31 maio 2011



#28

ryan adams, um anti-herói da nossa especial predilecção, vem, finalmente, a portugal. não me canso de (vos) dizer: 'heartbreaker', já do longínquo ano 2000, é um disco fora-de-série, absolutamente magnífico. love you, ryan! - como dizem os miúdos e as miúdas, nos concertos da vida.


contos. ou short stories, em inglês literário. um sub-género que nos tem dado obras-primas absolutas. dos clássicos russos (anton tchekov, por exemplo), aos americanos sulistas (flannery o'connor, por exemplo), aos cultores do 'novo romance americano' (j.d. salinger, por exemplo) - seria um nunca mais acabar de brilhantismo.

este domingo, mergulhei verticalmente no livrinho ali de cima, na sua recentíssima versão portuguesa ('os amores difíceis', editora teorema).

treze contos, todos intitulados 'a aventura de..' (um soldado, um bandido, uma banhista, um empregado, um fotógrafo, um viajante, um leitor, um míope, uma mulher casada, um casal, um poeta, um esquiador, um automobilista), escritos entre 1949 e 1967. são praticamente todos magistrais exercícios literários, demonstrando por que razão italo calvino é considerado um dos escritores maiores do enorme século xx.

um domínio perfeito da língua (que se adivinha, mesmo que vertida para português), uma inventividade notável, uma noção de tempo a roçar o insultuoso (por ser tão bem conseguida!), uma capacidade de criar espaços psicológicos consistentes, um atrás do outro, um longo etc. de elogios e encómios..

dos treze contos, alguns entram directamente para o meu altar - 'a aventura de um empregado', 'a aventura de um viajante', 'a aventura de um casal', 'a aventura de um automobilista' -, mas é um exercício algo espúrio exercer este tipo de escolha.

deixo-vos com o final do conto 'a aventura de um esquiador'. penso que o melhor que posso fazer por este livro é deixar-vos a sós com o seu autor. diz apenas assim:


'A rapariga já se tinha lançado para a descida e seguia e seguia com os seus tranquilos ziguezagues, agora encontrava-se já onde as pistas estavam mais batidas pelos esquiadores, mas, no meio de todo o disparar de silhuetas confusas e intercambiáveis, a sua figura apenas desenhada como um oscilante parêntese não se perdia, continuava a ser a única que se podia seguir e distinguir, subtraída ao caos e à desordem. O ar estava tão nítido que o rapaz dos óculos verdes adivinhava sobre a neve o denso reticulado das marcas dos esquis, direitas e oblíquas, dos rastejamentos, das corcovas, dos buracos, das pancadas das raquetas, e parecia-lhe que ali na informe confusão da vida estaria escondida a linha secreta, a harmonia, só localizável pela rapariga azul-celeste, e que seria este o milagre dela, o de escolher a cada instante no caos dos mil movimentos possíveis aquele e só aquele que era certo e límpido e leve e necessário, aquele gesto e só aquele, no meio de mil gestos perdidos, que contava.'


perante isto, resta ajoelhar e dizer: obrigado, Senhor Calvino por saber dizer o que nós, às vezes, gostaríamos de saber dizer.


creio que se aproxima, a passos largos, uma espécie de pausa nas lides aqui do flores. não prometemos parar totalmente, nem prometemos voltar; não prometemos fugir, nem prometemos regressar. não prometemos nada de nada. ou melhor, apenas prometemos love, music, wine and revolution. mas isso já todos - nós e vós - sabíamos, não já?

30 maio 2011


gil scott-heron: 1949-2011.
o homem que nos ensinou que 'the revolution will not be televised' partiu.
teremos saudades, como sempre temos de quem fez a diferença. e de quem fez por fazer essa mesma diferença.

e.
e.
cummings:

the man who told us that 'yes is a pleasant country'.


m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a, esta cançãozinha.
in 'toque dela', o novo disco do brasileiro marcelo camelo.

29 maio 2011



#27

em 1972, ano em que nasci, david ackles gravou um disco mítico, na história da música popular norte-americana, de seu nome 'american gothic'.

andei 10 anos 10 à procura deste disco. um dia, o dono de um café que frequento às sextas-feiras e alguém que faz o favor de ser meu amigo, ofereceu-me uma cópia (desculpem-me os juristas, a editora e o autor, acima de tudo..). acho que, nesse gesto, nasceram as verdadeiras fundações daquilo a que chamo uma amizade improvável.

esta canção faz parte do alinhamento desse disco. é uma canção aparentemente de uma enorme simplicidade e quase candura.

é também uma canção que esperou por mim. e isso é tanto. e isso é tudo, em certos dias.

the tree of life, de Terrence Malick é um filme assombrosamente belo.

um brasileiro bem humorado disse, aqui há uns tempos, que 'a estética estica a ética'. creio que é isto o que ele queria significar.

como nota de rodapé, temos que dizer que Sean Penn, num pequeno papel, mostra porque razão é herdeiro de todas as nossas cinematográficas devoções mais clássicas. não é um actor, é um Homem que calhou ser Actor - and that makes a hell of a difference.

voltando ao filme, e ao seu visionário criador, apenas vos posso dizer: ide. ide!


sim, adoro-as - a ela e à canção.

#26

"the things i have done to you in my dreams."

in ("Waking the Dead", Season 4, Episode 1") - epígrafe para o mais recente opus da excelsa Ana Teresa Pereira.

e outras coisas também..
michael stipe, por exemplo, ali em baixo. uma tshirt justa, dizendo 'emotionally unavailable' - essa triste malaise pós-pós-moderna.

michael stipe, por exemplo, ali em baixo. limpando, discretamente, uma lágrima, dizendo provavelmente 'emotionally engaged' - essa melancólica máquina de comoção permanentemente ligada.

assim vai o mundo, desgovernado entre as margens que o oprimem e definem. como um rio selvagem, domesticado contra-natura.

28 maio 2011

uma coisa eu sei:
há constelações invisíveis que nos fulminam,
tão extrema é a sua - a tua - a nossa
imperial beleza.


um dia, gostava que te lembrasses de mim como aquele rapaz que chorava sempre, aos primeiros acordes desta canção. ou ao dizer poesia, de cor, com a voz embargada, atropelado pelo seu coração indomável. ou ao dizer gosto de ti, sem jeito. ou, a meio de todas as noites loucas, quando a tua pele me salvava de mim próprio e de todas as dores do mundo. um dia, gostava que te lembrasses de mim como aquele rapaz do inverno que sonhava com o verão dos teus olhos. a kind of boy with a kind of thorn in his kind of side..


#25

(..)

27 maio 2011

#24

'(s)he who seeks does not find, but (s)he who does not seek will be found.'

franz kafka

não, não estive.
e, contudo, apostaria, singelo contra dobrado, em como estive - se não em corpo, decerto em espírito. e no(s) espírito(s).
também poderia aqui escrever um poema com quatro palavras:
(desperate
kingdom
of
love)
mas era demasiado - obscenamente - óbvio, não era?
e, no entanto, nestes quase cinco anos, nunca escrevi sobre outra coisa..
(mas há outra coisa, senhoras?)
hoje, repito hoje, poderia escrever tanta coisa, repito tanta.
não o farei, no entanto, de forma absolutamente deliberada, repito deliberada.
preparo o regresso ao silêncio dos bosques - the healing game is on, again. repito, ao silêncio.
repito-me. ad eternum, ad nauseam.

26 maio 2011



#23

se cinquenta pessoas cortarem, num cruzamento, para a direita, há uma mais do que razoável probabilidade de me encontrarem a inflectir para a esquerda.

por isso, nunca poderia gostar muito da pop elegante, mas algo óbvia, de likke li.

mas como a vida não gosta, regra geral de too bold statements, a menina likke li resolveu gravar a cançãozinha que podeis escutar acima e abaixo, a cores e a preto e branco..

primeiro corolário lógico desta manhã: cuidado, rapaz, com a intensidade dos eixos gravitacionais, com pseudo-estanquicidades. everything's moving. everything's moving fast.

segundo corolário lógico desta manhã: o eyeliner é o melhor amigo das raparigas - e, para mim, a maior invenção de sempre da humanidade ;).



#22

stop moving.

25 maio 2011



#21

a angústia de certo jogador de xadrez não é tanto o tempo, que se vai esgotando, antes a (as)simétrica e (as)síncrona - opaca - mente do seu brilhante opositor.

a angústia de certo jogador de xadrez não é tanto o adversário, de classe mundial, antes o seu próprio inescapável movimento em direcção a esse mesmo oponente - independentemente de quão temerário possa tal gesto ser, independentemente do seu real grau de capacidade e de preparação.

against all odds.


#20

em
1
9
8
6,
quando
ainda
estávamos
- ambos -
vivos.
#19

era tão estupidamente fácil
escrever hoje um poema
que fizesse rimar os teus olhos,
plenipotenciária faísca que aqui recupero,
com o alinhamento completo
de um concerto concreto.

a verdade é que ontem
mergulhei de (na?) memória
trajando um fato bem preto
- uma espécie de dark undercoat
ligeiramente desvairado,
e mais do que virado do avesso.


#18

leave your home
change your name
live alone
eat your cake
vanderlyle crybaby cry
though the water's a-rising
still no surprising you
vanderlyle crybaby cry
man, it's all been forgiven
swans are a-swimmin'
i'll explain everything to the geeks
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
vanderlyle crybaby cry
though the water's a-rising
still no surprising you
vanderlyle crybaby cry
man, it's all been forgiven
swans are a-swimmin'
i'll explain everything to the geeks
hanging from
chandeliers
same small world
at your heels
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
all the very best of us
string ourselves up for love
vanderlyle crybaby cry
though the water's a-rising
there's still no surprising you
vanderlyle crybaby cry
man, it's all been forgiven
the swans are a-swimmin'
i'll explain everything to the geeks
i'll explain everything to the geeks
i'll explain everything to the geeks

24 maio 2011

#16

(importante post scriptum: ocorre-me que nem sempre o que escrevo me 'soa bem'. muito menos o que digo, verbalmente. vale-me, num e noutro caso, o facto de saber que aquilo que sinto, regra geral, me soa bastante melhor. e ainda mais aquilo que sou. nem sempre conseguirei transmitir, com justeza, fidelidade, rigor, aquilo que quero dizer. mas aquilo que quero dizer, à luz do que sinto, do que penso, do que tento ser, é, julgo, bonito. asseguro-te que é mesmo muito bonito. mas, lá está, o meu discurso, esta linguagem que tento esculpir, fica longe, muito longe, do que gostaria mesmo de te dizer. saber viver com as imperfeições é também isto - aceitar os problemas de expressão, de toda a gente, desde logo, e em lugar muitíssimo destacado, os nossos próprios.. e 'voar', para além deles. ou, como diria a nossa muito amada ana luísa amaral, 'voar e ser mais que feliz'.)


#15

penso em david bowie. e, de david bowie até ti, vai a distância imaterial de um nano-segundo.
penso agora em ti. e, de ti até mim, parece que vai a distância material de um milhão de anos-luz.
(let's dance?)
bem cedo, no meu matinal périplo pelo meu bairro, enquanto pensava em tanta coisa tanta, veio ao meu encontro um dos sem-abrigo que vai prestando pequenos biscates pelas imediações, ajudando no mercado local a descarregar mercadorias, sinalizando complexas manobras de arrumação de viaturas, etc.

tenho, um pouco pela cidade, uma rede informal de conhecimentos deste género, entre os desvalidos da vida. neste caso, costumo dar a este homem metade do meu pequeno-almoço - hábito que mantenho, há anos, com quem calha, digamos assim. ao fazê-lo, uma vez mais, deu-me um abraço e disse-me:

- amanhã, vou-me embora. vou ser internado, ali no júlio de matos. desintoxicação alcóolica. não, não regresso, sigo para outra comunidade, a ver se deixo também os cigarros. faço-o pelos meus filhos e netos (nunca pensei que fosse já avô, devo dizer-vos). muito obrigado.

quando notei as lágrimas à beira dos seus olhos, endireitei-me e dei-lhe os parabéns pela coragem. e agradeci o seu obrigado. uma forma, creio, de me defender a mim próprio (como diz a canção ou o poema ou lá o que é: 'eu que me comovo por tudo e por nada' tenho que iniciar manobras de diversão de mim próprio, sob pena de andar sempre de gatas.).

esta é só mais uma história da cidade que calhou ser esta. mas diz-nos muita coisa. diz-nos, por exemplo, que, mesmo esperando que tal nunca venha a acontecer, se um dia existir uma espécie de revolução, adivinhem de que lado me vão encontrar. isso mesmo, desse lado.


#14

23 maio 2011



#13
da luminosidade

. há uma pessoa, 'desconhecida', que me tem feito pensar bastante. talvez eu não lhe dê a entender exactamente isso, mas a verdade é que as suas palavras têm sido deveras importantes. tennessee williams e a sua 'kindness of strangers'.

. ao início da madrugada, sms cruzam a noite. agradecem, muitos meses depois, algo muito simples (mas que a modéstia não me permite escrever aqui). dormi embalado por essa tão inesperada gratidão, pela memória dessas noites em que fazia frio. que pena tenho de não conseguir ser sempre assim, como fui - at my most beautiful and kind, i guess. disparate. a verdade é que i'm working on it. so help me God.

. um polícia conduzindo um invisual, pelo braço, contornando obras de ocasião (formidável obstáculo para quem não vê). por mais palavras que escreva, por mais belas que sejam as minhas catedrais semânticas, nunca chegarei aos calcanhares do que representa o gesto, o exemplar poder do exemplo. apeteceu-me parar o carro e dar um abraço àquele homem, que calhou ser polícia. enquanto, no habitáculo do carro, twin shadow ia fazendo das suas, a luz tinha acabado de ganhar. outra vez.


#12

tenho duas algibeiras cheias:
uma, de sonhos; a outra, de bilhetes daqui para fora.
metade eram para mim; metade eram para ti.
de maneira que é assim.

22 maio 2011


#11

só o nascer do dia

"(Walter) Benjamin faz uma distinção entre a arte e a vida. As obras de arte pertencem à nossa noite, como estrelas. Não nos salvam. Para nos salvar da noite só o nascer do dia (..). O coração da arte não é salvar a vida humana. Há quem sofra por causa disso (..)."

Maria Filomena Molder


#10

há dias em que, também a mim,
me mete nojo o que fazemos
do Amor que fazemos.

há noites em que, sobretudo a mim,
me mete pena o que fizemos
do amor que (não) fizemos.

21 maio 2011


#9


#8

se eu fosse uma miúda, acho que gostaria desta canção.
eu não sou uma miúda. talvez por isso mesmo, goste tanto de quem tanto gosta das coisas de que eu gosto, das coisas que eu gasto. até ficar tonto. tanto.

20 maio 2011

#7

sehnsucht nach einem dolch*, 1917

um rapaz e uma rapariga, gente jovem a valer dos nossos tempos. oskar e emma de seu nome, amavam-se. era profundo o seu amor, e ninguém duvidava menos e acreditava com mais fervor neste facto do que eles próprios. até aqui tudo seria perfeito, só que havia qualquer coisa que lhes faltava, e vamos dizer já o que era esta qualquer coisa estranha e fabulosa que lhes faltava. ninguém, para onde quer que olhassem, os impedia. tinham licença, por assim dizer, para se amarem, beijarem, beijocarem e explorarem, sempre que para tal tivessem vontade. mas era precisamente esse o problema: na ausência de entraves, cada vez menos tinham vontade de se dedicar a esta edificante ocupação. se alguém viesse intrometer-se e os proibisse de trabalhar, a vontade deles seria tanto mais forte. os dois bons e excelentes jovens adoeciam por virtude de uma abundância de liberdade, e os seus suspiros tinham por motivo uma falta de obstáculos. pois a ambição deles, é preciso que se saiba, era a novela italiana, e como é do conhecimento comum as novelas italianas contam a história de amantes que se amam tão fogosamente, tão intimamente e com tão grande paixão apenas porque não devem. oskar e emma, entre outras coisas, não tinham sequer pais cruéis e casmurros. faltava-lhes também o vilão que à noite espreita vilmente por detrás de um arbusto. sim, é verdade, não tinham sequer um vilão, o inimigo do amor, sempre terrivelmente desconfiado. mas tinham consciência de todas estas falhas e afligiam-se muito com elas. ó triste era moderna, quadrangular e abstémia, ó indigna época das companhias aéreas e das viagens à volta do mundo, agora bem vês como às tuas mãos sofrem todos os amantes àvidos de aventuras. o amor de oskar e emma morria aos poucos, e porquê? exacto, por não haver perigo. ninguém os ameaçava, ninguém lhes fazia frente, e assim começavam a adormecer no cumprimento da sua actividade. sempre que a actividade é concedida às cegas e sem mais, depressa começa a aborrecer e a retrair os movimentos. é esta a terrível anedota dos tempos em que estamos condenados a viver: tudo é permitido. mas quando tudo é tão vilmente permitido, quando os amantes podem abraçar-se à vontade, sem que um deles tenha que olhar à sua volta, cheio de receio e sofrimento, para ver se algum perigo se abate sobre eles, tal implica a impossibilidade da novela italiana. oskar e emma queriam fazer uma novela, mas ela não singrava, começava a soçobrar. o estilo torna-se flácido. querer criar uma novela genuína na ausência de qualquer perigo: eis um princípio pouco auspicioso. os perigos afinal são as veias e os impedimentos são a vida de uma novela. e já não há impedimentos neste mundo sem carácter nem orgulho, incapaz mesmo de alimentar um nobre preconceito. as crianças podem vir ao mundo quando bem entenderem, antes ou depois do laço sagrado. oskar e emma bem o sabiam, e uma enorme angústia fincava garras nos seus jovens corações. os pais deles eram gente sem preconceitos, oh miséria. mas, na ausência de preconceitos, a novela é impossível. as novelas só podem singrar no terreno selvagem e precioso dos preconceitos arreigados. onde haja alguém que seja indiferente, e onde não haja ninguém que não seja indiferente, também não pode haver histórias de amor. nas antigas novelas italianas, ninguém é indiferente, e é por isso, é por isso que oskar e emma teriam preferido morrer. mas morrer não é assim tão fácil na ausência de um punhal que peça para ser desembainhado. oskar e emma quase que morrem de *saudades de um punhal.


robert walser
in 'histórias de amor', editora relógio d'água


#6

o não-concerto do ano. e tinha bilhetes, até desistir de te bater à porta.
às vezes, odeio ser razoavelmente bem educado. it gets me nowhere. it gets us nowhere.



#5

se pudesses escolher só uma, qual delas seria?
às vezes, a história alternativa é uma coisa terrível; outras vezes, a história real é ainda pior. já agora, um mui terno conselho: não, não acredites em determinismos. é um conselho muitíssimo amigo de quem já leu (quase) todos os livros - incluindo esses de sabor italiano antigo, que tanto idolatras.
repito: se pudesses escolher só uma, qual delas seria?

(disse Camus, que das coisas da vida saberia decerto bastante mais do que eu, que 'la vraie générosité envers l'avenir consist à tout donner au présent.')

19 maio 2011



#4

you were beyond comprehension tonight
but i understood, i understood
if only i could hold time
hold time, hold time

18 maio 2011



#3

claro que poderia escrever horas a fio, cruzando milhares de partículas subcutâneas com a cor avelã dos teus olhos.

claro que poderia dizer-te que cruzei meia-lisboa para escutar o meu amigo m.ward cantar uma linha - uma estúpida linha de uma estúpida canção -, aquela em que ele fala dessa coisa que é o 'endless summer in your eyes'.

claro que poderia ser, como é quase toda a gente, e como parece que achas que eu sou, um bocadinho egoísta, e escrever aqui um pedido que metesse as palavras carpintaria, cofragens, portas, janelas, postigos - uma entrada qualquer, por mais suave, por mais minúscula, que fosse.

tudo isto seriam possibilidades plausíveis - creio que razoáveis até. mas não, não vou por aí, pelo caminho mais óbvio ou mais fácil (ou porventura mais desejado).

para ti, tenho apenas um pedido, dito, ali em cima, com muito mais beleza do que alguma vez serei capaz: por favor, 'let the happiness in'.

até eu, eventualmente 'blinded by the daisies in your yard', sou capaz de ver o quão importante isso pode vir a ser. para quem? para ti. para ti. para ti.

o que foi que eu te prometi, afinal? não desistir de te trazer de volta ao mundo. com delicadeza e com flores. 'all that i've got'.

17 maio 2011




#2

quando gostamos de menos, podemos tudo (porque nos controlamos, cerebralmente). quando gostamos demais, podemos pouco (porque nos atropelamos a nós próprios e a tudo o resto - o que te inclui a ti). que sentido isto faz? nenhum sentido, provavelmente - mas quem disse que a realidade tem que ter um sentido?

pensei em 176 formas de te dizer isto (e mais umas quantas coisas, em boa verdade) e talvez tenha escolhido a pior (esta). mas só escolhi a pior porque nenhuma das outras 175 me pareceu suficientemente boa - isto é, suficientemente desmedida.

o silêncio, em dias cinzentos, é uma violência. mas o silêncio é, também, uma forma inigualável de apreço - porque o sacrifício voluntário, expressão tão em desuso, nestes dias de espuma e velocidade, é um acto formidável da vontade.

anular em nós o que em nós grita é uma brutal oficina. não é para todos. e muito menos é para todas.

é assim que estamos.

16 maio 2011



#1

sim, eu sei, fui um idiota. mas, deixa-me dizer-te, vou-te provar que eu não sou esse idiota - nem esse, nem nenhum. pagarei, entretanto, o meu elevado preço, noite fora, até seres dia. já parti, vejo pelo retrovisor, ao longe, o porto que deixei para trás; já parti, navego já, rumo ao teu mar alto. sem medo, de flor ao peito.

15 maio 2011

talvez o gesto seja tudo. se assim é, entreguei-te a coisa que mais me comoveu, nos últimos tempos. tem o formato de uma rodela metalizada e lá dentro tem tudo o que tenho sido, nestas últimas semanas. eu sei que o mundo não acredita na simbologia, muito menos na semiótica. talvez nem tu acredites e penses que uma rodela de metal é apenas uma rodela de metal é apenas uma rodela de metal. não é. isso sou eu no meu melhor (sem freios, maneirismos, receios, tiques, protocolos), mesmo que quem fale por mim tenha outro nome e nunca de mim tenha ouvido falar. como dizer? at my heels.
já fiz muito pior. já fiz muito melhor. mas, em ambos os casos, sei que fiz. talvez para os seres em piloto-automático deste mundo isto possa parecer assustador - esta propensão para a combustão -, mas, que querem, eu não tenho medo do século dezoito. muito menos me assusto com as histórias em torno de hércules. perguntem a john keats e ele dir-vos-à de que falamos, quando falamos assim.
sózinho, estive quatro horas, onde me não apetecia estar. às vezes, onde não nos apetece estar, acontecem-nos coisas. na sessão de encerramento do festival indie lisboa, esfíngico, sentia-me "de fora" (do meio, do cinema, do mundo). mas mesmo contra o que desejava, as coisas iam acontecendo, como sempre acontecem, mesmo quando nos apetecesse gritar ao mundo para que, por favor, pare. ontem, aconteceram duas coisas. a primeira foi escutar um pequeno texto sobre um filme singelo, no qual as palavras espera e encontro rimam com uma terceira que o pudor e uma certa reserva me impedem de escrever. escrevi-a, a frasezinha desse texto, no meu telemóvel, e quase que fiz "send". quase. o quase que permanece. a segunda coisa foi ser obrigado a mergulhar num filme com que não contava, o grande vencedor da noite. era já madrugada quando saí da sala, atropelado por esse filme que conta a estranha história do par de músicos e performers genesis breyer p-orridge e lady laye. o filme chama-se "a balada de genesis e lady jaye" e é um daqueles filmes que nos obrigam a abrir os olhos e a ver coisas pela primeira vez. lady jaye queria que se lembrassem dela, não pela arte, não pelos "statements", não pelos factos, mas sim por ter vivido uma das mais belas histórias de amor de todos os tempos. a gente ouve uma coisa assim e só apetece levantar e desatar a bater palmas, até as mãos estarem em sangue. eu sei que nem todos entendem. mas respeitem-na, sim? isto é: respeitem-me. isto é: respeitem-nos.
talvez a inabilidade seja uma força. talvez a fraqueza seja uma força. talvez a fragilidade seja aquilo que nos torna fortes - subtilmente fortes.
parece que alguém, com 17 anos, lançou um dia um primeiro disco, underground puro, sob a seguinte epígrafe: "não temos nada a dizer e dizê-mo-lo".parece que alguém, muitos anos depois, tem coisas para dizer. e di-las.

14 maio 2011


'cause where there is no pain there is no feeling.


na tua língua.
sexta-feira, 13

o teu quimono eléctrico, suave incendiário,
'and gravity was everyhere back then'.
cut-ups

para o caso (improvável, bem sei) de alguém me estar a ouvir:

obrigado!


não acredito no poder revelador do amor, nem em anjos brandos, nem na chama eterna de uma vela ardendo contra o vento.
não acredito na doçura dos céus de lisboa, nem na amizade ilimitada, nem nas múltiplas formas de salvação que me batem à porta.

mas acredito que as flores um dia tomarão o mundo,
tal como um dia eu tomarei em minhas mãos,
o que tomado estava já
pelas mesmíssimas
flores.

11 maio 2011


livros que dizem coisas (por nós).

livros que (nos) salvam.

queria escrever um poema que metesse
carson mccullers e flannery o'connor
nestas minhas-tuas esventradas veias,
e palmas para todos os tristes do mundo.

e escrevi.


em repeat, intensivo e intenso, no rádio do meu carro, desde domingo passado.


i'm in the belly of a canyon
i can't come up with any reason
why a ghost is following me
why a ghost is following me

i've got some feed for the longing

i've got the pillow for the bad dreams
the apparition dancing with me
stepping down all over my feet


there is no key to my gate

but you can still come around
lean your ladder against my window
and i'll come down

i'll come down

sometimes i don't know what i'm seeing

who's keeping track of all that's breathing?
there's a world that's waiting for me
there's a world that's waiting for me

i'm in the belly of a canyon

i can't come up with any reason
why a ghost is following me
why a ghost is following me

there is no key to my gate

but you can still come around
lean your ladder against my window
and i'll come down

i'll come down
i'll come down

10 maio 2011



para escutar em religioso - portanto, humano - silêncio.

Hoje, no Festival Indie Lisboa, a primeira exibição do documentário

En Compagnie D'Eric Rohmer / A Few Moments With Eric Rohmer
de Marie Rivière
Sections: Director's Cut
Documentary, France 2010, 100', Digibeta

Photography: Marie Rivière
Sound: Marie Rivière
Montage: Catherine Stragand, Marie Riviere, Rémi Crépeau
With: Eric Rohmer, François Ozon, Marie Riviere, Valeria Bruni- Tedeschi
Producer: Marie Rivière
Production: Marie Rivière

Marie Rivière is a frequent cast member in the films of Eric Rohmer. In 1978, she made her feature debut in his "Perceval le Gallois", a poetic adventure drama set in medieval times. Her first leading role was as the wife of a jealous young student in "La Femme de l'Aviateur", the first of six films in Rohmer's series known as Comédies et proverbes. In her documentary "En compagnie d'Eric Rohmer" Rohmer himself talks to artists such as Arielle Dombasle, Fabrice Luchini, Andy Gillet, François Ozon, Valeria Bruni-Tedeschi, Rosette and Noémie Lvovsky about their relationship to him as a director and as a friend.

(não temos muitos heróis, mas eric rohmer é, para nós, uma espécie de herói. educou-nos, com ternura e delicadeza, nas coisas do amor. não é coisa pouca, pois não? pois não.)
leio referências aos chamados "padres do deserto", aos "místicos católicos", a alguns grandes teólogos - tudo pela interposta e luminosa prosa do Padre José Tolentino Mendonça. nos auscultadores, rock and roll seleccionado, algumas electrónicas moderadas, pop de fina estirpe. perguntas-me que raio é isto? respondo-te que isto é apenas a maravilhosa fluidez do mundo livre. e mais não te digo, mesmo que me perguntes.

09 maio 2011



ligia fagundes telles foi amiga de clarice lispector e de hilda hilst. todas escritoras brasileiras, no tempo em que poucas mulheres faziam das palavras um modo de vida plenamente assumido. não quero, não posso, não consigo, imaginar o que seriam estas três grandes damas das letras tropicais juntas. mas que é bonito pensar nisso, desculpem, mas é. estupidamente bonito.

e, sim, isto é um poema.
cass mccombs. a guy you oughta know.

08 maio 2011


dez anos dez a escrever canções amarrotadas a que ninguém ligava nenhuma. uma década uma a cantar em bares subterrâneos, nos circuitos que, se novaiorquinos, dir-se-iam off-off-off-off-off-broadway, nos antípodas, portanto, do mainstream e dessa coisa a que chamam sucesso. uma vida a afinar o dente, as mãos, a lírica.. e nada acontece. depois, depois cansas-te e mudas de vida e de continente. tens um desgosto daqueles que fazem as pessoas mudar de vida e de continente e eis que, de súbito, parte da nação indie está agora a teus pés. sim, tens o som anos oitenta, mas diferente, a teu favor; sim tens as letras esquinadas, falsamente simples, reconhecíveis notas do teu biográfico diário, que facilmente suscitam adesão, por esse fenómeno conhecido que é o da identificação entre público e criação, entre público e criador. chamas-te george lewis, assinas como twin shadow e vais estar, daqui a um par de semanas, algures em portugal. na audiência, teremos os hipsters da noite, a rapaziada que segue a cartilha do santo design, metade da indústria dita criativa, uns quantos decerto ao engano. e mais uma pessoa, talvez duas, talvez uma micro-multidão de gente que, não tendo nada de especial, verá no teu espectáculo mais uma etapa dessa espécie de via sacra que é a nossa vida mais interior. fabuloso disco, senhoras e senhores, o deste rapaz. deixem-no assentar, voltem a ele, uma e outra vez, com uma atitude amorosa. e, talvez, a meio de um dia qualquer, entendam de que falamos, quando falamos de twin shadow; de que fala george lewis, quando nos fala ao ouvido, à pele, ao coração.



jamie woon, 28 anos, faz parte da "cena bass", desculpem a expressão. conjunto de músicos e de bandas inglesas que usam como tapete sonoro os princípios, mais puros ou mais matizados, do "dubstep", com roupagens especialmente nocturnas, urbanas - dir-se-ia um som sujo e hiper-moderno. no entanto, no caso de jamie woon, são também claríssimas as influências da soul clássica americana, ainda que filtrada, transformada, por técnicas de  electrónica. canções modernas e canções clássicas ao mesmo tempo. como diz jamie woon, este é um sacana de um tempo fantástico para se ser criador. mas, nunca se esqueçam, a técnica não chega, nunca chegou. na música, como no resto, é preciso mais, muito mais. tê-lo-à o nosso rapaz jamie? a ver vamos. por ora, ficam estas notas e um par de magníficas canções. este verão, portugal receberá jamie woon, num dos muitos festivais pop-rock. passem por lá e dêem-lhe um abraço por mim, vale? grazie.

07 maio 2011

"(..) parecia que tudo o que recebia como consequência das suas escolhas e de toda a sua liberdade, era sempre mais infelicidade."

in "Freedom / Liberdade", de Jonathan Franzen, tradução de Maria João Freire de Andrade, para a Dom Quixote.

"He'd lost his magic."

Assim começa este livro, de Philip Roth.
Só um homem o podia ter escrito, exactamente assim.

06 maio 2011


a ghost writer. nem mais.


i wrote this song for

de uma banda que desacelera canções, em plena era da velocidade; de uma banda cujas canções saltam de discos chamados 'i could live in hope', 'the long division', 'one more reason to forget', 'things we lost in fire', 'the great destroyer' ou 'drums and guns' pode-se esperar muita coisa. por exemplo, pode esperar-se um verso-refrão que diz apenas isto:

i'm nothing but heart.

05 maio 2011


'El botín de los años inútiles, que con tanto celo guardaste, disipalo ahora: te quedará el triunfo desesperado de haber perdido todo.'

rabindranath tagore, citado por julio ramón ribeyro (foto acima), em epígrafe ao livro, deste último, 'prosas apátridas' (edição portuguesa da editora ahab)


what's done is done; what's gone is gone.

[e um abraço muito especial ao ricardo mariano, que continua a realizar o mais belo programa de rádio que conheço ('vidro azul', na ruc e na radar). música espectral, nocturna, lenta - slow music for speedy hearts ou coisa parecida..]

04 maio 2011

quando se faz fotografia, mais cedo ou mais tarde, deparamo-nos com a técnica da dupla exposição. por sobreposição, em linguagem simples, criamos imagens irreais, oníricas, uma espécie de 'não-mundo', um limbo, que nos obriga a suspender o disbelief mais racional. é curioso, irónico, perturbante, que a dupla exposição - a acumulação de reais, portanto - resulte em algo que não existe, fantasmático. como se o excesso de factos criasse uma descontinuidade; como se a adição excessiva de realidades parciais nos conduzisse a um câmara de salvação - restaurando em nós essa fundamental capacidade de acreditarmos em novos mundos.
eu não sou fotógrafo. nem filósofo. mas gosto de ti na mesma - ainda que te saiba irreal, por resultares de um absurdo excesso de real.
se me perguntares se lamento, responder-te-ei como aquele homem respondeu outrora:
- que pena tenho de tudo o que não.
como um qualquer talento que morre ensimesmado, afastado de qualquer possibilidade de revelação, há no sangue que deixou de correr uma profunda e desolada tristeza.
- a doença da melancolia - disse-te o velhor doutor.
mas já tinhas perdido o luminoso sentido da audição.
guardo inteirinho o meu coração, gentil cortesia da ciência do frio e da criogenia mais crepuscular.
um dia, quando os glaciares descongelarem, lembrar-me-ei possivelmente de tudo isto, como um náufrago se agarra à última ideia de uma ilha, de uma praia, de uma bóia, de uma tábua - da tua mão: com tudo o que tem e o que não tem. com tudo o que foi.
a ferrugem do tempo. debato-me com essa particular ferrugem, as ever.


atravessar a cidade, manhã cedo, e ver, pela janela do carro, o céu azul-dourado-impossível reflectido no vidro. num slow motion imbatível, adivinhar os pensamentos dos rostos com que me cruzo, nos passeios, nas passadeiras, nos outros carros. o carro herméticamente fechado aos sons da cidade, mas o olhar maravilhosamente aberto ao que está lá fora - a vida a crepitar, algo assim. na rádio, há canções e há canções, umas e outras a embalar toda esta trip interior, este mergulho nas delícias do aqui e agora. e tudo é possível, outra vez, como se nestas viagens existisse uma formidável capacidade de regeneração dos meus tecidos emocionais. Deus, e mais umas pessoas, sabem que os hot cheap, nesta particular canção, dizem-nos que estão prontos para a queda (the fall) e não para a pista (the floor). talvez seja isso: quem está pronto para a queda, está pronto para tudo; e quem está pronto para tudo, está pronto para a vida - ou seja: para a pista. são assim as manhãs de lisboa, vistas a partir daqui.

03 maio 2011


um blog, antes do tempo. mas dos (muito) bons.
teus olhos debruados a negrito.
retirar tudo o que está a mais.
essa constelação de animais e de homens e de raparigas solitárias que acendem cigarros frios contra os céus nocturnos.
acredito na vida eterna e nas estrelas, e na possibilidade de as flores poderem tomar o mundo.
sim, admito, a mistura de uns olhos tristes com uma malaise auto-irónica pode ser uma forma de lucidez. sim, admito, a proximidade da decadência tem um perfume subtil, que me encanta. uma mosca a caminho da aracnídea teia será metáfora demasiado crua e óbvia?
lembro-me, não raro, daquele homem às voltas com um poeta em formação - um 'poeta trans', embora fosse de género perfeitamente definido. deve ser daí que vem o meu lado tolerante, 'gay friendly'. não é decerto por ser 'amigo da alegria', essoutro possível sentido - religião em relação à qual oscilo entre o agnosticismo feroz, o ateísmo convicto e a crença desconsoladamente inconsequente.

02 maio 2011

coppola
if
film is a girl and a gun
then
a blog is a gun is a girl.


(perguntas-me o que é escrever,
respondo-te como posso:)

pegar em todas as palavras jamais inventadas
em todas as línguas desde o início habitadas
e delas retirar tudo o que está a mais
até ficar só osso - meu -
e pele - tua -

(algo assim.)

01 maio 2011


ao david lopes ramos, em justa memória, poucos dias depois da sua morte. para mim, o mais humano dos críticos gastronómicos nacionais, que muito me ensinou. há uns meses atrás, chovia em lisboa desalmadamente, fui, com um querido amigo, de propósito almoçar ao restaurante "comidinha", em lagos, algarve, porque o david me mostrou que assim tinha que ser. foi um dos melhores almoços da minha vida, apesar da chuva ininterrupta e da tristeza de certas conversas com que matámos os quase 600 kilómetros. que descanse em paz. com um abraço comovido de um simples leitor que lhe deve ter redescoberto que a autenticidade é um valor universal, à mesa como na vida.
but i guess is fine
to love the girls who fight.

lambchop

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as coisas que ontem nos pareciam boas
não existem.

josé miguel silva

quando as minhas, as tuas pernas
não andarem e ao horário marcado
os comboios partirem finalmente a desoras
da estação de S. Pedro - e de todas as estações
até ao fim da linha - eu poderei finalmente
dizer de óculos escuros espreitando
sobre o vermelho do teu jornal meu deus
como eu te queria, como em sonhos
te sonhava rindo, só rindo, depois do tão pouco
prazer que as minhas mãos fora dos livros
te haviam de saber dar. esse meu livro
que nunca abro, esse meu livro que finjo ler
e afinal, não, nunca, só tu e a paisagem marítima.

helder moura pereira


'holes' dariam possivelmente 'crateras', quando vertidos para a nossa língua. por outro lado, esta é a mesmíssima banda que crismou uma das suas canções com o título 'dream of a young girl as a flower'. e assim vai o nosso pequeno mundo, neste domingo emprestado.