10 abril 2011



não sei se sonhei ou se era matéria viva
mas sei que era decerto primavera nessa noite
onde desenhávamos tangentes e paralelas
nas nossas conversas de naufrágio
que tão bem sabemos reconhecer à légua.

lá dentro, e lá atrás, a música noise musculada
servia apropriadamente de banda sonora
para mais uma noite na nossa cidade emprestada
que calhou ser esta, mas bem poderia ser outra,
mesmo que não gostemos de o reconhecer.

pelo retrovisor e pelo oráculo, passado e futuro,
como moving walls nos filmes de aventura,
ameaçando esmagar este tempo presente (tudo o que temos).
butão, tailândia, a ilha, geografias precisas
(ou preciosas), por onde os nossos afectos vôam

quando nós, seus não donos e senhores, precisamos
de calor, de um ombro possível, de uma coisa qualquer
- de tudo o que nos afaste dos silogismos da amargura,
da tentação de tudo reduzirmos a um vale de lágrimas,
do abismo de nos situarmos num teatro do absurdo.

era noite, primaveril, doce, recordo-me bem
do seu abraço suave e dos seus lábios sobre os meus
e só por isso penso que não falo de um sonho
em que entrássemos nós, passado e futuro,
geografias próximas e longínquas, toda a geometria

dos afectos, quando a conseguimos articular.
longe ou perto, ontem ou depois de amanhã, não sei,
mas sei que dou graças por poder escrever isto,
principalmente a um domingo (dia em que me falta tudo),
dou graças pela tua amizade e presença

e é por tudo isto que te conto um segredo:
voei para o grande templo das pedras,
dominei, finalmente, a grande geometria humana,
encontrei coragem para deixar o sonho
e dizer-te que arqueologia futura sôa-me bem,

nem tu sabes quanto.

(it could still be a perfect world, i guess..)