05 abril 2012



o teu nome é já poeira sideral, uma constelação de estrelas a caminho da morte, um jogo de espelhos que engana os sentidos. o teu nome é um galgo a quem cortaram as pernas, correndo desvairado a caminho da aniquilação. o teu nome é sangue decomposto - plaquetas, glóbulos, conjunto de substâncias químicas passíveis de análise laboratorial. o teu nome são rosas mortas, petrificadas sobre a mesa que ninguém frequenta. o teu nome é um território amaldiçoado, uma heresia contra a beleza selvagem que nos enche de júbilo e esmaga o cinzento baço deste céu de meteoritos. o teu nome é um rótulo, uma palavra desgraçada que lembra todas as curvas do teu corpo. e esse cheiro doce que, viva cem anos ou nenhum, não mais esquecerei. o teu nome é um fogo-fátuo, próprio dos cemitérios esquecidos. o teu nome é uma flor indelével. um universo inteirinho. um massacre e um milagre. o teu nome é Deus a brincar aos sonhos.


ou seja:


o teu nome:
poeira sideral

constelação de estrelas a caminho da morte,
jogo de espelhos que engana os sentidos

galgo a quem cortaram as pernas,
correndo desvairado a caminho da aniquilação

sangue decomposto - plaquetas, glóbulos -
meros fenómenos químicos passíveis de análise laboratorial

rosas mortas,
petrificadas sobre a mesa que ninguém frequenta já

território amaldiçoado,
heresia contra a beleza selvagem

que nos enche de júbilo
e esmaga o cinzento baço de um céu de meteoritos

rótulo, palavra desgraçada que lembra todas as curvas do teu corpo
e esse cheiro doce que, viva cem anos ou nenhum, não mais esquecerei

fogo-fátuo,
construção meramente geológica, própria dos cemitérios esquecidos

uma flor indelével,
um universo inteirinho

o teu nome:
era Deus a brincar aos sonhos.