as vozes
a infância vem
pé ante pé
sobe as escadas
e bate à porta
– quem é?
– é a mãe morta
– são coisas passadas
– não é ninguém
tantas vozes fora de nós!
e se somos nós quem está lá fora
e bate à porta? e se nos fomos embora?
e se ficámos sós?
manuel antónio pina
como seria de esperar, pelo menos para os mais atentos a estas coisas, a entrevista de manuel antónio pina, recente prémio camões, ao jornal público, da passada sexta-feira, é um notável registo escrito de uma conversa que terá sido cintilante (ou não tivesse ocorrido entre a uma e as cinco da madrugada).
este homem diz coisas tão simples. que a poesia trata do amor e da morte (os dois grandes temas da vida e da arte), acrescentando-lhes ainda um terceiro - o tempo. e que não há redenção na poesia, porque a noção de simulacro prevalece sobre a recuperabilidade (do tempo, da sensação em primeira mão, da experiência original e autêntica). no entanto, a poesia oferece-nos algo precioso - a inventividade da linguagem e das ideias contra o medo. medo de quê? do que está antes (representado pelo universo sexual, em sentido lato), do que está durante (o amor), do que está depois (a morte), do que está sempre (o tempo).
ou as flores de inverno explicadas.
1 Comments:
Cito Sophia: (...) A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. (...)
Valha-lhe essa sua não negação, enquanto que eu...
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