bilhete postal
tenho um livro (em branco) na mala do carro
esplêndido photomaton destes meses (também eles brancos)
tal como estes versos (de rima branca)
e uns tantos poemas ainda por escrever (brancos).
não sei bem porquê, mas é alva a memória que guardo
das paredes de tua casa,
dos livros que nela guardas,
da ponta dos teus cigarros,
da quase não-cor da tua bebida preferida,
das minhas palavras a mais
das tuas palavras a menos
- e de mais umas quantas coisas que não vou aqui escrever
(o poeta a que falta coragem é, também ele, um poeta em branco).
só os teus olhos não eram brancos,
antes de uma impossível cor de avelã,
mas disso, ou também disso,
não tenho eu qualquer culpa.
é como gostar de uma canção:
há coisas que não se explicam,
coisas que não precisam de explicação,
coisas simples que simplesmente são.
ou então não.
mas em tudo o que não é
há ainda uma vertical vitória
dos sonhos que caíram
como árvores:
impecavelmente lúcidas,
morrendo de pé.
ou pelo seu próprio pé.
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