24 abril 2011

não é preciso muito para ser feliz,
disse-me, uma vez, um professor da escola primária.
lembro-me dele, todos os dias,
agora que, dobrados os trinta há tempo bastante,
percebi a arquitectura de mies van der rohe:
less can be more, stupid boy.
so much more.

por isso, alimento-me frugalmente,
não venero deuses materiais,
poupo bastante energia,
habituei-me a viver com pouco:
pão ázimo,
café de saco,
palavras,
alguns discos,
não muitos filmes,
uns fatos de corte fino e antigo.
(só abuso das memórias e dos sonhos.)

vivo a quaresma que escolhi,
mas
acredito
na vida eterna
e nas estrelas
e na possibilidade de as flores poderem tomar o mundo.

algures entra aqui
a pele de uma rapariga
e o rosto,
e o rasto de resto.

tem que terminar o poema?
não pode..
e lavro aqui o meu protesto!

4 Comments:

Anonymous Draguie said...

Nowhere Man please listen
You don't know what you're missing
Nowhere Man
the World is at your command!

domingo, abril 24, 2011 11:40:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(poderá um poema adiado não ser
um poema que morreu afogado quase a chegar à pele? )

segunda-feira, abril 25, 2011 4:00:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sou um comboio rápido
que há muitos anos vai e vem
entre a cidade Sim
e a cidade Não.
Os meus nervos estão tensos
como cabos
entre a cidade Não
e a cidade Sim.

Tudo está morto e assustado na cidade Não.
É como um embrulho feito de tristeza.
Dentro dela todas as coisas franzem a testa.
Há medo nos olhos de todos os retratos.
De manhã enceram com bílis o soalho.
Os sofás são de falsidade, as paredes de miséria.
Nunca te darão nessa cidade um bom conselho,
nem um ramo de flores, nem um simples aceno.
As máquinas de escrever batem, com cópia,
a resposta:
Não-não-não... não-não-não... não-não-não...
E quando enfim se apagam as luzes
os fantasmas iniciam o seu lúgubre bailado.
Nunca, ainda que rebentes, arranjarás bilhete
para fugir da negra cidade. Não.

Ah, mas a vida na cidade Sim é um canto de ave.
Não tem paredes a cidade, é como um ninho.
As estrelas dizem que as acolhas nos teus braços.
E sem vergonha seus lábios pedem teus lábios,
num brando murmúrio: São tudo tolices...
A flor provocante implora que a cortes,
os rebanhos oferecem o leite com seus mugidos,
ninguém tem ponta de medo.
E aonde queiras ir te levam num instante comboios,
barcos, aviões,
e com um rumor antigo vai a água murmurando:
Sim-sim-sim... sim-sim-sim... sim-sim-sim...
Mas às vezes é certo que aborrece
ser-me dado, afinal, tudo sem esforço
nesta cidade Sim, deslumbrante de cor.

É melhor ir e vir até ao fim da minha vida
entre a cidade Sim
e a cidade Não!
É melhor ter os nervos tensos como cabos
entre a cidade Não
e a cidade Sim!

Ievgueni Ievtuchenko

R.

segunda-feira, abril 25, 2011 6:01:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

a cidade Sim: acolhe, mima, enternece,vibra de cor e ritmo, de sentimentos e emoções. é uma cidade viva, humana divina, telúrica e etérica, e quem lá vive sabe, e quem lá vive sente, e deixa-se levar nas águas correntes e fugidias e sente a adrenalina a correr pelo sangue e sabe que lá mais abaixo depois de cada rápido e curva perigosa, há um pequeno lago e calmaria onde descansar. a cidade do sim, é erguida com muito mais alegria e amor, porque também : 'não é preciso muito para se ser feliz'

dúvida, não ser, adiado, morreu, afogado, quase, são habitantes infelizes da cidade NÃO.

dúvida e afirmação, ser e não ser, adiado e consumado, morreu e viveu, são habitantes felizes da cidade SIM.

há lugar para todos, nas duas cidades.é só escolher.

terça-feira, abril 26, 2011 2:20:00 da tarde  

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