foto: izima kaoru
neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti.
agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna.
continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda de uma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo.
contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e depois seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada.
abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
e no cimo disto tudo uma montanha de ouro
e no fim disto tudo um azul-de-prata.
antónio maria lisboa
3 Comments:
Que entrem as estrelas para iluminar as sombras. Bela poesia.
Beijos de Sol e de Lua.
perfeito.
sem rede.
um azul que eu nunca tinha visto.
lindo!
"Cupid put too much poison in the dart"
epitaph for my heart
magnetic fields. i.
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