30 setembro 2007
29 setembro 2007
28 setembro 2007
27 setembro 2007

andré gorz et d., devcant l'usine renault-billancourt. février 1947.
(foto: suzi pillet, cortesia do libération on-line)
Avança o Le Monde
Filósofo André Gorz e mulher cometeram suicídio
24.09.2007 - 17h10
O filósofo André Gorz e a sua mulher suicidaram-se hoje na residência de ambos, em Vosnon, França, avança o jornal Le Monde citando fontes próximas do casal.
abrimos o jornal 'em linha' e esbarramos numa notícia assim: seca e cortante.
de repente, sentimos aquela mistura de pudor e vergonha, própria de sentirmos que alguns dos nossos pequeninos dramas existenciais são isso mesmo: pequeninos.
sim, eu tenho um problema com o suicídio. um problema filosófico e existencial. como todos temos, creio eu. pelo menos aqueles e aquelas que pensam.
mas um filósofo..
não sei bem explicar. é assim como se de repente caísse um manto negro e a claridade deixasse, por momentos, de ganhar a guerra permanente que trava com o mundo das trevas.
melhor não sei explicar.
fica a memória de alguém cuja biografia e obra desconheço. como, afinal, desconheço da maior parte das pessoas que comigo partilham este tempo e espaço.
26 setembro 2007
25 setembro 2007
dedicado à l. e ao r., por me terem mostrado um pouco do seu mundo.
e por terem tintado (porque quiseram e souberam) com cores brilhantes estes últimos dias.
porque falámos dele.
porque falámos de tanta coisa.
porque gosto desta canção, até da lágrima que me cai sempre que a ouço.
e por terem tintado (porque quiseram e souberam) com cores brilhantes estes últimos dias.
porque falámos dele.
porque falámos de tanta coisa.
porque gosto desta canção, até da lágrima que me cai sempre que a ouço.
24 setembro 2007
23 setembro 2007
madrid: ano zero

a noite branca ao encontro das dezenas, centenas, de milhar de pessoas que inundaram a zona central da cidade.
um enorme formigueiro humano, explodindo em todas as direcçoes, transversal, transgeracional, transportando-nos para uma outra IDEIA de cidade.
a cidade diurna, com os seus rituais, ruídos e risos, agora transmutada pelo efeito luminoso do céu nocturno - como se indecisa entre o fuso horário oficial e uma outra espécie de fuso horário mais afectivo.
e jardins, ideia à solta.
e os templos da tailandia, e um bilhete para esses lugares onde gritamos o segredo para dentro de uma árvore. azuis escuros nunca vistos.
e a explicaçao da poesia contada com eloquência e palavras certeiras.
ideias que se transformam, vao e voltam, inebriante vai e vem feito do que somos e do que deixámos e do que vem aí.
e caminhamos caminhamos caminhamos, sorvendo tudo e todos, com um passo estugado por fora e um passo que nao sabemos definir cá dentro.
porque madrid, esta cidade a que muitos dao apenas nome, é agora mais do que uma ideia. é uma outra ideia à solta em nós, fazendo o seu inexorável caminho.
bebemos um vinho, rioja, de nome muriel. assalta-nos a cidade e todas as cidades e a a ideia e todas as ideias. sorrimos para os amigos, sorrimos muito, deixamos o vinho fazer o seu percurso dentro de nós.
mas nao esquecemos muriel, todas as mulheres por inventar. nao nos esquecemos. nao nos esquecemos que estamos em madrid, nesta madrid. mas que somos nós que estamos em madrid.
'mas que nao me desiludas'.
20 setembro 2007
poema XX

foto: izima kaoru
puedo escribir los versos más tristes esta noche.
escribir, por ejemplo: "la noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."
el viento de la noche gira en el cielo y canta.
puedo escribir los versos más tristes esta noche.
yo la quise, y a veces ella también me quiso.
en las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
la besé tantas veces bajo el cielo infinito.
ella me quiso, a veces yo también la quería.
¡cómo no haber amado sus grandes ojos fijos!
puedo escribir los versos más tristes esta noche.
pensar que no la tengo. sentir que la he perdido.
oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
¡qué importa que mi amor no pudiera guardarla!
la noche está estrellada y ella no está conmigo.
eso es todo. a lo lejos alguien canta. a lo lejos.
mi alma no se contenta con haberla perdido.
como para acercarla mi mirada la busca.
mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
la misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
yo no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise..
mi voz buscaba al viento para tocar su oído.
de otro. será de otro. como antes de mis besos.
su voz, su cuerpo claro. sus ojos infinitos.
ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.
pablo neruda
baby, sweet baby, you're my drug
come on and let me taste your stuff
baby, sweet baby, bring me your gift
what surprise you gonna hit me with
i am waiting here for more
i am waiting by your door
i am waiting on your back steps
i am waiting in my car
i am waiting at this bar
i am waiting for your essence
baby, sweet baby, whisper my name
shoot your love into my vein
baby, sweet baby, kiss me hard
make me wonder who's in charge
baby, sweet baby, I wanna feel your breath
even though you like to flirt with death
baby, sweet baby, can't get enough
please come find me and help me get f-----d up
your essence
your essence
come on and let me taste your stuff
baby, sweet baby, bring me your gift
what surprise you gonna hit me with
i am waiting here for more
i am waiting by your door
i am waiting on your back steps
i am waiting in my car
i am waiting at this bar
i am waiting for your essence
baby, sweet baby, whisper my name
shoot your love into my vein
baby, sweet baby, kiss me hard
make me wonder who's in charge
baby, sweet baby, I wanna feel your breath
even though you like to flirt with death
baby, sweet baby, can't get enough
please come find me and help me get f-----d up
your essence
your essence
18 setembro 2007

uma pessoa muito querida resolveu presentear-me com um curso de 'iniciação à prova de vinhos'.
lá comecei ontem o curso e tenho a dizer-vos que, para quem gosta destas coisas, é um tipo de conhecimento muito curioso. um pé na terra (vinhas, processos de produção, terroir e afins) e nos 'basics' da coisa e outro nas experiências sensoriais associadas a essa coisa a que chamamos 'gosto'.
estou a gostar muito e, tendo tempo e engenho, talvez um dia destes publique, aqui mesmo, alguns dos ensinamentos que estou, com entusiasmo, a.. sorver.
muito interessante, por exemplo, a destruição dos mitos mais comuns e que, posso garantir-vos, é de nos deixar de cara à banda (pelos erros que se propagam, pelos fenómenos de desinformação que se generalizam e que nos impedem de tirar partido por completo dessa coisa a que chamamos vinho).
hoje parece que vou provar 14(!) vinhos e ainda tenho que pensar numa pergunta para fazer ao formador (tpc.. ah pois!).
ele há coisas chatas ;-).
[obrigado a quem me proporcionou esta experiência - o resto digo em privado].
nota: para os mais curiosos, o rótulo acima - redoma branco, 2004, reserva, douro - é simplesmente, para muitos entendidos e para este vosso amigo também, o melhor (repito: o melhor!) vinho branco produzido em portugal, nos últimos anos. é quase impossível de encontrar, mas a arte da procura pode ser, em si, um prazer intenso. boa sorte!!
17 setembro 2007
não resisto a 'publicar' este videozinho aqui no jardim.
fica um obrigado (mais um) a esse imenso 'pescador de pérolas', o ricardo mariano, autor do 'vidro azul' (ao qual volto sempre e sempre e sempre).
[um abraço e um obrigado, de todos nós]
fica um obrigado (mais um) a esse imenso 'pescador de pérolas', o ricardo mariano, autor do 'vidro azul' (ao qual volto sempre e sempre e sempre).
[um abraço e um obrigado, de todos nós]
16 setembro 2007
so, gi, tell us: are u always so damn heavy?
- what do u mean?
u know like always carrying a huge stone over your shoulders..
- that's what u people think?
sometimes, have u seen your blog lately?.. like carved in stone we could say
- i see. i see. then the answer is no, not always. i am just a kid u know
hard to believe..
- let's try? check it out:
- what do u mean?
u know like always carrying a huge stone over your shoulders..
- that's what u people think?
sometimes, have u seen your blog lately?.. like carved in stone we could say
- i see. i see. then the answer is no, not always. i am just a kid u know
hard to believe..
- let's try? check it out:
o teatro da melancolia*
*título de artigo sobre david ackles, in 'perfect sound forever' (on-line magazine)
14 setembro 2007
breakfast in cemetery
boy tastin wild cherry
touch girl, apple blossom
just a boy playin possum
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
what is that cheerful sound?
rain fallin on the ground
we'll wear a jolly crown
buckle up, we're wayward bound
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
motorbike to cemetery
picnic on wild berries
french toast with molasses
croquet and baked alaskas
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
cover me with rain
walk me down the lane
i'll drink from your drain
we will never change
no matter what they say
luna, 'indian summer' (cover)
boy tastin wild cherry
touch girl, apple blossom
just a boy playin possum
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
what is that cheerful sound?
rain fallin on the ground
we'll wear a jolly crown
buckle up, we're wayward bound
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
motorbike to cemetery
picnic on wild berries
french toast with molasses
croquet and baked alaskas
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
we'll come back for indian summer
and go our seperate ways
cover me with rain
walk me down the lane
i'll drink from your drain
we will never change
no matter what they say
luna, 'indian summer' (cover)
13 setembro 2007
12 setembro 2007
algures numa telenovela de finais dos anos 70, descobri (teria 7,8 anos?) esta singela canção.
na altura não podia perceber, apenas 'intuir' - numa canção de 3 minutos mal contados pode estar a nossa vida - a vida por acontecer, nesses dias; a vida a acontecer e acontecida, nestes outros dias.
volto a esta canção naqueles momentos em que preciso de um olhar claro sobre mim. sempre que é preciso lembrar quem sou.
porque é aí que está aquilo que há-de ser.
não por acaso, caíu-me aos pés, hoje.
take good note, gi.
elis regina, 'fascinação'
na altura não podia perceber, apenas 'intuir' - numa canção de 3 minutos mal contados pode estar a nossa vida - a vida por acontecer, nesses dias; a vida a acontecer e acontecida, nestes outros dias.
volto a esta canção naqueles momentos em que preciso de um olhar claro sobre mim. sempre que é preciso lembrar quem sou.
porque é aí que está aquilo que há-de ser.
não por acaso, caíu-me aos pés, hoje.
take good note, gi.
elis regina, 'fascinação'
the la's, 'there she goes'
irrestível sentir o passar do tempo.
é impressão minha ou por estas veredas sentimos o ar glauco e o céu de chumbo dos subúrbios urbanos da velha albion?
ali, ao fundo, ian curtis?
e, de relance, não era o nick drake?
marc bolan?
sid vicious?
mike skinner?
tricky?
syd barret?
joe strummer?
robert smith?
morrissey e o johnny marr?
ian brown?
peter murphy e a siouxie?
os mods, o glam, o punk, a cold-wave, os indies, o shoegazzing, o electro-rock, o house de rua, o grimme.. afinal afluentes de um mesmo e imparável rio?
sublimação?
afirmação identitária?
sentido de pertença?
procura de sentido?
luta de classes reinventada?
generation clash?
ou
a
fuga
possível?
divagação estética, luta pela sobrevivência num meio hostil,
ou, tão só, o indomável apelo do 'belo'?
podemos votar em todas?
that's only music, some people say.
tell me about it.
11 setembro 2007
vou ser, talvez, acusado de 'patrioteiro', de perigoso ultramontano - ou de reaccionário, quem sabe.
estou de consciência tranquila.
não sou adepto deste desporto e reconheço nele um certo traço elitista com que não simpatizo (elitismo de origem social).
ao mesmo tempo, gosto de pensar que sou honesto intelectualmente - por isso mesmo, vejo neste mesmo desporto traços de 'gentlemanship' e cortesia que gostaria um dia de ver no sistema de valores e no código de conduta de qualquer pessoa.
não me interessa nada o exemplo de virtude nacionalista, os quintos e sextos impérios por cumprir, tenho pavor de teorias de supremacia avulsa, eugenismos de pacotilha e improváveis missões divinas.
apenas, como ser humano, gostei de ver - de sentir - que há momentos na vida em que devemos dar o nosso melhor, acreditar até ao fim, contra tudo e contra todos (menos contra nós e a nossa essência espiritual). há momentos em que nos transcendemos. e esse estado de exaltação interior, em seres humanos normais como eu, pode transformar-se numa coisa bonita: deixar as emoções virem ao de cima, perder a vergonha de dizer que nos emocionamos. dizer longo foi o caminho, ínvio foi o caminho.. mas valeu a pena.
o vasco uva levanta-se às 5 da manhã. vai treinar. trabalha (muito ou pouco, alguma coisa será), volta a treinar. há anos.
foi considerado o melhor jogador em campo no jogo entre portugal e a escócia (umas das melhores selecções do mundo, desde sempre), contra todas as probabilidades.
hoje, abro um parêntesis no jardim, para vermos outra vez a selecção de rugby a cantar o hino nacional.
o que importa não é o hino; o que importa é que desta gente se diga: estão vivos e mostraram, uma vez mais, que não há derrotas inevitáveis (mesmo quando perdemos, por contraditório que pareça) e que, mesmo quando perdemos, há uma ética na derrota que merece o nosso espanto. começa normalmente em pessoas que de si podem dizer: fiz o meu melhor; ao menos tentei, o melhor que pude e que soube.
a vida é também isto.
estou de consciência tranquila.
não sou adepto deste desporto e reconheço nele um certo traço elitista com que não simpatizo (elitismo de origem social).
ao mesmo tempo, gosto de pensar que sou honesto intelectualmente - por isso mesmo, vejo neste mesmo desporto traços de 'gentlemanship' e cortesia que gostaria um dia de ver no sistema de valores e no código de conduta de qualquer pessoa.
não me interessa nada o exemplo de virtude nacionalista, os quintos e sextos impérios por cumprir, tenho pavor de teorias de supremacia avulsa, eugenismos de pacotilha e improváveis missões divinas.
apenas, como ser humano, gostei de ver - de sentir - que há momentos na vida em que devemos dar o nosso melhor, acreditar até ao fim, contra tudo e contra todos (menos contra nós e a nossa essência espiritual). há momentos em que nos transcendemos. e esse estado de exaltação interior, em seres humanos normais como eu, pode transformar-se numa coisa bonita: deixar as emoções virem ao de cima, perder a vergonha de dizer que nos emocionamos. dizer longo foi o caminho, ínvio foi o caminho.. mas valeu a pena.
o vasco uva levanta-se às 5 da manhã. vai treinar. trabalha (muito ou pouco, alguma coisa será), volta a treinar. há anos.
foi considerado o melhor jogador em campo no jogo entre portugal e a escócia (umas das melhores selecções do mundo, desde sempre), contra todas as probabilidades.
hoje, abro um parêntesis no jardim, para vermos outra vez a selecção de rugby a cantar o hino nacional.
o que importa não é o hino; o que importa é que desta gente se diga: estão vivos e mostraram, uma vez mais, que não há derrotas inevitáveis (mesmo quando perdemos, por contraditório que pareça) e que, mesmo quando perdemos, há uma ética na derrota que merece o nosso espanto. começa normalmente em pessoas que de si podem dizer: fiz o meu melhor; ao menos tentei, o melhor que pude e que soube.
a vida é também isto.
10 setembro 2007
oh how i love these guys
pavement, 'golden sounds'
you are the kind of girl i like
because you are NOT empty
in september
(and to me
each month is september)
09 setembro 2007
micah p. hinson, 'the day texas sank to the bottom of the sea'
here's all that i have to give
i'll admit it's not a lot,
but it's all that i've got
to hang myself with,
to hang myself with,
in hopes that you'll take notice of me
i've been waiting so long
up in these trees
trying to hang myself with
thoughts of you
thoughts of me
i've been wishing so long, why can't you see?
08 setembro 2007
07 setembro 2007

foto: izima kaoru
neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti.
agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna.
continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda de uma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo.
contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e depois seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada.
abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
e no cimo disto tudo uma montanha de ouro
e no fim disto tudo um azul-de-prata.
antónio maria lisboa
não é sobre a solidão,
pouco me importa quem me
desviou palavra, é sobre
a tua ausência no lugar
íngreme da minha pele, por isso
cairei implume telhado abaixo
debulhado no coração.
valter hugo mãe
pouco me importa quem me
desviou palavra, é sobre
a tua ausência no lugar
íngreme da minha pele, por isso
cairei implume telhado abaixo
debulhado no coração.
valter hugo mãe
lembras-te?
lembras-te?
lembras-te?
espero que estejas bem.
do fundo do coração,
(como quem de dentro de si tira uma transbordante bola de gelado e a vê reflectida nos olhos enormes e brilhantes de uma criança:
- flor de laranjeira,
tudo na vida,
por um segundo.)
nitin sawhney & reena bhardwaj, 'nadia'
lembras-te?
espero que estejas bem.
do fundo do coração,
(como quem de dentro de si tira uma transbordante bola de gelado e a vê reflectida nos olhos enormes e brilhantes de uma criança:
- flor de laranjeira,
tudo na vida,
por um segundo.)
nitin sawhney & reena bhardwaj, 'nadia'
06 setembro 2007

quando se fala de grandes duplas criativas, e em especial na área da música popular moderna, não é habitual lembrarmo-nos dos australianos the go-betweens. mas devíamos.
no panteão dos lennon & mccartney, marr & morrissey, hal david & burt bacharach, etc. - todos ímpares pares de talentos é bem verdade - merecem estar grant mclennan e robert foster.
ao longo de uma carreira longa e intervalada, nos anos 90 e seguintes, por longos períodos sem actividade como banda, os the go-betweens deixaram-nos 20 singles que entram directo para o top 100 das canções pop perfeitas.
há anos que o joão lisboa, crítico musical de referência e um dos mestres deste vosso escriba, diz, a propósito de uma data de rapaziada bem intencionada mas sem unhas para mais do que um ou dois singles orelhudos, qualquer coisa como isto: 'malta, isso já foi tudo inventado no insuperável disquito (..)'.
o 'insuperável disquito' - há quem não ache, mesmo entre os fãs mais acesos da banda não é consensual - chama-se '16 lovers lane'.
1. Love Goes On!
2. Quiet Heart
3. Love Is a Sign
4. You Can't Say No Forever
5. Devil's Eye
6. Streets of Your Town
7. Clouds
8. Was There Anything I Could Do?
9. I'm Allright
10. Dive for Your Memory
são 9 canções perfeitas em 1o (eu gosto menos, talvez não por acaso, do single mais comercial - 'streets of your town'). é um disco que me acompanha há anos, sempre no carro, sempre à mão, sempre um kit de primeiros socorros.
não sou crítico musical, não sei explicar-vos de forma eloquente o que está aqui. mas como gosto de me ver como divulgador de algumas coisinhas que valem a pena, fica o repto: corram à fnac (encontra-se com relativa facilidade, fruto de uma abençoada política de reedição), comprem-no, escutem-no, acreditem nele, insistam..! e depois, bem, depois, é assim como certas coisas especiais - entranha-se, vicia-nos, faz-no crepitar a pele.
pop as pop can be.
sweet as sweet love can be.
harsh as only failed love, lost love can be.
fica(-nos) para sempre. e para sempre é muito tempo.
the go-betweens, 'bachelor kisses' (disco: 'spring hill fair')
duas curiosidades:
no panteão dos lennon & mccartney, marr & morrissey, hal david & burt bacharach, etc. - todos ímpares pares de talentos é bem verdade - merecem estar grant mclennan e robert foster.
ao longo de uma carreira longa e intervalada, nos anos 90 e seguintes, por longos períodos sem actividade como banda, os the go-betweens deixaram-nos 20 singles que entram directo para o top 100 das canções pop perfeitas.
há anos que o joão lisboa, crítico musical de referência e um dos mestres deste vosso escriba, diz, a propósito de uma data de rapaziada bem intencionada mas sem unhas para mais do que um ou dois singles orelhudos, qualquer coisa como isto: 'malta, isso já foi tudo inventado no insuperável disquito (..)'.
o 'insuperável disquito' - há quem não ache, mesmo entre os fãs mais acesos da banda não é consensual - chama-se '16 lovers lane'.
1. Love Goes On!
2. Quiet Heart
3. Love Is a Sign
4. You Can't Say No Forever
5. Devil's Eye
6. Streets of Your Town
7. Clouds
8. Was There Anything I Could Do?
9. I'm Allright
10. Dive for Your Memory
são 9 canções perfeitas em 1o (eu gosto menos, talvez não por acaso, do single mais comercial - 'streets of your town'). é um disco que me acompanha há anos, sempre no carro, sempre à mão, sempre um kit de primeiros socorros.
não sou crítico musical, não sei explicar-vos de forma eloquente o que está aqui. mas como gosto de me ver como divulgador de algumas coisinhas que valem a pena, fica o repto: corram à fnac (encontra-se com relativa facilidade, fruto de uma abençoada política de reedição), comprem-no, escutem-no, acreditem nele, insistam..! e depois, bem, depois, é assim como certas coisas especiais - entranha-se, vicia-nos, faz-no crepitar a pele.
pop as pop can be.
sweet as sweet love can be.
harsh as only failed love, lost love can be.
fica(-nos) para sempre. e para sempre é muito tempo.
the go-betweens, 'bachelor kisses' (disco: 'spring hill fair')
duas curiosidades:
1. todos os discos da primeira fase da carreira têm no título duas vezes a letra l..
- send me a llulaby (1982)
- before hollywood
- spring hill fair
- liberty belle and the black diamond express
- tallulah
- 16 lovers lane
- bellavista terrace: the best (1999)
2. de muitas destas canções se disse que iam ao céu e voltavam sem recorrer ao tradicional refrão (inexistente de todo em certas canções, ainda que nem o notemos, tal a forma de composição da melodia).

john baldessari, 'prima facie (second state): hopeless'
hopeless not kind
hopeless and kind
hopeless but kind
hopeless then kind
hopeless or kind
hopelessly kind
kindly hopeless
kind or hopeless
kind then hopeless
kind but hopeless
kind and hopeless
kind not hopeless

john baldessari, 'i will not make any more boring art'
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
i will not make any more boring posts
05 setembro 2007
estórias mínhimas - from bucareste with love..

os 5 violinos: ao centro, fernando peyroteo
manuel fernandes, marcando um dos seus golos nos célebres 7-1 ao arqui-rival benfica
vivo perto de uma 'infraestrutura comercial' (um mercado popular alimentar é o que é - vulgo uma praça). o frenesim matinal faz parte da música dos meus dias (a partir das 6 da manhã, mas enfim, lá nos habituamos à coisa), há muitos anos. o que é relativamente novo é que, à volta deste centro económico e social do meu bairro, existem agora uma espécie de ajudantes-para-toda-a-obra, arrumadores-quando-calha, biscateiros-all-in-one. não são bem arrumadores, no sentido tradicional. são mais tarefeiros legalmente desenquadrados, uma espécie de estivadores de doca seca. e alguns são estrangeiros. convivemos todos em semi-harmonia, trocamos os bons dias, impera uma espécie de nacional porreirismo - desculpem-me a expressão.
isto à laia de preâmbulo para esta história pequenina.
uma destas pessoas terá cerca de 60 anos e é romeno. é naturalmente comunicativo e exprime-se numa mistura de romeno com português aprendido na rua, sendo que no meio da sua língua de trapos encontramos notáveis sequências de palavrões.. qualquer linguista teria aqui matéria para um estudo demorado, dada a intensidade e riqueza do léxico, mas ainda mais as criativas e improváveis combinações.
ora bem, este cavalheiro é um fanático sportinguista e, naturalmente, tem um 'pó' a tudo o que pareça ser lampião e portista digno dos ultras da juventude leonina. talvez pelo facto de o lazlo boloni ter sido treinador do sporting (mais o seu infortunado e lesionado afilhado, o avançado niculae), a verdade é que todos os dias, mas todos, não me deixa entrar no carro sem falarmos sobre.. o sporting.
para quem não sabe - ou seja quase todos vós - o gi é um rapaz com ligação à terra. desde que se conhece que gosta de coisas triviais (ainda que de modo não trivial). herança de família, tendência para a depressão ou inclinação para a diferença.. a verdade é que sempre foi um sportinguista de alma e coração, capaz de se irritar com os roubos de sacristia que o seu clube volta e meia sofre na pele, com as vendas ao desbarato das suas maiores pérolas, adiando sempre o sonho de uma equipa verdadeiramente competitiva (os novos 5 violinos, para quem percebe mais destas coisas). lamento desiludir os espíritos mais elevados, mas, sim, gosto de futebol de qualidade e de qualquer coisa remotamente relacionada com o clube leonino. enfim, coisas que nos acontecem..
ora, não é que hoje de manhã, este senhor de que falávamos, vai ao bolso e, não sem antes tirar um lenço usado, um molho de chaves que mais parecia de meia cidade, um ou dois telemóveis e uns afins que a memória me não deixa relembrar, retira de lá uma borracha daquelas da escola, com 2 figuras gravadas: o manuel fernandes (o manel de sarilhos, sua aldeia natal) e o peyroteo (líder dos míticos 5 violinos, a equipa mais fenomenal que o sporting teve na sua história e que nunca brilhou devidamente, pelo simples facto de, à época, não haver televisão nem provas europeias - qual benfica dos anos 60, qual carapuça!. para muitos, peyroteo foi o melhor jogador de futebol do nosso país, ponto final. não sou fanático, não sei dizer - mas que ganhar 7 em 8 campeonatos e quase todos os jogos por goleada é coisa para ser um feito, mesmo nos idos anos 40 e 50, lá isso é..!).
- 'é para você, para andar no carro. spooooorting!'
7h45 da manhã.
digam lá, não é lindo?
as coisas que me acontecem..
vou ver mas é se marco o vôo para manchester! ;-). e, pelo sim pelo não, levo a borracha no bolso, para dar sorte!

'there is no trap as deadly as the one we set yourself'
raymond chandler
(um tipo tenta sorrir, fazer um esforço, essas coisas. depois, um cantor lá de casa, a propósito do lyrical plot de uma canção, esfrega-nos na cara com uma citação destas e a gente fica sem tecto e sem chão.. porque nada assusta mais do que a verdade).
ora, boa noite.
apetece-me acender o cigarro e sair a assobiar noite fora até ao bar da esquina. encontrar o tal de sr. chandler e dizer-lhe para nos deixar em paz.
mas eu não fumo.
boa noite, ora.
04 setembro 2007
semantics

the good old book says:
david against golias
or
gi against his faith?
- the soap opera continues
anyway
in a garden-shaped-stage
not far from you.
sad, my dear?
sad perhaps
but
undoubtedly true.
undoubtedly true.
(didn't he ask
throughout the pale summer
for a world made of blue?).
happy, my dear?
better keeping that smile in suspension
he can after all
be nothing but you
a funny other you
a surprisising other you
heading for a party
the spark suddenly lost,
and the other i suddenly found
dressed up in that sad dark blue.
(desculpem o inglês)
horatio, horatio..

i wrote the song two hours before we met.
i didn't know your name or what you looked like yet.
oh i could have stayed at home and gone to bed.
i could have gone to see a film instead.
you might have changed your mind and seen your friends.
life could have been very different but then,
something changed.
do you believe that there's someone up above?
does he have a timetable directing acts of love?
why did i write this song on that one day?
why did you touch my hand and softly say.
stop asking questions that don't matter anyway.
just give us a kiss to celebrate here today.
something changed.
when we woke up that morning we had no way of knowing,
that in a matter of hours we'd change the way we were going.
where would i be now if we'd never met?
would i be singing this song to someone else instead?
i dunno but like you said
something changed.
pulp, 'something changed'
03 setembro 2007
02 setembro 2007
escrevo palavras nos muros que pensam em ti
partilho convosco, pela segunda vez neste jardim, um poema espectral, nocturno - um poema de que gosto muito.
rima com um poeminha abaixo, que, ao que percebo, encontrou 'eco' junto de alguns de vós. e rima com o eduardo prado coelho - o seu magistério de influência, partilha e curiosidade abissal por tudo o que é humano. foi com ele que descobri a filipa leal, na saudosa coluna do suplemento 'mil-folhas', como tantas e tantas outras vozes da poesia clássica e, com um carinho especial, da poesia contemporânea. a ele deve muito este jardim, porque a ele deve muito o gi.
simples.
é um poema que me espanta sempre e sempre. um poema a que volto muitas vezes, até porque faz já parte da minha pele mais sensível. a pele interior.
nesta noite de domingo, apetece-me dedicar este poema. e dedico-a a todos e todas aqueles e aquelas que percebem o travo amargo do poema - e contudo nele encontram também um maravilhoso mapa para tesouros que estão a caminho e que, mais dia menos dia, a todos chegarão. porque eu quero que cheguem.
simples.
ela disse: sou uma cidade esquecida.
ele disse: sou um rio.
ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
ela disse: não sou exactamente uma cidade.
uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
ele disse: sou um rio exacto.
agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: um pouco de ar entre nós.
ela disse: escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
ele disse: eu corro.
de telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas maos libertas.
ela temeu o adeus,
disse: sou uma cidade esquecida.
ele riu.
filipa leal
rima com um poeminha abaixo, que, ao que percebo, encontrou 'eco' junto de alguns de vós. e rima com o eduardo prado coelho - o seu magistério de influência, partilha e curiosidade abissal por tudo o que é humano. foi com ele que descobri a filipa leal, na saudosa coluna do suplemento 'mil-folhas', como tantas e tantas outras vozes da poesia clássica e, com um carinho especial, da poesia contemporânea. a ele deve muito este jardim, porque a ele deve muito o gi.
simples.
é um poema que me espanta sempre e sempre. um poema a que volto muitas vezes, até porque faz já parte da minha pele mais sensível. a pele interior.
nesta noite de domingo, apetece-me dedicar este poema. e dedico-a a todos e todas aqueles e aquelas que percebem o travo amargo do poema - e contudo nele encontram também um maravilhoso mapa para tesouros que estão a caminho e que, mais dia menos dia, a todos chegarão. porque eu quero que cheguem.
simples.
ela disse: sou uma cidade esquecida.
ele disse: sou um rio.
ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
ela disse: não sou exactamente uma cidade.
uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
ele disse: sou um rio exacto.
agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: um pouco de ar entre nós.
ela disse: escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
ele disse: eu corro.
de telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas maos libertas.
ela temeu o adeus,
disse: sou uma cidade esquecida.
ele riu.
filipa leal
'qualquer encontro é já o começo da perda'
tradução livre
de um desgraçado
provérbio japonês
que,
para nossa infelicidade,
tem tradução
para português.
tradução livre
de um desgraçado
provérbio japonês
que,
para nossa infelicidade,
tem tradução
para português.