21 maio 2007

a propósito de ian curtis e dos joy division

agora:

i wish i were a warhol silk screen
hanging on the wall
or little joe or maybe lou
i'd love to be them all
all new york city's broken hearts
and secrets would be mine
i'd put you on a movie reel
and that would be just fine.


assim começa «touching from a distance»,
biografia de deborah curtis, mulher de ian curtis.
num pequeno e honesto poema de são valentim
ian capta as coisas simples da adolescência,
tal e qual como elas são.
as memórias da sua mulher inspiraram um filme - estreado ontem em cannes -,
«control», uma das palavras-chave para compreender os joy division
e inspiradora de um universo que ainda nos cerca.
«control», termo que hoje obcecaria muito mais a jovem figura de ian,
imerso no mar de informação e de potencialidades do século xxi.
provavelmente ter-se-ia perdido muito mais cedo,
sem sequer lhe darmos atenção.
em «the mindscape of alan moore», o mítico argumentista de comics
alerta para a monstruosa gestação de informação nos últimos anos
e para a nossa incapacidade em geri-la e evitar que se multiplique cada vez mais
e mais e mais.
mas já perdemos o controlo disso
e o auto-controlo é um termo que só serve para baixar a tensão.
agora, vinte e sete anos depois, sabe-se como e onde ian morreu,
com quem falou pela última vez, o último filme que viu,
o último disco que ouviu.
se acontecesse hoje saber-se-ia muito mais.
não se contestaria a vida, o mito
e daqui a vinte e sete anos não nos lembraríamos dele.
a sua importância, e dos joy division, na música popular é inquestionável.
diz-se que nunca estiveram tão presentes como em 2007
e que este é o ano joy division,
há filme, reedições a chegarem e muitos artigos de imprensa para se escrever,
mas isso já é questionável.
tudo tem a importância que quisermos dar
e, no final, o que importa é a música.
essa é, intencionalmente ou não, lembrada por james murphy em «all my friends»,
single prestes a sair, devedor das guitarras de joy division,
e que inclui num dos seus formatos uma enérgica versão de «no love lost».
não tanto como a original, ninguém queria que fosse.
na memória, padecem as palavras de ian:

to never see you show your age
to watch until beauty fades,
i need it.
i need it.
i need it.


(respeitosamente citando a newsletter flur, da passada sexta-feira - o respectivo site pode ser encontrado na coluna da direita, na rubrica 'sementes e utensílios')