25 abril 2011

(para alguém)


era um rapaz que guardava um tesouro,
(era uma rapariga que guardava um tesouro)
uma espécie de constância, se quisermos,
(uma espécie de constância, se quisermos)
e não sabia a quem o confiar. a vítima ideal,
(e não sabia a quem o confiar. a vítima ideal,)
dir-se-ia, de todos os piratas. mas não,
(dir-se-ia, de todos os piratas. mas não,)
não era esse o caso. no epicentro da constância
(não era esse o caso. no epicentro da constância)
o que ferve é amor, e este era um rapaz
(o que ferve é amor, e esta era uma rapariga)
conduzido pela voz de seu pai. havia nele
(conduzida pela voz de seu pai. havia nela)
o dom da fidelidade. nós, que facilmente nos
(o dom da fidelidade. nós, que facilmente nos)
vergamos a potências de melaço e sentimentos
(vergamos a potências de melaço e sentimentos)
indolores, não sabemos nada disso.
(indolores, não sabemos nada disso.)
ele sabia. e assim, quando o lobo, de olhos
(ela sabia. e assim, quando o lobo, de olhos)
lacrimosos, foi rondar a sua porta, o rapaz
(lacrimosos, foi rondar a sua porta, a rapariga)
fez o que Cristo faria: deixou a sua casa
(fez o que Cristo faria: deixou a sua casa)
e fugiu por cima de água, ao encontro
(e fugiu por cima da água, ao encontro)
de uma cruz de carne e osso. onde pôde,
(de uma cruz de carne e osso. onde pôde,)
finalmente, repousar. e o mal, mesmo
(finalmente, repousar. e o mal, mesmo)
viajando noite e dia, nunca soube dar com ele.
(viajando noite e dia, nunca soube dar com ela.)
foi sorte, dizei vós. não foi. simplesmente,
(foi sorte, dizei vós. não foi. simplesmente,)
era um rapaz que possuía um tesouro
(era uma rapariga que possuía um tesouro)
a que se agarrar, e também a necessidade
(a que se agarrar, e também a necessidade)
de o entregar a quem, de não ser como os demais.
(de o entregar a quem, de não ser como as demais.)

josé miguel silva