com estas mãos, ergui uma igreja, pedra a pedra, seguindo o exemplo das grandes catedrais, essas furiosas manifestações verticais. por fora, de um barroco impossível. por dentro, um espaço rigorosamente vazio - arte total, fundindo conteúdo e forma. repara: falo de um cenotáfio (um monumento fúnebre, sem um corpo sequer que possamos velar, como naquele poema), exacto na inclemente ausência de altares, santos, celebrantes, crentes. construí este templo, como se tacteia um caminho. conheço cada pedaço de pedra, cara ruga das paredes, todos os ângulos secretos, todas as dores. agora, por estes dias, verifico que, como em tanto outros caminhos trilhados por tantos outros homens, o destino não importava. ou talvez nem sequer existisse, como naqueloutro poema. esta espécie de deus fugiu da sua própria igreja, abandonou o seu rebanho. a igreja transformou-se, assim, numa mera obra de humana engenharia, sem graça nem transcendência. tristes materiais inertes, ao serviço de um sonho que se sonhava a si próprio.
destruir, diz ela. arrasar, digo eu.
destruir, diz ela. arrasar, digo eu.
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