08 abril 2011

dizem-me aqui ao ouvido insuspeitas fontes - pedigree intelectual, pois claro - que e.m. cioran e samuel beckett eram amigos. faz todo o sentido, pensando bem. afinal, se somarmos um dos expoentes máximos da filosofia pessimista e um dos ilustres mestres da dramaturgia existencial mais minimalista e silenciosa (atenção que o qualificativo minimalista aplica-se aqui à palavra existencial e não à palavra dramatugia, o que faz assinalável diferença) temos, como resultado, a redução do corpo teórico da obra de ambos a uma mesma raíz matricial comum: o manto silencioso e negro da falta sentido. um niilismo sem punch. um absurdo e exasperante vazio. a mim não me dá nenhuma satisfação, confesso, escrever estas coisas. o que nos vale é que há sempre uma centelha de esperança. por exemplo, a amizade, ainda assim possível, entre estes dois homens. e o facto de nenhum deles ter caído num estado de letargia misógena. ambos viveram. ambos ainda vivem, nestas minhas palavras e em muitas outras constelações seguramente ainda acesas. afinal, talvez o niilismo não possa ser declarado como o grande vencedor, apesar da grandiosidade argumentativa e da fina inteligência dos amigos emil e samuel. e isto, amigos meus, é uma grandessíssima vitória da vida sobre as trevas. porreiro, pá.