nós os semióticos, ajoelhamos perante coisas pequeninas. a dimensão nada tem a ver com o impacto. o impacto é uma relação íntima, não partilhável e nem sequer demonstrável, entre uma coisa e o seu observador - no caso, nós.
é assim que se constrói uma espécie de religião pagã, quando os nossos olhos se transformam numa fulminante máquina de sentir. quando o significante é em muito ultrapassado pelo significado que, na nossa própria linguagem irreplicável e sem uso social, lhe atribuímos. uma foto não é uma foto. uma estrela, duas estrelas não são já uma estrela, duas estrelas.
não é uma ciência, porque não assenta no princípio da repetição fenomenológica, porque não resiste aos métodos dedutivo ou indutivo, porque não é reconhecido como um devir progressista e cumulativo. é antes um estado interior, grandemente inarticulável, luzes que só nós vemos, que só em nós têm impacto.
porquê ela? logo ele que tanto podia escolher. podia?
porquê até ao fim?
porquê?
'quando olhava para paul, dirigindo joanne, naquele filme, era como se contemplasse a mais extraordinária materialização do amor. não se podia olhar muito tempo, era como se se olhasse para uma porta errada' (para algo a que não pertencíamos? - acrescento meu).
assim falava um argumentista de um dos filmes que, por estes dias, o 'estoril film festival' revela a uma plateia que, em larga medida, desconhecerá a faceta de realizador de paul newman, nas páginas do jornal 'público', em artigo a propósito.
o que eu vi, nunca poderei explicar.
mas que vi, vi.
há orações menos bonitas, que me desculpem.
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