07 abril 2011

em todas as vidas há, para citar orson welles, "rosebuds" vários. pequenos símbolos, espectros, fragmentos, pequenas memórias, cintilações, pequenos altares privados, que nos transportam para "grandes mundos". "peixe lua" é um filme semi-obscuro, assinado por josé álvaro morais - autor bissexto e que já não se encontra entre os vivos. fará agora dez anos, talvez mais, que me cruzei com este filme e, pela primeira vez, com a intensidade incendiária que a actriz beatriz batarda, por vezes, consegue imprimir às suas poderosas performances. é um filme que permanece em mim, misteriosamente. que nos fala de um país que não existe: um reino sulista e solar, unindo o alentejo e a andaluzia, irmanado por uma paleta de cores quentes, pela planície dominante, uma certa ideia de sul, onde a língua da pele e dos afectos é bem mais importante que a língua que serve a fala. talvez o filme que eu vi não exista. se hoje for até à cinemateca e voltar a olhar para o filme, admito perfeitamente que os meus olhos vejam agora toda uma coisa outra. por isso, prefiro manter a pureza resguardada do que foi, esse olhar virginal e tocado pela generosidade que nos permite receber, sem cálculos estéticos ou sofisticadas aritméticas racionais ou glaciais crivos de gosto. "peixe lua" é - foi? - um filme especial, um work in progress algo caótico, um daqueles filmes que parecem não saber para onde caminham. e que, no entanto, nos encantam e comovem.. como certas pessoas, em certas fases, de certas vidas. isso.
ide ver.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

como certas flores que nos fazem acreditar 'que há ainda versos por escrever, que sobra no mundo um dizer ainda puro'
um bem haja
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sexta-feira, abril 08, 2011 10:14:00 da manhã  

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