30 abril 2012
27 abril 2012
25 abril 2012
24 abril 2012
23 abril 2012
21 abril 2012
20 abril 2012
18 abril 2012
cemitério da ajuda
(para ti, que continuas aqui)
we would expect families to be living in the vaults,
so many are small stone houses with painted doors and curtained windows,
so many are small stone houses with painted doors and curtained windows,
the coffins mirror-smooth and on bunks along two walls,
and there are fewer than have been abandoned
on any street in an actual city. through one grimy window
i see a shelf like a mantelpiece with framed photos
of a woman as a child and as a teenager and then of her as a bridesmaid.
on the clean floor there’s a line of yellow teddy-bears
and in a darkened corner, encircled by fallen petals, a vase of roses.
why am i looking in on this sadness? in another vault,
across from the grey dusty coffins, broken shelves;
and in another, a monochrome studio-portrait of the entire family
as would be hung with pride above a matriarch’s bed.
why am i weeping again as i never do in my adopted country?
why, as i am wandering the streets of memorial homes and cenotaphs,
hiding in the shade of cyprus trees charred by the noon sun?
when i cross paths with the three old women bundled in their black,
they don’t murmur bom dia. to them i am less than the dead,
not even a curator of remains, not even a ghost-writer – a tourist.
i’m sick of this. i can’t stop weeping.
john mateer
foto: kevin sarnoff
e há o rosto, sorridente e cinematográfico, daquela miúda, atrás do balcão, dizendo-te 'sou do nepal', quando lhe perguntas se por acaso não vem das filipinas. do nepal e de katmandu, sua mítica capital, que conheces de outros tempos. anos atrás, andavas por lá. repetes nomes de cidades que visitaste e o rosto, agora aceso e brilhante, interessa-se por aquele português que, improvavelmente, conhece a sua casa, esse vale em torno da capital, esse rio sagrado, ao longo do qual o cheiro das piras funerárias faz das suas, o templo dos macacos, os socalcos com arrozais, as estradas que serpenteiam, as cidades medievais como que teletransportadas para este tempo. o rosto, menos tímido agora, sorri-te e pergunta-te o nome, que, segundos depois, tentará soletrar, o melhor que consegue. pensas, numa fracção de segundo, no woody allen, no john lennon, nesses orientais amores que lhes saíram ao caminho. não que penses nisso, que não pensas - apenas em abstracto, digamos assim. mas, quem diria, encontrar alguém vindo de tão longe, no espaço e no tempo. muitos anos passaram. muitos anos e tanta coisa vivida. se john cassavetes tivesse sido português e nosso contemporâneo, talvez a tua vida fosse agora uma espécie de argumento. a tua vida e o teu rosto, nessa eterna e recorrente noite de estreia, habitada pelas sempiternas sombras que são, talvez, o que de mais humano trazes aos ombros. um café, uma miúda nepalesa, uma gabardine imaginária cossada, a tarde que cai, a vida aos repelões. nossa senhora do micro-espanto, avé.
17 abril 2012
fear is a man's most faithful friend
noites há em que,
como manhãs nas quais,
entras já tarde dia adentro
desconfiado de que jamais.
dias há em que,
como noites sempre iguais,
finda cedo a tarde inconsequente
certo estás de que nunca mais.
noites há em que,
como manhãs nas quais,
entras já tarde dia adentro
desconfiado de que jamais.
dias há em que,
como noites sempre iguais,
finda cedo a tarde inconsequente
certo estás de que nunca mais.
16 abril 2012
15 abril 2012
sobre o lado esquerdo
de vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. e então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
no segundo caso, o homem que não dorme pensa: «o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração».
carlos de oliveira
14 abril 2012
12 abril 2012
10 abril 2012
1,2,3..
'tabu', de miguel gomes.
'a vingança de uma mulher', de rita azevedo gomes.
'é na terra não é na lua', de gonçalo tocha.
cada qual à sua maneira, são formidáveis máquinas de sonho (ficção) e de revelação (pensamento e emoção). andam algures, por aí, numa sala de cinema. é aproveitar, digo eu, que nada sei das coisas do mundo, mas de cinema, sou como o outro - percebo o mínimo do mínimo (i.e., o suficiente..ou quase).
'tabu', de miguel gomes.
'a vingança de uma mulher', de rita azevedo gomes.
'é na terra não é na lua', de gonçalo tocha.
cada qual à sua maneira, são formidáveis máquinas de sonho (ficção) e de revelação (pensamento e emoção). andam algures, por aí, numa sala de cinema. é aproveitar, digo eu, que nada sei das coisas do mundo, mas de cinema, sou como o outro - percebo o mínimo do mínimo (i.e., o suficiente..ou quase).
09 abril 2012
07 abril 2012
06 abril 2012
05 abril 2012
o teu nome é já poeira sideral, uma constelação de estrelas a caminho da morte, um jogo de espelhos que engana os sentidos. o teu nome é um galgo a quem cortaram as pernas, correndo desvairado a caminho da aniquilação. o teu nome é sangue decomposto - plaquetas, glóbulos, conjunto de substâncias químicas passíveis de análise laboratorial. o teu nome são rosas mortas, petrificadas sobre a mesa que ninguém frequenta. o teu nome é um território amaldiçoado, uma heresia contra a beleza selvagem que nos enche de júbilo e esmaga o cinzento baço deste céu de meteoritos. o teu nome é um rótulo, uma palavra desgraçada que lembra todas as curvas do teu corpo. e esse cheiro doce que, viva cem anos ou nenhum, não mais esquecerei. o teu nome é um fogo-fátuo, próprio dos cemitérios esquecidos. o teu nome é uma flor indelével. um universo inteirinho. um massacre e um milagre. o teu nome é Deus a brincar aos sonhos.
ou seja:
o teu nome:
poeira sideral
constelação de estrelas a caminho da morte,
jogo de espelhos que engana os sentidos
galgo a quem cortaram as pernas,
correndo desvairado a caminho da aniquilação
sangue decomposto - plaquetas, glóbulos -
meros fenómenos químicos passíveis de análise laboratorial
rosas mortas,
petrificadas sobre a mesa que ninguém frequenta já
território amaldiçoado,
heresia contra a beleza selvagem
que nos enche de júbilo
e esmaga o cinzento baço de um céu de meteoritos
rótulo, palavra desgraçada que lembra todas as curvas do teu corpo
e esse cheiro doce que, viva cem anos ou nenhum, não mais esquecerei
fogo-fátuo,
construção meramente geológica, própria dos cemitérios esquecidos
uma flor indelével,
um universo inteirinho
o teu nome:
era Deus a brincar aos sonhos.
04 abril 2012
03 abril 2012
a água que murmura espectros lentos
o que houve e não houve e não volta nunca mais
os quartos sem esperança que os guardasse
as casas sem anjo da guarda
a luz intensa bela e dolorosa
a adolescência dilacerada
a ternura dezoito anos recusada
na casa dos átridas
o crime horroroso que não houve
mas as feridas abriram manaram um sangue
que penetra implacável as fendas do sono
e me deixa acordado à beira da estrada
com lágrimas que percorrem
trinta
alberto de lacerda