem muito e, desde já garantido, sem rankings! ;-).

fractais I

nada de grande se faz sem sonho.
o homem vale na medida da sua capacidade de admirar.
o essencial na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar.
só devemos escrever acerca daquilo que gostamos.
o mais vulgar dos alunos sabe agora verdades pelas quais Arquimedes sacrificaria a vida.
a estupidez humana é a única coisa que dá uma ideia do infinito.

ernest renan
frança[1823-1892]
escritor

26 outubro 2006

o tempo suspenso

'o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade
com que acontecem. por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis.'

Fernando Pessoa

lost & found

http://www.lost-in-translation.com/home.html

subtilezas mil, em tempos de pragmatismo & eficiência.

descomplicómetro I

muita gente - e com razão - se queixa dos males da Justiça em Portugal. no campo da economia e das empresas, uma das críticas mais comuns prende-se com o facto de, havendo tantas empresas em situação mais ou menos à margem da lei (obrigações fiscais, segurança social, relações laborais internas, etc.), o porquê de o Estado não agir de forma mais decidida e musculada. é uma boa questão, principalmente quando partimos do princípio de que no Governo e na Administração Pública há (e há!) pessoas de bem, profissionais experientes.

é simples. ou quase simples.

1. grande parte das empresas que têm a sua situação regularizada - grandes empresas nacionais, multi-nacionais, banca e sector financeiro -, têm também mecanismos de optimização fiscal. pagam os impostos devidos, mas pagam estritamente aquilo que são obrigados a pagar, em virtude das obrigações relativas a 'corporate governance' (ex: decorrentes da cotação em bolsa, das auditorias independentes a que estão sujeitas, etc.) e de 'corporate reputation'. no entanto, se assumem, não obstante os mencionados mecanismos de eficiência fiscal, um peso significativo na coluna das receitas, a verdade é que, cada vez mais, optam por medidas de deslocalização (com o encerramento de unidades de produção), redução de efectivos, outsourcing de actividades, etc. todas estas medidas têm em comum a diminuição do número de empregos, o que, conduz a uma curva de redução das receitas fiscais obtidas por via da tributação do rendimento dos trabalhadorees e de redução simultânea dos fundos afectos à segurança social (em termos de massa total).

2. temos assim que o número muito significativo de pequenas e médias empresas são, de facto, um pilar fundamental em termos de emprego efectivo (e da consequente contribuição para os fundos da segurança social e para a colecta fiscal). resulta daqui que, mesmo com a censurável praxis de certas empresas que contornam as suas obrigações fiscais e/ou em sede de Segurança Social, estas não deixam de contribuir - pela via do número de empregos / indivíduos empregados e respectivos rendimentos (logo impostos) e taxas sociais (logo receitas) - para a manutenção do sistema global financeiro subjacente ao nosso 'modelo social', bem como para a moderação dos níveis de desemprego (cujo potencial de agitação social e erosão política são, como é sabido, consideráveis). estima-se que existam 1,5 milhões de postos de trabalho em Portugal abrangidos por esta realidade. dá que pensar, não é verdade ?

3. como 1+1=2, significa isto que é irrealista pensar que o Governo (qualquer Governo) não quer ou não sabe ou não é capaz. saber, sabe. querer, até pode querer. mas não pode. forçar, pela força, uma penalizaçao rigorosa e maciça das empresas que vivem numa espécie de limbo de cidadania, conduziria a uma vitória quixotesca - afirmação de valores correctos, mas sem sustentabilidade económico-social.

4. resta desistir, com esta partida que a matemática, a economia e a demografia (que tudo piora) nos pregaram ? não! há muito espaço para promover a integraçao das empresas / organisações / indivíduos que vivem nas margens. um doseamento sábio, inteligente e instrumental de penalização/censura com incentivos positivos é, pois, o caminho. conduzir, integrar, incluir na economia mainstream todos aqueles que estão, aqui e agora, no limbo. e formar, formar, formar as novas gerações de empregadores e empregados, no intuito de diminuir a renovação da (ainda) enorme massa dos que não cumprem ou cumprem pouco ou cumprem tarde. este é o desafio.

afinal, é fácil.

porque é que não nos explicam estas coisas, alguém sabe responder ?

25 outubro 2006

coisas que valem a pena I

(re)ler
.'mútuo consentimento', poesia, hélder moura pereira
.'duende', poesia, antónio franco alexandre
.'os animais antigos', poesia, joão habitualmente

escutar
.micah p. hinson and the gospel of progress, sem título, 2005
.'a hora do bolo', sábado, 17h00, rádio radar
.the smiths, 'the queen is dead', 1986

(re)ver
.um qualquer filme, ao acaso, na gulbenkian (ciclo 'no tempo em que cinema era belo')
.retrospectiva david hockney, em londres (para quem puder..)
.sete palmos de terra, dvd, à venda perto de si

reparar
.na noite caindo sobre lisboa, por estes dias
.nos raios de sol que teimam em cruzar o céu, procurando o azul
.nos outros

lembrar que há 50 anos (1956)
.elvis presley entra pela primeira vez nos charts americanos, com a canção 'heartbreak hotel'
.budapeste vê nascer o primeiro levantamento popular contra o 'bloco soviético'
.o prémio nobel da paz não foi atribuído

ousar
.jack daniels, em copo baixo, com muita água castelo (natural) e bastante gelo
.um blind date com os sabores do restaurante petermann (charcutaria
francesa), princípe real, lisboa (só jantares!)
.partir sem destino, alentejo dentro

saborear
.filetes de peixe-galo com açorda, no restaurante 'fidalgo', bairro alto,
lisboa (reservar mesa e tratar bem o sr. eugénio..)
.entrecôte (para 2), na sala dos fundos do restaurante 'varina da
madragoa', madragoa, lisboa
.as delícias de almoçar no quase-clube-quase-espartano restaurante
'apuradinho', algures perto de 'nova campolide', lisboa

beber
.redoma branco, 2005 ou 2004, o príncipe dos novos brancos do douro
.quinta do perdigão tinto, reserva / qualquer ano, um dão cheio de pedigree
.champagne, em vez de espumante - e perceber o porquê

espreitar
.http://estadocivil.blogspot.com/
.http://osolquandonasce.deslizo.net/
.http://vitorespadinha.blogspot.com/

tempos modernos

há duas coisas na vida de que não podemos fugir. nenhuma delas é a boçalidade. e nenhuma delas se chama banalidade.
a leitura dos jornais do dia é um hábito saudável - um exercício mínimo de cidadania. não temos que ver, não temos que ler, mas temos que viver. vivemos aqui e agora e se o homem é ele próprio e a sua circunstância, convém olhar para esta, nem que seja de forma bissexta. a imprensa diária ainda bate aos pontos os outros meios - no sentido clássico do termo 'meios'. mas porque razão a imprensa portuguesa se enche de banalidade atrás de banalidade ? notas soltas, a partir deste observatório amador que sou eu próprio:
1. a imprensa popular, tablóide ou proto-tablóide, tem o seu lugar. pode não ser à nossa mesa, mas isso não quer dizer de que não haja uma lógica sociológica a montante e um modelo de negócio a juzante. tem o seu lugar, portanto, mas contribui residualmente para a construção de um 'novo país novo', de uma 'nova mentalidade nova', de um cidadão comum mais informado, no sentido em que a informação é articulável e transposta para o plano do pensamento e acção individual, para o domínio relacional e para a esfera de intervenção pública. não a inventámos, ela vive por si, expande-se naturalmente - fast-food mediático, mais ou menos folha de alface, com o qual temos que conviver.
2. a imprensa popular gratuita. viajar por lisboa e ver, nas paragens de autocarro, nas filas de trânsito, exércitos de concidadãos a manusear as suas folhitas envergonhadas, dá-me sempre vontade de recuperar aquele outro tempo em que "ler a Bola, era aprender bom Português". Ou seja, entre a suspeita de que é "isto ou nada" e o sentimento de que os jornais gratuitos representam papel a mais em geral (para o ambiente, por exemplo) e papel a menos em particular (para o indivíduo)... o meu intelecto balança. por mim, vão bem com castanhas assadas, ainda que, perante certas notícias ou certos tratamentos pseudo-noticiosos, seja melhor sujar as mãos com o tradicional carvão. a bem da pátria.
3. a imprensa dita de referência. para além de ser pouca, em número de títulos, remete-nos para o 'centrão', o 'mainstream', 'o óbvio ululante' de que falava alguém. apontar para o meio, usar caçadeira com elevada dispersão de tiro, é uma forma estatísticamente (e económicamente) rentável de se atingir um número elevado de sujeitos. de fazer vítimas, exacta e apropriadamente. não está mal de todo, entende-se. mas onde será que pára a inteligência, a criatividade, o punch certeiro e factual em vez do constante opinómetro vazio e supostamente moderno ? também não nos safamos por aqui, tanto na sua vertente diária como semanal. 'sol a mais' é de desconfiar, 'qualidade expresso' também. 'mais diários (colunistas e afins) menos notícias' (factos, análises, reportagens, surpresas relevantes), 'menos público informado e bem formado'.
4. a imprensa desportiva. conhecem as palavras coragem, independência, rigor ? pois.
5. a imprensa de nicho, dita especializada. não nos pronunciando sobre a dita - por falta de conhecimento de causa e porque, por natureza, é aceitável que deva, em tese, obedecer a canônes mais latos - excepto no que toca a deontologia e work ethics -, é curioso constatar que tudo estaria melhor se toda a nossa outra imprensa fosse catalogável como imprensa de nicho. no fundo, uma grande constelação de pequenas realidades, pequenas publicações, pequenas ambições, pequenas qualidades. num país pequenino e coitadinho, não se podendo fazê-lo crescer, encolhe-se a sua imprensa. lei da procura e da oferta, vem logo no início de qualquer manual de economia. com e. que a outra, a com E, não vem nos manuais.

conclusão: eu leitor me confesso, faz-me falta uma pátria feita de leitores livres em cada esquina. fracos jornais fazem fraca a forte gente?; ou fraca gente faz fracos os fortes jornais ?

e ainda não chegámos a um tema importante - a liberdade de imprensa. a seu tempo.

enfim, uma flor de inverno. ou o inverno em flor, em todo o seu (triste) esplendor.

quarta-feira (ou o novo princípio do tempo)

é tempo de voltar às palavras simples.
é tempo de voltar às palavras.
é tempo de voltar.
é tempo.

bem-vindos.