03 junho 2011



'la nostra feroce volontà d'amore'

há poemas assim,
tanto maiores quanto mais fielmente depositários
dessa exigência extrema e primaveril
que incendeia todas as pétalas-palavras.

como se a poesia fosse um modo de dizer
o que não pode ser dito
e que, contudo, tem que ser absolutamente dito.

como os teus lábios,
que já não existem a bem dizer,
e que, contudo,
nunca existiram de forma tão absoluta.

o que é o real? - perguntas-me,
como se eu fosse filósofo, sage, sábio,
e eu respondo-te como sei:

o real é eu saber ainda declinar
a curva da tua pele,
milímetro a milímetro,

e nela ter reaprendido a impotência devastadora
de toda a geografia descritiva.

o real é a memória,
e a saudade.

mas o real é também o futuro,
essoutra estrada por ora adiada.