31 maio 2007

is/not

love is not a profession
genteel or otherwise

sex is not dentistry
the slick filling of aches and cavities

you are not my doctor
you are not my cure,

nobody has that
power, you are merely a fellow/traveller

give up this medical concern,
buttoned, attentive,

permit yourself anger
and permit me mine

which needs neither
your approval nor your suprise

which does not need to be made legal
which is not against a disease

but against you,
which does not need to be understood

or washed or cauterized,
which needs instead

to be said and said.
permit me the present tense.

margaret atwood

[p.s. obrigado alice-aquela-que-é-única]

feira do livro vol.2

a minha querida amiga mostrava-me os recém adquiridos volumes de uma revista de contos. olhávamos e comentávamos a lista de autores incluídos, quando dispara, à queima-roupa:
- tu é que ainda não te estreaste..!
eu, de pronto:
- a escrever? (naquele tom de pergunta-constatação-afirmação).
ela, ainda mais depressa:
- não..! a comprar!
(eu que tudo inspecciono, em todo o sítio, o tempo todo.. e quase nada compro).

conclusão: presunção e água benta cada um toma a que quer :-).

feira do livro vol.1

um delicioso livrinho - herdeiro directo do, entretanto extinto, blog homónimo: 'melancómico - aforismos de pastelaria', de nuno costa santos, guerra e paz editores.

http://www.guerraepaz.net/?page=books&item=42

http://www.producoesficticias.pt/projectos/Melancomico.html

humor em estado de graça. ou quando o humor é um caso muito sério. ora vejam..

"A vaidade da escrita. Sempre que ia escrever um romance, contratava uma maquilhadora.

"Enriquecimento com causa. Tem vergonha de falar sobre isso. Ficou multimilionário à custa de uma canção sobre a pobreza."

"Uma vida de Trabalho. A única coisa que deixou como herança foi um livro de recibos verdes."

"O prognóstico da Dona Bina. Portugal ainda vai ser a Chelas da Europa."

"Isto é assim. Eu não deixo o meu filho mexer nas louças. O meu filho não me deixa ter opiniões políticas."

"Começo a pensar que o meu filho é uma criança com imenso jeito para os adultos."

"O meu filho é tão intensamente generoso que não se limita a dar coisas às pessoas. Ele atira coisas às pessoas."

"Alberto Charrua, 61 anos, que nos liga de Coruche. Eu acho que só os ortopedistas podem pronunciar-se sobre temas fracturantes."

"Ele era tão intelectual, tão intelectual que até o seu livro de recibos verdes era editado pela Assírio e Alvim."

"Conselho. Antes de fundar um partido, crie uma facção dos renovadores."

"Vocação: político. A minha vida está cheia de promessas não cumpridas."

"Relação com excesso de velocidade. Ficou com o namorado apreendido durante três anos."

"Num gesto de generosidade, ela quis emprestar o marido à amiga. Mas a amiga disse logo: - obrigada, mas já tenho esse"

"Márcio interrompe o jantar para fazer uma pergunta. Em que categoria Deus está inscrito na Finanças?"

"Dona Bina não sabe a resposta mas não fica calada. Isso não sei. Só sei que isto está tão mau para todos que se Cristo resolvesse descer à Terra teria de ficar alojado no Íbis."

"Da manipulação dos factos. Muito mais frequente do que a desonestidade intelectual é a desonestidade sexual."

"La vida loca. Nunca saiu de casa dos pais. Nunca teve amigos. Nunca teve namorada. Nunca teve emprego. Nunca foi ao cinema. Nunca leu um livro. Nunca foi jantar fora. Nunca foi a uma discoteca. Mas, antes de morrer, a última frase que lhe ocorreu pronunciar foi Livin’ la vida loca."

"Definição havaiana de poeta. O poeta é um surfista que tem medo das ondas."

mordacidade, ironia fina, causticidade, observação aguda, construção de insight, dissecação do quotidiano, sarcasmo..
..e aquele desencanto terno que é próprio de qualquer lucidez.

[com ajuda do eloquente: http://umacasacomvistaparaomar.blogspot.com/2007/04/o-livro-do-nuno.html]

30 maio 2007

untitled, again


the walkmen, 'another one goes by'

is your skin your skeletons
splinters my daydreams
under surface see is it any seed
shadows fly across the wall
i walk outside and try to see you right in front of me
silhouette of something sweet and so bright

don't know what to offer you i'm only broke and lonely
and another one goes, and another goes by
sometimes when i step outside i see you standing right in front of me
and another one goes, and another one goes by

greve geral

8.55 rádio oxigénio: kanye west, 'touch the sky' (sobre base de curtis mayfield)
9.03 rádio radar: queen of japan, 'i was made to love you' (original dos kiss)
9.15 rádio radar: rufus wainwright, 'poses'





29 maio 2007

untitled & uncommented (& unnoticed)

how strange, innocence

"How Strange, Innocence" was our first attempt at an album. We recorded it in January 2000 in Austin: recording took two days, mixing one day, mastering one day. Altogether we pressed 300 CD-R copies of this album...We had been a band about seven months when we recorded these songs. A lot of feelings (excitement/confusion/glimpses of visions/waking dreams/inability to play instruments) went into this record, but we didn't quite know what to do with those feelings, none of us had even really been in a studio before, and it shows in the recording, the songs show it, too--it's a young record. There are no tricks in it. There's a lightness in a few of the songs that we probably won't reach again. It sounds strange to say that instrumental songs are about something, but to us these songs were/are about such things as a couple walking through the park on a winter day, a child playing on 70's shag carpet, the story of a boy hero leading a revolution against the tyranny of the coal mines. We've had a bit of a love/embarrassment relationship with the record. At certain points along the way several of us wanted to buy back all the copies and burn them. Listening now to this album, it almost seems like a different band composed of four different people. We finally feel okay in re-releasing it, probably because we've now made a couple of records that are recorded better and that are closer to our visions for them. Anyway, we truly appreciate anyone who is interested and listening. Thank you.

explosions in the sky

[e, no entanto, para mim, não voltaram a fazer um disco assim - da fragilidade se faz força e da dúvida um caminho. ora escutem, bem alto!, na barra da direita..]

28 maio 2007



'reviver o passado em brideshead' ('brideshead revisited') é, para não poucos, uma das melhores séries de televisão de sempre.
não me é particularmente querido o qualificativo 'melhor' - há tanta e tanta coisa notável, tanta e tanta coisa siderante (desculpem, apetecia-me escrever esta palavra..).
para mim, um miúdo a crescer na beira alta, 'brideshead revisited' foi um, como agora se diz, 'building block', nessa estrada que é a definição do gosto, da estética, dos universos que nos dizem alguma coisa de muito profundo.
descobri com o charles e o sebastian que a vida é feita de muitas cambiantes - que há relações indefiníveis, como anos depois vim a descobrir por experiência própria (falo de relações verdadeiramente indefiníveis, num plano afectivo ou até espiritual).
descobri que podemos ter em nós um gentleman mais ou menos diletante, mesmo quando a nossa circunstância faz de nós apenas um miúdo na transição dos setentas para os oitentas, numa vila modesta do interior. que todos trazemos connosco uma essência - nalguns casos nunca revelada ao longo da vida. e que, no meu caso, um certo traço elitista nasce do gosto pelas coisas bonitas, pelas coisas belas (um estádio adiante). o que é bom é belo; o que é belo é bom.
descobri que um certo sentido de perda para sempre me acompanharia. há um 'brideshead' que ficou lá atrás - o 'my own private brideshead'. e a noção - pesada - de que hoje mesmo habito um tempo/espaço que ficará inexoravelmente para trás.
descobri que a música é, das belas artes, aquela que, conjuntamente com as artes da palavra e com o cinema, mais de perto e mais profundamente me toca. o que sinto, hoje, ao escutar o genérico é ainda comoção pura. não sei bem explicar, há algo de vertigem, algo voraz que me faz oscilar entre passado, presente e futuro - mas sem ordem, como se tudo fosse presente - de forma muito intensa. arrebatamento estético, misturado com uma saudade indefinível. bom e mau, belo e agreste, tudo ao mesmo tempo. e tudo perfeitamente perceptível - não uma amálgama de sensações, estados de alma, sentimentos, mas um todo meticulosamente decomposto nas suas partes.
descobri que ética e estética são conceitos siameses.
descobri-me, no fundo, um bocadinho mais.
por isso guardo esta série de televisão naquele sítio onde guardo as coisas essenciais. e olhem, acreditem, que coisas essenciais para mim são uma caixa de livros, uma caixa de discos, uma caixa de filmes e a memória de todos os que cruzaram a minha vida e a ânsia por todos aqueles que a cruzarão. e pelos quais espero, atravessando desertos e vales, rios e montanhas.
se há um país por inventar, ao charles e ao sebastian o devo também, um bocadinho - sempre preferi bocadinhos, são mais fáceis de guardar na algibeira que todos trazemos ao coração.

era uma vez uma casa.
éramos uma vez.
sou.

conta-me outra vez como era essa casa, charles.

há 20 anos..

há 20 anos, david sylvian gravou aquela que é para muitos - eu próprio incluído - a sua obra-prima: 'secrets of the behive'.
deixo-vos 2 tragos desta magia difícil de definir. há qualquer coisa de alquímico na música e nas palavras de david sylvian. um esteta elegante, aveludado, inteligente, culto, subtil.
se um deus ateniense nos visitasse por estes dias não deveria andar longe do que aqui encontramos..


david sylvian, 'orpheus'


david sylvian, 'let the happiness in'

i'm waiting on the empty docks
watching the ships come in
i'm waiting for the agony to stop

oh, let the happiness in

i'm watching as the gulls all settle down
upon the empty vessels
the faded whites of their wedding gowns
the songs of hopeless selflessness

oh, let the happiness in

i'm waiting on the empty docks
watching the ships roll in
i'm waiting for the agony to stop

oh, let the happiness in

listen to the waves against the rocks
i don't know where they've been
i'm waiting for the sky to open up

and let the happiness in

'cause it's coming
coming home

uma sugestão.. diferente

26 maio 2007

com dedicatória, aliás, com duas dedicatórias..

25 maio 2007

o evangelho segundo o gi (com V/ licença)

ao fim de 7 meses, 7 desertos tereis atravessado.
porquê? - interrogar-vos-eis vezes sem conta - porquê?
escutai:
7x7 vezes, se necessário for.
mas chegareis lá.
é tudo o que precisais de saber.
homens de pouca fé.

é assim, és assim, sou assim

'(..) consolou-se e aceitou essa via ao longo da estrada amarga'

fiama hasse pais brandão

24 maio 2007

before the science of speed


django reinhardt & stéphane grappelli

senhor cohen, 'dance me to the end of love'

this road is long


stuart a. staples, 'that leaving feeling' (also featuring lhasa de sela)

23 maio 2007

a pista

OJ 4
21 05 07
2 - 4
et voilá, celui lá c'est un autre moi.

poetas cá de casa: albano martins

cumpro o meu destino como qualquer fonte

albano martins (nascido em 1930) é um poeta que descobri não há muito tempo e, começo por dizer, que me encanta intensamente.
lida alguma da sua (extensíssima) obra - muita da qual permanece na penumbra, por obra de edições de cariz quase regional, com tiragens e circulação muitíssimo circunscritas -, é absolutamente claro o seu percurso poético. como se de um ofício se tratasse, a sua prolixidade corresponde a um 'fazer da mão', a uma procura continuada e incessante da direcção (que não do sentido).

não sou especialista em literatura, apenas posso escrever a partir de 'impressões e emoções'.

diria que se cruzam múltiplos vectores na poesia de albano martins, sendo que, por paradoxo, dessa complexidade resulta em última instância uma simplicidade formal e de 'tese' - as suas obras recentes apontam para uma linguagem enxuta, descarnada, dando voz a um discurso recorrente (facto não incomum em muitos outros poetas e escritores 'tout court'), ainda que diverso no veículo-poema. como se a obra fosse um permanente 'work in progress', partindo do mais para o menos (estilisticamente), até que a redução à essência faça a sua aparição. exercício brilhantemente conseguido, em minha opinião, nos livros editados a partir da transição de século (1999 até aos nossos dias).

que elementos encontramos nesta poesia?

-falámos acima de um caminho rumo ao despojamento. impossível resistir a um certo travo orientalista - zen? -, feito de elementos simples, jogos tridimensionais em que só importa o homem, a natureza e a própria escrita. é entre esta constelação que se inscreve o sentido universal e metafísico; é esta a constelação que (d)escreve esse mesmo sentido;

-uma propensão para o aforismo. pequenos poemas completos parecem máximas em formato final e perfeito, como se fosse uma espécie de 'sabedoria universal e intemporal' que nos falasse através desta poética;

-simbolismo mesclado de uma espécie de candidez telúrica. a terra, a natureza, as plantas, o corpo: figurações a um templo extremamente simples e contudo fulgurantes. uma espécie de 'back to basics', como último reduto da verdade, do sentido. e, uma vez mais de forma aparentemente contraditória, uma figuração da complexidade pela extrema simplicidade;

-uma claríssima ética e um subtil (e puro) erotismo.

já vão longas as palavras. fiquemos com alguns exemplos do que atrás se quis canhestramente dizer, ilustrados por aquilo que importa - a poesia em si. todos os poemas foram extraídos dos seguintes livros:

'escrito a vermelho' (1999)
'assim são as algas' (2000 - antologia)
'palinódias, palimpsestos' (2006)

- todos editorial campo das letras


vim
para saber
se eras tu
a quem dei
o meu nome

que não
que não sabes,
dizes.
também
a água não sabe
e nunca
diz não, e nunca
se desdiz.

lembra-te: ainda há pouco
havia à beira
do caminho
algumas pétalas. agora
há lama e nela
afundas os sapatos. e outro
caminho não conheces. e outro
também não há.

à maçã
não lhe perguntes
quem é.
outra forma
não há
de lhe reconhecer
o sabor

não digas
beijo, diz a boca. não
digas rio, diz a fonte. diz
apenas.

quando a porta se abriu,
perguntaste quem era.
não se pergunta ao amor
que nome tem.

pertence-te
ser homem, afirmar
todos os dias que tens
um compromisso: ser claro
e brando como a luz
e, como ela,
necessário. e não deixar crescer à tua porta
ervas daninhas.

assim me deito
sobre a ternura
este é o meu leito
e a minha lura.

22 maio 2007


behind the hatred there lies a murderous desire for love

party time, baby; nighttime, baby


josh rouse, 'it's a nightime'

21 maio 2007


beirut, 'elephant gun'
(tratado não-explicativo sobre uma espécie de beleza compulsiva que nos faz estremecer)

a propósito de ian curtis e dos joy division

agora:

i wish i were a warhol silk screen
hanging on the wall
or little joe or maybe lou
i'd love to be them all
all new york city's broken hearts
and secrets would be mine
i'd put you on a movie reel
and that would be just fine.


assim começa «touching from a distance»,
biografia de deborah curtis, mulher de ian curtis.
num pequeno e honesto poema de são valentim
ian capta as coisas simples da adolescência,
tal e qual como elas são.
as memórias da sua mulher inspiraram um filme - estreado ontem em cannes -,
«control», uma das palavras-chave para compreender os joy division
e inspiradora de um universo que ainda nos cerca.
«control», termo que hoje obcecaria muito mais a jovem figura de ian,
imerso no mar de informação e de potencialidades do século xxi.
provavelmente ter-se-ia perdido muito mais cedo,
sem sequer lhe darmos atenção.
em «the mindscape of alan moore», o mítico argumentista de comics
alerta para a monstruosa gestação de informação nos últimos anos
e para a nossa incapacidade em geri-la e evitar que se multiplique cada vez mais
e mais e mais.
mas já perdemos o controlo disso
e o auto-controlo é um termo que só serve para baixar a tensão.
agora, vinte e sete anos depois, sabe-se como e onde ian morreu,
com quem falou pela última vez, o último filme que viu,
o último disco que ouviu.
se acontecesse hoje saber-se-ia muito mais.
não se contestaria a vida, o mito
e daqui a vinte e sete anos não nos lembraríamos dele.
a sua importância, e dos joy division, na música popular é inquestionável.
diz-se que nunca estiveram tão presentes como em 2007
e que este é o ano joy division,
há filme, reedições a chegarem e muitos artigos de imprensa para se escrever,
mas isso já é questionável.
tudo tem a importância que quisermos dar
e, no final, o que importa é a música.
essa é, intencionalmente ou não, lembrada por james murphy em «all my friends»,
single prestes a sair, devedor das guitarras de joy division,
e que inclui num dos seus formatos uma enérgica versão de «no love lost».
não tanto como a original, ninguém queria que fosse.
na memória, padecem as palavras de ian:

to never see you show your age
to watch until beauty fades,
i need it.
i need it.
i need it.


(respeitosamente citando a newsletter flur, da passada sexta-feira - o respectivo site pode ser encontrado na coluna da direita, na rubrica 'sementes e utensílios')

18 maio 2007

colour like no other! (bom fim-de-semana)


(banda sonora: the knife, 'heartbeats')

modern life is rubbish

acaba de ser publicado em Portugal um livro que pretende dar à estampa um conjunto alargado - e representativo - de testemunhos sobre a sexualidade feminina nos nossos dias e no nosso país.
segundo percebi da minha leitura na diagonal de uma notícia de jornal, não se trata de um estudo científico, de um inquérito rigoroso, mas sim de uma espécie de colecção de testemunhos subordinados ao tema 'as minhas fantasias eróticas'. como dizem os entendidos nestas coisas, são fontes primárias, sem tratamento e caução científica. podem, ainda assim, dar-nos um travelling generoso sobre o que se passa 'na mente' de muitas mulheres (é o photomaton do aqui e agora, por assim dizer).
por entre standards, clássicos, alguns sinais de pós-modernismo (que também se aplica a estas coisas), lembrei-me do título da conferência que marca, por estes dias, a actividade da fundação gulbenkian: 'o estado do mundo'. sim, também passa por aqui, se se quiser entender essa coisa que é a 'contemporaneidade'.
mas o que verdadeiramente me interessou foi esse testemunho, seleccionado pelo(a) jornalista do jornal 'público' para rematar o artigo e que dizia simplesmente isto:

'a minha fantasia?
a minha fantasia é adormecer nos braços de alguém..'


sem palavras.

17 maio 2007

cherry picking dans la croisette (cannes)


'my blueberry nights', wong kar way


'control', anton corjbin

das canções

uma canção para mim é todo um universo. poucas coisas são capazes de alterar o meu estado de espírito (ou de me 'fazer sentir') como uma canção.. espécie de senha, código secreto, abracadabra, abre-te sésamo, as canções são um barómetro de mim próprio, mas vão ainda mais além, porque me influenciam - sendo, portanto, por vezes causa, outras tantas vezes consequência. talvez esta linguagem seja um pouco hermética, mas acho que percebem a ideia.

isto para contextualizar o meu início de dia. no carro, radar ligada.. e, de rajada, sem respirar, levo com 2 canções:

'in a manner of speaking', versão dos nouvelle vague para original dos tuxedomoon;
'if you could read my mind', johnny cash, escolha de paulo furtado para a sua 'grafonola'.

da primeira digo que foi a canção do meu ano 2005. tudo o resto não é passível de ser escrito; passível será, talvez não seja é possível (para mim). por uma vez, um trocadilho simplório que faz sentido na forma e no conteúdo.

da segunda, que não conhecia, tocou-me de uma forma profunda. talvez se a escutarem 'com dedicação' possam perceber porquê.

palavras a mais, ladies and gents, let the music play. and speak.



15 maio 2007

pele & coração (para o luis miguel nava)

ao deambular pelo superlativo jardim do meu amigo - liberdade poética que tomo emprestada - abssinto (esse maravilhoso blog que podem encontrar na coluna da direita, sob o nome 'foi em novembro que partiste'), reparei num mote retirado de um poema de luis miguel nava.

ao investigar um bocadinho, não só me recordei de que o seu espírito e o seu corpo um dia observaram as mesmas serras que serviram de esteio à minha infância e juventude (beira alta), como reparei na profusão das palavras 'coração' e 'pele' na sua poesia.

se repararem - e reclamo modéstia absoluta - no meu post imediatamente abaixo, verificam a curiosa presença dessas duas exactas palavras.

que nos diz luis miguel nava ? coisas assim:

retrato

a pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
com ele porém não era assim.
a pele ia imitando o céu como podia.
pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procura protecção.


o céu

assoam-se-me à alma, quem
como eu traz desfraldado o coração sabe o que querem
dizer estas palavras.
a pele serve de céu ao coração.


trazer o coração desfraldado. ora aí está.

da medicina do coração

despir a pele que reveste o coração é uma operação 'de peito aberto'.
tratar uma recaída acrescenta factores de risco - mexer no que mexido havia sido, suturar o que suturado estava.
esperemos que os médicos façam o melhor possível.

14 maio 2007

andré valente, n-º 5

'the heart is a lonelly hunter'
carson mccullers



optou pelo registo observador, como o ornitólogo que se dissimula por entre a vegetação, para melhor deixar brilhar as plumas da surpresa.
encostado ao bar, prescruta o horizonte, tentando concentrar-se no todo e assim escapar ao efeito-boomerang de um olhar mais detalhado. mas não estamos seguros em lado algum, ouviu dentro de si. em linha recta, a abordagem do pássaro chegou. 'e então, poseur, vejo que gostas de observar, de controlar o mundo à tua volta'. pensa lânguidamente se vai responder. pensa que controlar, no seu caso, é controlar-SE. não deixar os fantasmas subirem ao palco. matá-los e à sua espessa sombra. continua a pensar no registo a adoptar. sai-lhe uma tentativa quase articulada de dizer qualquer coisa: 'se pensas que observo como aquelas aves que observam, para melhor prepararem o seu mergulho letal, enganas-te; observo a estética do absurdo, para melhor me instruir. e para melhor me defender. vê-se que não estudaste psicologia ('história da arte' - ouvi bem?), caso contrário terias percebido que a pose pode ser o registo mais neutro possível; apago-me para poder resistir a mim próprio, no fundo sou apenas um rapaz e o seu omnipresente mas não plenipotenciário ministério da defesa' ('caraças para ti, falas com palavras impenetráveis!') 'não, caraças para ti, falo com palavras-couraça, única defesa possível para afastar da minha própria boca as palavras simples. que, como todos sabemos, são as únicas palavras que incendeiam o mar e que apagam o sol. não me digas que não sabes isto, em que planeta é que tu vives?!!?'.
a batida continua, a negritude sonora faz o pleno por entre os corpos que brilham. o fumo arrastado de sábado à noite. patilhas bem escanhoadas e camisas abertas a preceito rimam com feminis brilhos avulsos de peles meticulosamente paramentadas. the beat goes on.
'o suor não tem aqui lugar, nem a visceralidade do coração' - pensa para consigo. 'poseurs de sábado à noite, amadores ridículos'.
puxa a cigarrilha, cuja ponta de fogo parece um foguete luminoso cruzando o céu da cidade. cá fora, sózinho, é ele outra vez.

poetas cá de casa: rosa alice branco

voltar a setembro

(..) e rente
ao mar - aceso - sempre o lume de setembro


dia a dia

estamos sempre a perder coisas,
as mais frágeis, ou as que caem pelo caminho
quando abrimos os braços para receber (..)


centomeia

deste-me todos os frutos
e eu multipliquei as mãos
para te olhar nos olhos.


pequenos fragmentos e poemas a partir de
'da alma e dos espíritos animais'

o 'aqui'

o 'aqui'
acorda no mundo do poema
e ressuscita-me.

não digas o meu nome.
toca-me com a doçura do arco
e diz: 'tu' ou
'estás aqui'.
são palavras voadoras
que nunca falham o alvo.


obra publicada:

'a mulher amada' (1982)
'animais da terra'
'a mão feliz – poemas d(e)ícticos'
'o único traço do pincel'
'da alma e dos espíritos animais'
'soletrar o dia. obra poética'
'a palmeira de kairouan'
???

pop, pop & away (refrão pop do ano?)

of montreal, 'gronlandic edit'

porque, por vezes, a imagem nos distrai do essencial, não obstante existirem diversos videos no 'all-mighty-you-tube', optei por vos mostrar apenas o som.
se repararem na barra da direita, verão uma nova entrada: os 'of montreal' brindam-nos com uma cançãozita.. que ilustra, quase pedagogicamente, o poder imenso de um refrão pop..

escutem e cantem comigo!

11 maio 2007

não é por nada mas..

..antes de fechar o computador, espreitei o blog.
no contador, lia-se: 7077 hits.

7

7 x 7 x 7

(no further comments)

:-?

bom fim-de-semana!

once i used to call it home


el perro del mar, '(God knows) you gotta give to get'

10 maio 2007


everly brothers, 'all i have to do is dream'


bobby darin, 'dream lover'

erros meus, má fortuna..

em tempos de menor fortuna, tudo serve.
constatei hoje que: o pequeno contador que ornamenta este jardim atingiu as 7000 visitas; o meu perfil foi consultado 700 vezes; no dia 25 deste mês faz 7 meses que plantei as primeiras sementes neste jardim - e logo em maio, mês que é conhecido como o 'mês das flores'.
ou seja 7 x 7 x 7..
7, dizem, é um número cabalístico. atrai a sorte.
nunca fui destas coisas, nem sequer me interesso por jogos (aborrecem-me daquele tédio próprio dos dandies, perante certas minudências da vida) ou pelo jogo. 'mind games' incluídos - que abomino, a bem dizer.
mas um homem, por vezes, é apenas um homem. isto é, nem sempre é possível ser-se Homem com maiúscula(s). assim é - dizem-me - a condição humana.
portanto, perante a constatação de que o 7 se cruza comigo, entrego-me ao 7. triplamente.

ínvios são os caminhos.

pelas paredes de lisboa

trabalho 2 horas por dia. dou-me por satisfeito.

não há eleições. d. sebastião volta para a semana.

nem a miséria do capital, nem a opressão do estado, nem a ilusão de deus: movimento anarca.

o mundo anda escuro; ilumina a tua parte.

poetas cá de casa: helga moreira

a tua voz ao telefone
entre um fax,
o correio electrónico
e outras banalidades,
a tua voz,
é o único sinal
de deslumbramento
nesta tarde.


in 'os dias todos assim'

apenas do amor quero tão alto preço
do mais pouco ou quase nada peço
dias há em que o verso pede rima
como este a querer o que estima

e que não direi; pois que a vida
se se sente desordenada
ou em ardor que começa e finda
imprevisível em cada coisa e nada

ninguém assim o determina.
apenas de quando em quando vestígios
por entre duas cidades, dois rios

um a norte, outro a sul que te imagina
ou balouça ou adormenta se o penso
querer dizer aqui o que não posso


in 'tumulto'

se Deus com um sinal viesse
se em ti me prolongasse
a luz seria toda a luz
que nos merece

se Deus ou quem por ele
em ardor nos encontrasse
apenas o que em nós
é corpo e desejo de súbito

todo o amor seria
tempestade, acalmia.
e se Deus for corpo

se Deus for ave, te envie
em um sopro, o que me cabe
dizer-te algum dia, quem sabe.


in 'tumulto'

eu só de luz me sustento
de corpos, rostos irradiantes.
chega de coisas baças.
mas adiante.

apenas quero das horas
o instante
a cada instante.


in 'tumulto'

obra publicada:
'cantos do silêncio' (1978)
(..)
'os dias todos assim'
'desrazões'
'tumulto'
'agora que falamos de morrer' (2006)

o caminho

aquele que mantiver a serenidade e a esperança através da tempestade será bem-aventurado. estará preparado para os tempos de bonança - porque certa parte da bonança é fruto e resultado de um caminho interior e não de factores externos.

09 maio 2007

not sure if all these people understand


rem, 'nightswimming'
(canção mais que perfeita; canção 'mais que minha')

side by side in orbit
around the fairest sun

brigitte bardot & serge gainsbourg, 'bonnie & clyde'

08 maio 2007

32!

parabéns a.! + a.!

convido-vos a ver um pequenino video, que, de certa forma, ilustra os meus votos: fazer da vida uma aventura, cheia de música, cheiro a terra, sol-dourado, azul-céu.. uma aventura exuberante de alegria e sempre preenchida pelos outros! (que serão sempre quem pode dar sentido à nossa existência, quando somos pessoas 'simples e normais').

todos podemos ser o general decisivo, o cientista formidável, o líder transformador - para tantas pessoas (e bastaria uma que fosse) somos isso e muito mais. não precisamos de play station 3 para dizer:

'eu fiz'
'eu estive lá'
'eu fui'

ou melhor

'eu faço'
'eu estou'
'eu sou'



muitos parabéns!!

may our bodies remain

if time is my vessel, then learning to love
might be my way back to sea
the flying, the metal, the turning above -
these are just ways to be seen

we all get paid
some get faith before they die
then through the stars we will navigate
through the holes in your eyes

how many days will it take to land?
how many ways to reach abandon?

swoon, baby, starry nights
may our bodies remain
you move with me i'll treat you right, baby
may our bodies remain

there is love to be made
so, just stay here for this while
perhaps heartstrings resuscitate
the fading sounds of your life

swoon, baby, starry nights
may our bodies remain
as deep we move i'll feed you light, baby
may our bodies remain
in history i'll treat you right
i'm honest that way



interpol, 'public pervert'

07 maio 2007

the jam rocks, the jam rules..


the jam, 'going underground'

and the public gets what the public wants
but i want nothing this societys got -
i'm going underground, (going underground)

i wanna, i wanna, i wanna


the stone roses, 'i wanna be adored'

a fórmula

(..) abandonei-me ali mesmo na única forma de entrega possível. sobreviver? estilhaçar-me e voltar mais completa é a única forma de sobrevivência. (..)

menina limão dixit, a propósito de uma coisa 'definida' (ou talvez não..);
eu poderia ter escrito o mesmo, a propósito de uma coisa 'indefinida' (ou talvez não..).

tropecei nas tuas palavras, como quando tropeçamos numa evidência. outros dizem 'numa revelação interior'.
obrigado, assim se prova que os frutos 'ácidos' (por fora) podem ser os mais doces (por dentro).

http://meninalimao.blogspot.com

nos semáforos da rua de santa catarina

ao menos os teus olhos
permanecem verdes
todo o ano

jorge de sousa braga
in 'plano para salvar veneza'

06 maio 2007

half the person i was

she said :
'in the days when you were
hopelessly poor
i just liked you more..'

the smiths

04 maio 2007

da graciosidade imaculada


a scene taken from 'breakfast at tiffany's'

there was once a very lovely, very frightened girl.
she lived alone except for a nameless cat.

03 maio 2007

new school classics #3


rufus wainwright, 'poses'

poetas cá de casa: rui pires cabral

'e entender / de súbito que tudo é por acaso'


fotografias

nesta vida – é um facto – estamos sempre
a desaprender coisas novas. o mundo
vai guardando a luz nas suas bainhas negras
e temos a melindrosa companhia dos fantasmas
que nos procuraram: eles governam rudemente
os nossos pequenos reinos e há um ceptro novo

para cada coroação. de repente, com a volta
das estações, damos por nós muito mais velhos
nas fotografias. as razões que nos assistiam
empalidecem em paisagens cruelmente coagidas
pela luz. fomos expulsos dos grandes palácios

da alegria? onde estão os mapas que nos guiavam
lá dentro, exactos como o instinto? não sabemos
responder: o caminho turva-se: são as incertezas
da maturidade. as palavras não nos iluminam
e o amor está condenado aos defeitos naturais
do coração, que ainda assim há-de voltar a arder

sem defesa nem socorro uma vez mais.

abril

eu disse: quem pôs aqui este rio?
alguém tinha desenhado na paisagem
um cenário para a nossa história.
manchas inteiras de urze, papoilas,
giestas. até se disse em terena
que abril não vinha assim tão verde

há muito tempo. sim, tinha chovido muito
nesse ano, mas nada esteve por acaso,
nem o céu de manhã cedo nos castelos
com a erva a crescer dentro e fora das muralhas,
nem sequer a nossa primeira noite, aquela

em que esperaram por mim noutro lugar.
sózinho, sem outra defesa que não fosse
a minha própria solidão, eu estive onde tu
me pudesses encontrar. e depois subimos juntos
a rua molhada. e já chovia por abril sem o sabermos.

escuro

pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.
janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no verão.


obra publicada:
'geografia das estações' (1994)
'pensão bellinzona & outros poemas'
'a super-realidade'
'música antológica & onze cidades'
'praças e quintais'
'longe da aldeia'
'capitais da solidão' (2006)

que fazer? (let's sing another song, boys?)

o antónio lobo antunes crismou, há uns anos atrás, umas das suas obras com o seguinte título: 'que fazer quando tudo arde?'.

sempre lhe pareceu um título-programático - isto é, um título muito pouco retórico, que é outra forma de (quase) dizer o mesmo: as labaredas pouco têm de metafórico para o autor.

no espaço de uma semana, as coisas complicaram-se sobremaneira.

o que ele começa a entender:
que quando pensamos que pior é impossível, normalmente o desmentido segue dentro de momentos.

o que ele intui:
que o melhor nunca chega; que tudo parece sempre insuficiente; que as melhores intenções não pagam neste mundo.

ele sabe - porque tantas vezes leu - que o que interessa é quantas vezes nos (re-) erguemos e não quantas vezes se
c
a
i.

mas ele também sabe - vem em todos os manuais - que é raríssimo o feito de ganhar em todos os tabuleiros; que é muitíssimo mais fácil a estatística dizer-nos, olhos-nos-olhos, o quão possível é, ao invés, perder em todos os tabuleiros.

a estatística é uma coisa tramada, é o que é.

e então, chamamos os bombeiros ou deixamos arder, num último arrebatamento estético?

salva-se o humor cáustico em ca(u)sa própria, a boutade sempre bailando na ponta dos lábios, o excesso barroco de linguagem: se fosse num jogo de batalha naval, tinha acabado de perder metade da frota em poucos dias. n'est ce pas trop grave!

mas não é um jogo.
é um 'estudo de caso', é o que é.
o problema é o pronome possessivo.
o seu caso.

(his ships they're all on fire)

02 maio 2007

maio