em todas as vidas há, para citar orson welles, "rosebuds" vários. pequenos símbolos, espectros, fragmentos, pequenas memórias, cintilações, pequenos altares privados, que nos transportam para "grandes mundos". "peixe lua" é um filme semi-obscuro, assinado por josé álvaro morais - autor bissexto e que já não se encontra entre os vivos. fará agora dez anos, talvez mais, que me cruzei com este filme e, pela primeira vez, com a intensidade incendiária que a actriz beatriz batarda, por vezes, consegue imprimir às suas poderosas performances. é um filme que permanece em mim, misteriosamente. que nos fala de um país que não existe: um reino sulista e solar, unindo o alentejo e a andaluzia, irmanado por uma paleta de cores quentes, pela planície dominante, uma certa ideia de sul, onde a língua da pele e dos afectos é bem mais importante que a língua que serve a fala. talvez o filme que eu vi não exista. se hoje for até à cinemateca e voltar a olhar para o filme, admito perfeitamente que os meus olhos vejam agora toda uma coisa outra. por isso, prefiro manter a pureza resguardada do que foi, esse olhar virginal e tocado pela generosidade que nos permite receber, sem cálculos estéticos ou sofisticadas aritméticas racionais ou glaciais crivos de gosto. "peixe lua" é - foi? - um filme especial, um work in progress algo caótico, um daqueles filmes que parecem não saber para onde caminham. e que, no entanto, nos encantam e comovem.. como certas pessoas, em certas fases, de certas vidas. isso.
ide ver.
ide ver.
1 Comments:
como certas flores que nos fazem acreditar 'que há ainda versos por escrever, que sobra no mundo um dizer ainda puro'
um bem haja
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