escrevo palavras nos muros que pensam em ti
partilho convosco, pela segunda vez neste jardim, um poema espectral, nocturno - um poema de que gosto muito.
rima com um poeminha abaixo, que, ao que percebo, encontrou 'eco' junto de alguns de vós. e rima com o eduardo prado coelho - o seu magistério de influência, partilha e curiosidade abissal por tudo o que é humano. foi com ele que descobri a filipa leal, na saudosa coluna do suplemento 'mil-folhas', como tantas e tantas outras vozes da poesia clássica e, com um carinho especial, da poesia contemporânea. a ele deve muito este jardim, porque a ele deve muito o gi.
simples.
é um poema que me espanta sempre e sempre. um poema a que volto muitas vezes, até porque faz já parte da minha pele mais sensível. a pele interior.
nesta noite de domingo, apetece-me dedicar este poema. e dedico-a a todos e todas aqueles e aquelas que percebem o travo amargo do poema - e contudo nele encontram também um maravilhoso mapa para tesouros que estão a caminho e que, mais dia menos dia, a todos chegarão. porque eu quero que cheguem.
simples.
ela disse: sou uma cidade esquecida.
ele disse: sou um rio.
ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
ela disse: não sou exactamente uma cidade.
uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
ele disse: sou um rio exacto.
agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: um pouco de ar entre nós.
ela disse: escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
ele disse: eu corro.
de telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas maos libertas.
ela temeu o adeus,
disse: sou uma cidade esquecida.
ele riu.
filipa leal
rima com um poeminha abaixo, que, ao que percebo, encontrou 'eco' junto de alguns de vós. e rima com o eduardo prado coelho - o seu magistério de influência, partilha e curiosidade abissal por tudo o que é humano. foi com ele que descobri a filipa leal, na saudosa coluna do suplemento 'mil-folhas', como tantas e tantas outras vozes da poesia clássica e, com um carinho especial, da poesia contemporânea. a ele deve muito este jardim, porque a ele deve muito o gi.
simples.
é um poema que me espanta sempre e sempre. um poema a que volto muitas vezes, até porque faz já parte da minha pele mais sensível. a pele interior.
nesta noite de domingo, apetece-me dedicar este poema. e dedico-a a todos e todas aqueles e aquelas que percebem o travo amargo do poema - e contudo nele encontram também um maravilhoso mapa para tesouros que estão a caminho e que, mais dia menos dia, a todos chegarão. porque eu quero que cheguem.
simples.
ela disse: sou uma cidade esquecida.
ele disse: sou um rio.
ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
ela disse: não sou exactamente uma cidade.
uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.
ele disse: sou um rio exacto.
agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: um pouco de ar entre nós.
ela disse: escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
ele disse: eu corro.
de telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas maos libertas.
ela temeu o adeus,
disse: sou uma cidade esquecida.
ele riu.
filipa leal
5 Comments:
Obrigada Gi,lindo(...)
poema onde tanto reconheço...
beijO
cidade? gente? eu? tudo no cinzento nebuloso do dia a dia ,de nós. O toque, o roçar, perpassando em ondas de sentir. Rio? massa líquida, qual olhar,que corre ao lado sem molhar..
É belo!
Delicadamente.
Um beijo.
...hoje, os dias humedecem na vontade de te ter... quero-te
tocar como se te arrancasse cada pétala e guardasse o medo por
dentro do meu corpo... amo-te... mas são inúteis as palavras, porque
nenhum espelho reflecte o sangue e a frágil alucinação da pele... no
caminho, uma flor vermelha, parada como a fotografia de um beijo,
eterna na recordação dos cheiros… no meu sonho, trazes contigo
elefantes dourados, 'peixes verdes', mãos encostadas à parede de
areia… penso-te em forma de poema – imagino que és um elegante e
quente vulto de palavras, e que me deito ao teu lado de caderno nas
mãos (quando te toco)...
disse-te: "tenho fantasmas como se tivesse dores de barriga miudinhas."
silenciaste-me, num gesto breve, teu, como se costuma fazer às crianças
agitadas na missa de domingo. raramente conversávamos sobre as experiências
partilhadas. mas ainda hoje sinto o nosso desespero, a tua expressão
suplicante, de quem exige uma cegueira temporária, de quem se recusa a ver
o mundo desdobrado em imagens destorcidas de nós próprios. a seguir jantámos
e amámos silenciosamente.
filipa leal, in "lua-polaroid"
"É uma cidade onde ninguém diz a verdade." "Ela que morria de medo de morrer." "Ela morria tantas vezes / porque morria de medo de morrer." "Não há na cidade um lugar / com lugar." "Só mais tarde entendi o que procurava: um mar."
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