30 janeiro 2009
29 janeiro 2009
28 janeiro 2009
27 janeiro 2009
a arte de ocupar as horas mortas is a very fine art, ladies and gentlemen.
a internet é hoje um imenso buraco negro, em permanente mutação: ora friamente transbordante, ora escaldantemente vazio. os adjectivos estão ao contrário? sim, senhor, é bom de ver. isto dos barómetros interiores é toda uma ciência.
gurus.net.tv? balanced scorecard immersion? ranking dos business thinkers? change management? global risk assessment? importam-se de repetir? tudo isto me interessa, por razões profissionais. e tudo isto, simultaneamente, me estafa, me entedia, me aborrece.
o que eu quero é ver fotogramas de antonioni. o que eu quero é ver excertos dos mestres japoneses, entrar dentro daquele tempo, perceber como era viver antes da velocidade e da globalização e do politicamente correcto e de todas as barbaridades conceptuais que disfarçam todo o mal-estar existencial.
hoje, para variar, não me apetece poesia. aborrece-me a inacção, a contemplação, a suspensão no tempo e no espaço - tudo aquilo que normalmente me deslumbra, nessa nobre arte de dizer as coisas que calamos.
hoje, para variar, não quero modernidade. internets e banda larga, twitters e soundbits, tubos electrónicos e videoclips, rádio on demand e vjs, parafernálias electrónicas e mecanismos de precisão.
hoje, para variar, não me apetece sair. sempre os mesmo rituais, sempre as mesmas caras, sempre as mesmas máscaras. dizem eles e digo eu, que isto de falar dos outros e de nos eximirmos à nossa própria responsabilidade é coisa que seria simpática, mas que não rima com a nossa sombra. e, temo bem, nós somos o que os contornos da nossa rabiscada sombra deixam que nós sejamos. programação genética? pegada cultural? substracto adquirido? que enfado, senhores, que enfado..
hoje apetece-me coisas simples. apetece-me voltar ao tempo das certezas. dos futuros abstractos, mas mesmo abstractos. das músicas por descobrir. das cores por inventar. dos mecanismos inteiramente por revelar. abrir a janela e lembrar os contos com moral não ambígua. os caminhos humildes trilhados com passo seguro nas florestas míticas dos nossos sonhos. escrever sem adjectivos, praticar uma arte qualquer, mas uma coisa justa, enxuta, sem gangas a tiracolo.
apetece-me condensar os contos russos, a sabedoria oriental, a cerimónia do chá, o elogio da sombra, os princípios zen, a arquitectura less is more, o design minimalista (mas a sério, não aquele que finge - less is yet less, so many times), apetece-me um abraço sem freios, palavras sem compromissos, dias plácidos. apetece-me a simplicidade, abdicar do complexo, do inteligente, do bravo-brilhante-que-cabeça-mestre-da-análise-multivariada.
por isso, mergulho nos clássicos japoneses, nas quartas e quintas vagas chinesas, garimpeiro à procura de pepitas, respigador das coisas anacrónicas, prescrutador minucioso do que um dia foi.
eu sei, eu sei. uma missão para uma vida. uma missão para nada. uma missão que pode muito bem ser confundida com uma espécie de demissão. oh, cínicos do regime, tomai em vossas mãos as chaves do reino. não as quero para nada, atentai.
dizia esse jazzman, escritor meio maldito, bon vivant (como todos os seres inteligentes que do frenesim fazem bálsamo contra as trevas próprias da lucidez) - boris vian -: 'não quero saber da felicidade da humanidade, mas da felicidade de cada homem'.
eu, que não sou ninguém, suspeito bem que a única felicidade está na simplicidade mais despojada. eu só suspeito, notem bem. quando tudo grita o seu contrário, eu grito ao contrário. quando tudo grita, eu calo. quanto tudo impôe, eu aceito. quando tudo esmaga as flores, eu cultivo o açúcar - temo bem que vamos precisar dele, mais à frente.
eu falo de metáforas. eu falo de metonímias. eu falo de sinédoques. eu falo do todo pela parte, da parte pelo todo, de comparações sem termo comparativo, de subtilezas várias.
no meio das palavras fundentes, o nosso dever: falar. não é, senhor mário?
é sim, senhor joão.
a internet é hoje um imenso buraco negro, em permanente mutação: ora friamente transbordante, ora escaldantemente vazio. os adjectivos estão ao contrário? sim, senhor, é bom de ver. isto dos barómetros interiores é toda uma ciência.
gurus.net.tv? balanced scorecard immersion? ranking dos business thinkers? change management? global risk assessment? importam-se de repetir? tudo isto me interessa, por razões profissionais. e tudo isto, simultaneamente, me estafa, me entedia, me aborrece.
o que eu quero é ver fotogramas de antonioni. o que eu quero é ver excertos dos mestres japoneses, entrar dentro daquele tempo, perceber como era viver antes da velocidade e da globalização e do politicamente correcto e de todas as barbaridades conceptuais que disfarçam todo o mal-estar existencial.
hoje, para variar, não me apetece poesia. aborrece-me a inacção, a contemplação, a suspensão no tempo e no espaço - tudo aquilo que normalmente me deslumbra, nessa nobre arte de dizer as coisas que calamos.
hoje, para variar, não quero modernidade. internets e banda larga, twitters e soundbits, tubos electrónicos e videoclips, rádio on demand e vjs, parafernálias electrónicas e mecanismos de precisão.
hoje, para variar, não me apetece sair. sempre os mesmo rituais, sempre as mesmas caras, sempre as mesmas máscaras. dizem eles e digo eu, que isto de falar dos outros e de nos eximirmos à nossa própria responsabilidade é coisa que seria simpática, mas que não rima com a nossa sombra. e, temo bem, nós somos o que os contornos da nossa rabiscada sombra deixam que nós sejamos. programação genética? pegada cultural? substracto adquirido? que enfado, senhores, que enfado..
hoje apetece-me coisas simples. apetece-me voltar ao tempo das certezas. dos futuros abstractos, mas mesmo abstractos. das músicas por descobrir. das cores por inventar. dos mecanismos inteiramente por revelar. abrir a janela e lembrar os contos com moral não ambígua. os caminhos humildes trilhados com passo seguro nas florestas míticas dos nossos sonhos. escrever sem adjectivos, praticar uma arte qualquer, mas uma coisa justa, enxuta, sem gangas a tiracolo.
apetece-me condensar os contos russos, a sabedoria oriental, a cerimónia do chá, o elogio da sombra, os princípios zen, a arquitectura less is more, o design minimalista (mas a sério, não aquele que finge - less is yet less, so many times), apetece-me um abraço sem freios, palavras sem compromissos, dias plácidos. apetece-me a simplicidade, abdicar do complexo, do inteligente, do bravo-brilhante-que-cabeça-mestre-da-análise-multivariada.
por isso, mergulho nos clássicos japoneses, nas quartas e quintas vagas chinesas, garimpeiro à procura de pepitas, respigador das coisas anacrónicas, prescrutador minucioso do que um dia foi.
eu sei, eu sei. uma missão para uma vida. uma missão para nada. uma missão que pode muito bem ser confundida com uma espécie de demissão. oh, cínicos do regime, tomai em vossas mãos as chaves do reino. não as quero para nada, atentai.
dizia esse jazzman, escritor meio maldito, bon vivant (como todos os seres inteligentes que do frenesim fazem bálsamo contra as trevas próprias da lucidez) - boris vian -: 'não quero saber da felicidade da humanidade, mas da felicidade de cada homem'.
eu, que não sou ninguém, suspeito bem que a única felicidade está na simplicidade mais despojada. eu só suspeito, notem bem. quando tudo grita o seu contrário, eu grito ao contrário. quando tudo grita, eu calo. quanto tudo impôe, eu aceito. quando tudo esmaga as flores, eu cultivo o açúcar - temo bem que vamos precisar dele, mais à frente.
eu falo de metáforas. eu falo de metonímias. eu falo de sinédoques. eu falo do todo pela parte, da parte pelo todo, de comparações sem termo comparativo, de subtilezas várias.
no meio das palavras fundentes, o nosso dever: falar. não é, senhor mário?
é sim, senhor joão.
estação de inverno: 52ª estação
hoje, a quinquagésima segunda estação de inverno.
de regresso ao formato mais habitual do programa, daremos voz a jorge gomes miranda, com base no seu livro 'velhos' - evocação dorida e delicada do que nem sempre sabemos articular: o inexorável trabalho do tempo, a impiedosa luta travada pela memória. muito forte, muito justo, muito belo.
do lado musical, uma palavra especial para um disco estupendo dos the divine comedy: 'a short album about love' - a sua obra maior. pop exaltante com labaredas sinfónicas, de uma elegância majestosa, em absoluto estado de graça.
chamaremos ainda ao palco três formas de fazer música moderna em português: bernardo devlin, esteta quase desconhecido; noiserv, escultor delicado de composições em registo 'low fi', misturando electrónica caseira e voz de cantautor; e os a naifa, relembrando um projecto que nos diz muito, por também envolver poetas portugueses contemporâneos.
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
de regresso ao formato mais habitual do programa, daremos voz a jorge gomes miranda, com base no seu livro 'velhos' - evocação dorida e delicada do que nem sempre sabemos articular: o inexorável trabalho do tempo, a impiedosa luta travada pela memória. muito forte, muito justo, muito belo.
do lado musical, uma palavra especial para um disco estupendo dos the divine comedy: 'a short album about love' - a sua obra maior. pop exaltante com labaredas sinfónicas, de uma elegância majestosa, em absoluto estado de graça.
chamaremos ainda ao palco três formas de fazer música moderna em português: bernardo devlin, esteta quase desconhecido; noiserv, escultor delicado de composições em registo 'low fi', misturando electrónica caseira e voz de cantautor; e os a naifa, relembrando um projecto que nos diz muito, por também envolver poetas portugueses contemporâneos.
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
26 janeiro 2009

that summer came, that summer went.
no fim, como no princípio. muitas palavras depois, muitas coisas depois, estamos no mesmo sítio. vá lá, concedo, um par de meses mais velhos. não mais sábios - talvez mais ácidos, mais desiludidos, mais conformados. decididamente, mais melancólicos.
tragicomédia sob a brisa de verão, pois então.
em três palavras? vicki cristina barcelona.
24 janeiro 2009
22 janeiro 2009
21 janeiro 2009
errata
onde se lê Deus deve ler-se morte.
onde se lê poesia deve ler-se nada.
onde se lê literatura deve ler-se o quê?
onde se lê eu deve ler-se morte.
onde se lê amor deve ler-se inês.
onde se lê gato deve ler-se barnabé.
onde se lê amizade deve ler-se amizade.
onde se lê taberna deve ler-se salvação.
onde se lê taberna deve ler-se perdição.
onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.
onde se lê manuel de freitas deve ser
com certeza um sítio muito triste.
manuel de freitas
in 'terra sem coroa', edições teatro de vila real
[onde se lê manuel de freitas deve ler-se_____________________]
onde se lê poesia deve ler-se nada.
onde se lê literatura deve ler-se o quê?
onde se lê eu deve ler-se morte.
onde se lê amor deve ler-se inês.
onde se lê gato deve ler-se barnabé.
onde se lê amizade deve ler-se amizade.
onde se lê taberna deve ler-se salvação.
onde se lê taberna deve ler-se perdição.
onde se lê mundo deve ler-se tirem-me daqui.
onde se lê manuel de freitas deve ser
com certeza um sítio muito triste.
manuel de freitas
in 'terra sem coroa', edições teatro de vila real
[onde se lê manuel de freitas deve ler-se_____________________]
19 janeiro 2009
estação de inverno: 51ª estação
amanhã, a quinquagésima primeira estação de inverno.
uma pausa, muito ligeira, na poesia 'mais literária' e um mergulho na 'poesia em prosa' dos dias que correm.
um programa algo experimental, em torno do mundo interior que torna possível, semana após semana, a própria 'estação de inverno'. se quisermos, uma visita aos bastidores onde tudo acontece.. cá dentro.
ocorre-nos ainda uma expressão: 'radio-blog'. e mais esta: 'poesia directa'.
é a loucura mansa instalada, senhoras e senhores. medo ;-).
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
uma pausa, muito ligeira, na poesia 'mais literária' e um mergulho na 'poesia em prosa' dos dias que correm.
um programa algo experimental, em torno do mundo interior que torna possível, semana após semana, a própria 'estação de inverno'. se quisermos, uma visita aos bastidores onde tudo acontece.. cá dentro.
ocorre-nos ainda uma expressão: 'radio-blog'. e mais esta: 'poesia directa'.
é a loucura mansa instalada, senhoras e senhores. medo ;-).
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
16 janeiro 2009
(..)
faço isto para mim, para me certificar que há um equivalente visual para aquilo que sinto. (..) é um trabalho sobre um ser só que olha para os escombros, alguém que já não tem ilusões de que está a viver num mundo regido por falanges cinzentas e onde reina a delação e o pânico. este homem vai produzindo imagens surdas sobre o bolor, a fome e o frio. (..) é mais um trabalho de dissidência em relação à hipocrisia global que tenta vender a imagem da felicidade às pessoas. sinto-me só, sinto-me desiludido, mas por outro lado há uma espécie de serenidade interior por ter chegado a estas conclusões.
numa das fotografias da exposição, há um puzzle, onde se vê uma paisagem a que falta uma peça. que peça é esta?
sou eu. o mundo é como é e, embora não consiga mudar a paisagem do puzzle, aquilo que ainda posso fazer é não me encaixar nela.
paulo nozolino, em entrevista ao 'ípsilon', jornal 'público', acerca da sua mais recente exposição ('bone lonely'), sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
[não, não era eu a falar sobre a génese deste blog. mas, como na anedota, percebo a ideia..]
faço isto para mim, para me certificar que há um equivalente visual para aquilo que sinto. (..) é um trabalho sobre um ser só que olha para os escombros, alguém que já não tem ilusões de que está a viver num mundo regido por falanges cinzentas e onde reina a delação e o pânico. este homem vai produzindo imagens surdas sobre o bolor, a fome e o frio. (..) é mais um trabalho de dissidência em relação à hipocrisia global que tenta vender a imagem da felicidade às pessoas. sinto-me só, sinto-me desiludido, mas por outro lado há uma espécie de serenidade interior por ter chegado a estas conclusões.
numa das fotografias da exposição, há um puzzle, onde se vê uma paisagem a que falta uma peça. que peça é esta?
sou eu. o mundo é como é e, embora não consiga mudar a paisagem do puzzle, aquilo que ainda posso fazer é não me encaixar nela.
paulo nozolino, em entrevista ao 'ípsilon', jornal 'público', acerca da sua mais recente exposição ('bone lonely'), sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
[não, não era eu a falar sobre a génese deste blog. mas, como na anedota, percebo a ideia..]
15 janeiro 2009

no virar dos anos oitenta para os noventa, uma bandazinha indie americana gravou 3 ou 4 discos bem bonitos, num estilo (num som) inconfundível que logo ali cativou um grupo generoso de fiéis devotos.
os 'galaxie 500', é deles que falamos, escolheram(?) um caminho discreto (há quem diga, faz parte da lenda, que podiam ter sido 'os outros pixies', o que não é dizer pouco), interrompido subita e algo traumáticamente, em 1991, pela saída do seu carismático líder, dean wareham, que iniciou aí um conjunto de outros projectos musicais - talvez o mais conhecido seja uma outra banda, de nome 'luna'.
dos três elementos fundadores dos galaxie 500, dois continuaram juntos (na música, como alíás na vida privada): damon krukowski and naomi yang. desde então, têm gravado discos subtis, entre o atmosférico e o elegantemente eléctrico, sob o nome 'damon and naomi'.
esta sexta-feira, 'damon and naomi' estarão em lisboa, na galeria zé dos bois, para um travelling panorâmico pelo seu disco mais recente e, seguramente, pelos momentos mais marcantes da sua carreira.
se passarem pelo bairro alto, espreitem-nos. é coisa para, serenamente, valer a pena
14 janeiro 2009
13 janeiro 2009
estação de inverno: 50ª estação

hoje, a quinquagésima estação de inverno.
cinquenta programas depois, dezenas de poetas portugueses depois, é chegada a hora de escutar a(s) palavra(s) do senhor mário cesariny , um dos príncipes do surrealismo português (há quem diga do surrealismo que é, afinal, uma forma extrema e implacável de lucidez). porque a ocasião é especial, durante esta edição da 'estação de inverno', a voz que escutaremos será a do próprio, a partir do áudio-livro editado pela 'assírio e alvim' e que é, como dizer?, uma coisa de uma beleza fulminante. outros dizem: simplesmente comovente.
difícil escolher canções, para tão elevado maestro. contra toda a lógica, estaremos na (boa) companhia de meninas e senhoras que cultivam com requinte aquela 'folk-rock-country' a que, em boa hora, chamaram 'americana'. dizem que 'even cowgirls get the blues'- normalmente, isso dá-nos coisas lindas.
uma nota também para uma cançãozinha dos 'the triffids' (banda australiana, da segunda metade dos anos oitenta, a que voltaremos, um dia destes): sim, é aquela canção da qual dizem ser a quintessência do ultra-romantismo. na 'estação', claro, já esfregamos as mãos..
50 programas. mas basta 1 palavra: obrigado.
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
12 janeiro 2009
em lisboa, na galeria 'quadrado azul', paulo nozolino apresenta-nos a sua mais recente exposição, de seu nome 'bone lonely'.
para gente sem medo. é tudo o que há a dizer. falar das fotografias de nozolino é uma tentação - parece fácil, tal a riqueza imagética / simbólica / semiótica.
mas resistamos à tentação e optemos pela 'via dolorosa': ide e vede.
estação de inverno: 50ª estação

amanhã, a quinquagésima estação de inverno.
cinquenta programas depois, dezenas de poetas portugueses depois, é chegada a hora de escutar a(s) palavra(s) do senhor mário cesariny , um dos príncipes do surrealismo português (há quem diga do surrealismo que é, afinal, uma forma extrema e implacável de lucidez). porque a ocasião é especial, durante esta edição da 'estação de inverno', a voz que escutaremos será a do próprio, a partir do áudio-livro editado pela 'assírio e alvim' e que é, como dizer?, uma coisa de uma beleza fulminante. outros dizem: simplesmente comovente.
difícil escolher canções, para tão elevado maestro. contra toda a lógica, estaremos na (boa) companhia de meninas e senhoras que cultivam com requinte aquela 'folk-rock-country' a que, em boa hora, chamaram 'americana'. dizem que 'even cowgirls get the blues'- normalmente, isso dá-nos coisas lindas.
uma nota também para uma cançãozinha dos 'the triffids' (banda australiana, da segunda metade dos anos oitenta, a que voltaremos, um dia destes): sim, é aquela canção da qual dizem ser a quintessência do ultra-romantismo. na 'estação', claro, já esfregamos as mãos..
50 programas. mas basta 1 palavra: obrigado.
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
08 janeiro 2009
07 janeiro 2009
_04.jpg)
quanto ao resto, o fantasma de tom joad ronda a nossa porta.
ele nunca morreu, nas páginas do livro de john steinbeck. ele nunca desapareceu dos negativos e bobines da película de john ford. ele nunca deixou de habitar a pele de henry fonda. tom joad era a américa dos perdedores dignos.
hoje, a américa continua, mais ainda, a ser o mundo. mas a dignidade é já uma palavra gasta e nada 'fashionable'.
cuidado, amigos, o fantasma de tom joad anda lá fora. por isso, se se cruzarem com ele, tratem-no bem. ele virá buscar o que é seu. ele acaba sempre por vir, não é? e vocês não vão querer olhá-lo nos olhos. porque ele pode muito bem serem vocês próprios. e o espelho mera cortesia da casa..
06 janeiro 2009
estação de inverno: 49ª estação

hoje, a quadragésima nona estação de inverno.
o senhor vitor nogueira apresenta-nos o seu mundo desencantado e em perda, através da metáfora(?) do 'comércio tradicional' (mais um belíssimo livrinho da editora averno). uma elegia, terna e pungente, por um mundo que não volta mais. e por um lugar nesse mundo, que foi um dia o nosso e que se vai esvaindo, por entre os dias que passam.
também recebemos a visita de the velvet underground and nico, num 'travelling' pelo mítico disco de 1967, que ficou na história como o 'álbum da banana' (alusão à capa de andy warhol). pop art e música revolucionária - semiótica seminal, amigos.
[rádio zero: terças: 23h-24h; repete sábados: 14h-15h]
[ruc: madrugadas de domingo para segunda: 3h-4h]
05 janeiro 2009
04 janeiro 2009
02 janeiro 2009

- é tudo o que tens?
- é tudo o que tenho.
- um 'borrachon' e um velho?
- é o que tenho.
- porque insistes? há dois anos que não ele se aguenta sem alguém a segurá-lo. dos dois lados, de preferência..
- não o conheceste há três anos. era o meu ajudante. o melhor de todos.
- e depois?
- depois, há sempre uma história. a dele chegou numa carruagem. não ouviu ninguém, como sempre acontece. ela partiu e ele foi com ela. meses depois, ele regressou, sem ela. transformou-se no que conheceste. até ontem.
- mas quanto tempo se vai aguentar?
- não sei.
- porque insistes em tomar conta dele?
- porque toma bem conta de mim.
de cabeça, um diálogo entre o 'sheriff chance' protagonizado por john wayne e uma personagem secundária, a propósito desse anjo caído a caminho da redenção que é a personagem do 'deputy dude' (na foto acima), protagonizado por dean martin.
'rio bravo', do enorme howard hawks, ontem na RTP2, num deslumbrante 'technicolor', com diálogos deste calibre, a lembrar que o cinema 'bigger than life' é uma coisa de nos levar às lágrimas e a um estado de exaltação - num mesmo segundo.