27 novembro 2008

..é também isto. e isto é..

25 novembro 2008




sim, regressei à cidade da praia, ilha de santiago, cabo verde.

como diria sir kingsley amis, pai do 'enfant terrible' das letras inglesas, martin amis:

'i like it here'.

como digo, por vezes: vamos falando?

21 novembro 2008

o meu estimado amigo JB decidiu, num daqueles actos de gentileza à antiga, convidar uma mão-cheia de escribas para escrever no seu blog pessoal, de sua graça adeus, até ao meu regresso.

no meu caso, é a primeira vez que aceito este tipo de desafio, não só por amizade a quem me convidou, mas também porque existiu um compromisso tácito que me diz muito: o caminho vai fazer-se simplesmente caminhando. ou seja, sabemos de onde partimos, não sabemos onde vamos chegar. mas, palpita-me, há ainda índias por descobrir. marinheiros num país de marinhagem, como dizer não à aventura marítima, nestes modernos mares electrónicos?

escrevo no adeus, até ao meu regresso, às sextas-feiras. passem por lá, descubram os meus companheiros de viagem, deixem-se levar na maré..

rêve oublié

neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti

agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna

continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo

contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada

abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
e no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

e no FIM disto tudo um azul-de-prata.



antónio maria lisboa,
in 'ossóptico e outros poemas'

20 novembro 2008

19 novembro 2008




como um anjo caído, passeando pela brisa da noite.

18 novembro 2008




nós os semióticos, ajoelhamos perante coisas pequeninas. a dimensão nada tem a ver com o impacto. o impacto é uma relação íntima, não partilhável e nem sequer demonstrável, entre uma coisa e o seu observador - no caso, nós.

é assim que se constrói uma espécie de religião pagã, quando os nossos olhos se transformam numa fulminante máquina de sentir. quando o significante é em muito ultrapassado pelo significado que, na nossa própria linguagem irreplicável e sem uso social, lhe atribuímos. uma foto não é uma foto. uma estrela, duas estrelas não são já uma estrela, duas estrelas.

não é uma ciência, porque não assenta no princípio da repetição fenomenológica, porque não resiste aos métodos dedutivo ou indutivo, porque não é reconhecido como um devir progressista e cumulativo. é antes um estado interior, grandemente inarticulável, luzes que só nós vemos, que só em nós têm impacto.

porquê ela? logo ele que tanto podia escolher. podia?
porquê até ao fim?
porquê?

'quando olhava para paul, dirigindo joanne, naquele filme, era como se contemplasse a mais extraordinária materialização do amor. não se podia olhar muito tempo, era como se se olhasse para uma porta errada' (para algo a que não pertencíamos? - acrescento meu).

assim falava um argumentista de um dos filmes que, por estes dias, o 'estoril film festival' revela a uma plateia que, em larga medida, desconhecerá a faceta de realizador de paul newman, nas páginas do jornal 'público', em artigo a propósito.


o que eu vi, nunca poderei explicar.
mas que vi, vi.

há orações menos bonitas, que me desculpem.

regresso

não vim à procura de nada
nem de saudades que não tenho
nem de carga do tempo perdido
nem de conflitos sobrenaturais
do tempo e do espaço

amei desde criança
certas coisas que não choro
fui a pureza deslumbrada que não volta jamais
o vidro sem ranhura que o sol atravessa
a pureza
que me deixou feridas imortais

vim para ver
para ver de novo
para contemplar sem perguntas
não vim à procura de nada
não me perguntem por nada
um rio não se interroga
o vento não se arrepende.



alberto de lacerda
[em memória de um homem que não foi deste mundo.]

estação de inverno: 42ª estação




hoje, a quadragésima segunda estação de inverno.


jorge gomes miranda e o seu lirismo controlado, de regresso. aqui, nunca nos cansamos de receber amigos em casa.

e um punhado de canções de gente que tem coisas para dizer, coisas que valem a pena ser escutadas. um 'slow motion' crepuscular e interior. coisas bonitas.


tentaremos, assim que possível, recuperar todo o histórico dos podcasts das estações de inverno emitidas até à data (actualmente, apenas parcialmente disponíveis, em virtude de uma arreliadora avaria).


[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]

14 novembro 2008

13 novembro 2008

promete-me que no fim terei existido.


vasgo gato.



for emma, forever ago.

12 novembro 2008

hoje, na newsletter semanal da livraria 'trama', entre muitas outras coisas, (todas bonitas - naquele sentido de beleza que certas coisas adquirem e que as tornam merecedoras da nossa 'atenção atenta'), vinha 'isto':


certo dia, ao regressar de lon-

gínqua existência de papel, quis

incendiar a camisa da criança

que fora. mas, na comissura dos

lábios ressuscitou a luminescente

abelha de uma lágrima. comoveu-

-se, quando a criança, assustada,

lhe perguntou:

- em que idade do coração

se apaga o riso dos homens?




al berto


[palavras para quê?]

10 novembro 2008

pode uma tristeza imensa?

um manto de tristeza. uma cauda de cometa desvanecente. um lastro pouco ilustre, um peso, uma pedra. cinzento pardo, por todo o lado. nuvens de chumbo escondendo o sol. uma caravana, cercada, sitiada, a caminho da emboscada. cães esfaimados a uivar. agulhas caindo do céu. tudo isso ser normal. ser-se 'pro obama' e comover-se com o discurso de derrota do outro senhor. voar com um clube desportivo e despenhar-se nos penalties. ser-se sempre da minoria, de uma minoria menor. um manto de tristeza e uma coroa de espinhos. as pratas empenhadas, as jóias gastas. cabelos brancos. procurar a margem da alegria e estar-se sempre à margem da alegria. saber declinar verbos e palavras como peripatético. e isso ser peripatético. e inútil. ter moeda má nos bolsos e camisas de corte anacrónico. insistir. navegar nas palavras, contra a maré. ver a teimosia como virtude possível, num mar já perdido. assobiar fora do tom. escrever coisas como esta.

estação de inverno: 41ª estação




amanhã, a quadragésima primeira estação de inverno.


vasco gato, revisita a 'estação', através de um dos seus livrinhos iniciais ('um mover de mão'). letras melancólicas, palavras pungentes, versos a latejar - uma ternura imensa.

de resto, mais uns quantos pares improváveis: billie holiday e a menina goldfrapp; isaac hayes às voltas com burt bacharach; o regresso aos jardins seguros da senhora virginia astley; e toda a rapaziada do 'slow sad core' que faz as delícias da estação mais fria..


tentaremos, assim que possível, recuperar todo o histórico dos podcasts das estações de inverno emitidas até à data (actualmente, apenas parcialmente disponíveis, em virtude de uma arreliadora avaria).


[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]

07 novembro 2008

o bairro - back to basics

transcrevo, sem mais comentários, a partir de:
flur, loja de discos | mailing LUST #438 | 7 nov. 2008 | editorial

'agora:
bairro alto.
já todos lá estivemos, vivemos, bebemos,
passámos e ouvimos música,
fizemos coisas reprováveis
e mudámos a nossa vida por uma noite que fosse.
nos últimos anos deixou de ser importante diferenciar bares,
já que a esmagadora maioria das pessoas ou prefere
ou não tem outra alternativa que não permanecer na rua.
para dizer a verdade, esta é normalmente a melhor opção,
apesar de agora, sem tabaco, o interior dos bares
ter recuperado ar para nós.
atitude ridícula, a de uma rapariga nas notícias, há dias,
em resistência à imposição de encerramento dos bares às 2h da manhã,
dizendo que ficaria na rua a fazer barulho depois dessa hora.
duh, precisamente o que já se faz,
pouca gente parece pensar nos moradores,
já que é normal reivindicar o bairro como terreno de entretenimento,
2 da manhã só é uma hora inconcebível para encerrar bares
por causa do hábito de começar as noites efectivamente depois da meia-noite,
chegar invariavelmente tarde a concertos e sets de dj,
estes relegados para horas obscenas para quem tem uma vida normal.
um dos problemas é ter de reger quase todos os horários do que acontece à noite
pelas vidas de quem parece que não faz nada durante o dia.
e se alguns comerciantes do bairro se queixam agora de ter de fechar mais cedo,
também ninguém pensa, por exemplo, nos bares de outras zonas
que só passam a ter gente depois das 4 da manhã
quando as pessoas descem do bairro alto?
muitos ângulos para pensar, mas uma coisa parece certa:
o sistema actual de funcionamento do bairro alto
faz a zona equivaler-se a um parque de diversões
que condiciona horários nocturnos muito para lá dos seus limites geográficos.
não dêem aos putos tudo o que eles querem,
isso é psicologia básica.'



era uma vez um país que não sabe merecer os seus príncipes.

05 novembro 2008


imagem: www.kafsemo.org


still,
i think of you, baby
and how i grew old with you then
and this summer, you'll call-maybe
and act as if we were old friends
you'd say, 'how are you, baby'
i'd say, 'it's raining in athens'
and to this day
i nurse the fever
that spoiled my poor heart
and i've mastered the art of dealing
slipping away without falling apart
so when this summer, you call-maybe
and ask how
i've been
i can be honest and answer plainly
'since november, it's been raining'



azure ray

04 novembro 2008


joan as policewoman, 'to america'


através de um excerto da estupenda canção que é 'to america', de joan as policewoman, aqui ficam os meus votos de que, logo mais, estejamos todos a assistir a um bocadinho de história a acontecer.

temos de ter cuidado com as expectativas. demasiadas expectativas poucas vezes conduziram a bom porto, todos sabemos. nenhum dos candidatos a presidente dos estados unidos da américa é o messias; nenhum tem uma varinha mágica; qualquer dos dois será, antes de mais, presidente do seu país (e não, como por vezes parecemos pensar, presidente de todos os descontentes civilizacionais).

seja o senador obama o vencedor, seja o senador mccain a ganhar as eleições, fazemos de votos de que sejam a 'mudança tranquila', que não se esqueçam que são falíveis e que, por isso mesmo, a primeira medida deverá ser rodear-se, campanha terminada, por pessoas decentes - os melhores dos melhores. basta de 'jovens turcos', de 'falcões sobre washington', de 'governadoras do alaska'.

o 'flores de inverno' é um espaço para além deste tempo, por isso não manifesta opiniões políticas. já o autor do 'flores de inverno', porque essa, ao contrário do que muitos pensam, é uma obrigação fundadora da cidadania, exercerá, na sua consciência, o seu 'voto'.

que sejam anos de paz e da prosperidade possível. que venha aí qualquer coisa boa, um pouco mais de humanidade, à escala global. que a 'real politik' não seja fim, meio e princípio; que, qualquer que seja o resultado, o vencedor esteja à altura da herança desse país incontornável que deu ao mundo alguns dos mais visionários, alguns dos mais extraordinários seres humanos que a nossa espécie já conheceu.

mr. president, to america!

estação de inverno: 40ª estação

hoje, a quadragésima estação de inverno.


albano martins, de regresso à 'estação', com a sua poesia intemporal, vinda dos confins do tempo. um mestre da 'gravitas', de uma espiritualidade ancestral. belíssimas palavras, as suas.

e uma generosa mão-cheia de senhoras, a iluminarem o nosso caminho com canções de inverno que servem para todas as estações.


tentaremos, assim que possível, recuperar todo o histórico dos podcasts das estações de inverno emitidas até à data (actualmente, apenas parcialmente disponíveis, em virtude de uma arreliadora avaria).


[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]

03 novembro 2008


sebastien tellier, 'l'amour et la violence'


dit moi qu'est ce que tu penses
de ma vie
de l'amour et de la violence
de ma vie
de mon adolescence
de ma vie
l'amour et la violence