sim, recordo-me
recordo-me
de estar sentado ao teu colo, enquanto simulavas um cavalo a passo, depois a trote, depois a galope
de te saber feliz, rodeado pelos teus 7 meninos e meninas
de dizeres adeus à porta do nosso portão
de criares brinquedos para mim
do teu enciclopédico saber sobre tudo, das artes manuais à composição de uma orquestra, da química aos procedimentos administrativos
da tua memória viva de um mundo que foi o século xx em oliveira de frades
da tua paciência infinita
da tua preocupação de pai para com o meu pai, ainda pouco antes apenas teu filho
dos livros que me compravas, religiosamente, todos os fins-de-semana
das lágrimas que chorei no dia da minha licenciatura, por não te ver ao meu lado
da tua mão na minha, enquanto caminhávamos na gafanha da vagueira e tu me contavas aquelas histórias sobre tudo (tu sabias de tudo, de uma forma que nunca mais encontrei em ninguém)
do orgulho de ir às comemorações da província e saber-te fundador da banda filarmónica, dos bombeiros voluntários, etc.
de seres um cidadão exemplar
de escreveres cartas a todas as 'autoridades', sempre que havia assuntos que o mereciam
de sofreres com o grupo desportivo oliveirense como nunca te vi sofrer com o nosso sporting (até o médico te proibir de ires ao futebol)
dos piqueniques e dos passeios, dos magustos, de coisas de que tanto gostavas
de grande parte da vida teres sido fumador e apreciador de um copito, até a saúde e a força de vontade (pela ordem inversa) te terem alterado comportamentos
daquele verão de 1989, em que o mundo rebentou
dos iogurtes caseiros, com essências aromatizantes que me pareciam coisa de alquimista, com que me recebias e às minhas manas
das minhas infantis promessas de não comer pastilhas elásticas (que tu dizias faziam mal) e gelados, em troca de Deus te fazer vencer a luta contra aquela maldita doença, espécie de oração desesperada
de te ter dedicado mil livros que nunca escrevi, sempre sempre aparecendo na minha cabeça as palavras mágicas a ti dedicadas
da tua descrição do tempo em que, com um projeccionista teu conhecido, organizavam sessões de cinema ao ar livre, a rua que vai das traseiras da igreja antiga para a casa que foi dos teus pais servindo de plateia, as cadeiras pedidas emprestadas na escola de música que era ali ao lado, creio
sim, lembro-me. sim, recordo-me. sim, recordo-te. sim, recordo-nos.
chamas-te álvaro henriques de oliveira e silva.
no sábado, 30 de junho de 2007, terias feito 100 anos.
que digo..
no sábado, 30 de junho de 2007, fizeste 100 anos.
obrigado, avô.
de estar sentado ao teu colo, enquanto simulavas um cavalo a passo, depois a trote, depois a galope
de te saber feliz, rodeado pelos teus 7 meninos e meninas
de dizeres adeus à porta do nosso portão
de criares brinquedos para mim
do teu enciclopédico saber sobre tudo, das artes manuais à composição de uma orquestra, da química aos procedimentos administrativos
da tua memória viva de um mundo que foi o século xx em oliveira de frades
da tua paciência infinita
da tua preocupação de pai para com o meu pai, ainda pouco antes apenas teu filho
dos livros que me compravas, religiosamente, todos os fins-de-semana
das lágrimas que chorei no dia da minha licenciatura, por não te ver ao meu lado
da tua mão na minha, enquanto caminhávamos na gafanha da vagueira e tu me contavas aquelas histórias sobre tudo (tu sabias de tudo, de uma forma que nunca mais encontrei em ninguém)
do orgulho de ir às comemorações da província e saber-te fundador da banda filarmónica, dos bombeiros voluntários, etc.
de seres um cidadão exemplar
de escreveres cartas a todas as 'autoridades', sempre que havia assuntos que o mereciam
de sofreres com o grupo desportivo oliveirense como nunca te vi sofrer com o nosso sporting (até o médico te proibir de ires ao futebol)
dos piqueniques e dos passeios, dos magustos, de coisas de que tanto gostavas
de grande parte da vida teres sido fumador e apreciador de um copito, até a saúde e a força de vontade (pela ordem inversa) te terem alterado comportamentos
daquele verão de 1989, em que o mundo rebentou
dos iogurtes caseiros, com essências aromatizantes que me pareciam coisa de alquimista, com que me recebias e às minhas manas
das minhas infantis promessas de não comer pastilhas elásticas (que tu dizias faziam mal) e gelados, em troca de Deus te fazer vencer a luta contra aquela maldita doença, espécie de oração desesperada
de te ter dedicado mil livros que nunca escrevi, sempre sempre aparecendo na minha cabeça as palavras mágicas a ti dedicadas
da tua descrição do tempo em que, com um projeccionista teu conhecido, organizavam sessões de cinema ao ar livre, a rua que vai das traseiras da igreja antiga para a casa que foi dos teus pais servindo de plateia, as cadeiras pedidas emprestadas na escola de música que era ali ao lado, creio
sim, lembro-me. sim, recordo-me. sim, recordo-te. sim, recordo-nos.
chamas-te álvaro henriques de oliveira e silva.
no sábado, 30 de junho de 2007, terias feito 100 anos.
que digo..
no sábado, 30 de junho de 2007, fizeste 100 anos.
obrigado, avô.
11 Comments:
e é por tudo isso, que és uma pessoa muito especial!
O teu avô era um figurão, um bon-vivant, um folgazão, um homem bom. E não podia ter tido melhor recordação do que esta, nos 100 anos que passam!
abraço
Gi.
Tocaste-me no coração sem explicação possível.
estranha e bonita coincidência
(eu também recordo. hoje.)
difícil de comentar as v/ generosas palavras.
1. ..a teus olhos, a teus olhos, senhor ou senhora anónimo(a) - apenas e só isso..). :-).
2. ..um homem bom, isso mesmo. tão simples e tão complexo. tão raro. um abraço.
3. ..tocar no coração é um dom raro e precioso. espero ter estado à altura. fico, de certa forma, feliz pela 'estranha e bonita coincidência'. há coisas assim, em que a explicação é o menos importante.
flores para todos, e muito obrigado.
gi.
gi.
(...)
plus-two-for-joy!
http://artic-bar.blogspot.com/2007/02/blog-post.html
http://artic-bar.blogspot.com/2005/11/sobre-as-canes-que-fazem-o-corao-bater.html
e uma flor de volta para ti.
http://ia301121.us.archive.org/0/items/electrelane2004-09-21/electrelane2004-09-21t06_64kb.mp3
pack up;
i’m straight;
enough;
oh say, say, say;you'll
oh say, say, say;you'll
oh say, say, say;you'll
oh say, say, say;you'll
oh say, say, say you'll
wait, they don’t love you like I love you;
wait, they don’t love you like I love you;
ma-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-aps;
wait! they don’t love you like I love you.
(electrolane: just discovered those girls in guitars - they are also on fire and i like girls on fire).
a flor chegou viçosa :-).
(surpreendes-me).
obrigado, pois e portanto.
gi.
Avô... pai de pai. Mais que figura de memória,Álvaro Henriques, foi o avô de meninos, o exemplo de homem, a pessoa que se ama inexplicavelmente através de percursos de vida... pela simples razão, que posuía na pele e na alma, o amor e a partilha.
Gostei muito, mesmo.
Bj.
abraço-vos.
gi.
(...)
bj
:)
ana rita,
un dress,
daqui até aí, a minha gratidão.
(e coisas à solta dentro de mim).
obrigado.
gi.
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