ricardo rocha é, talvez, um dos mais atormentados músicos portugueses. neto de fontes rocha, histórico da guitarra portuguesa, ricardo rocha é alguém que foge das luzes e que mantém uma guerra aberta com a sua própria arte - que vê quase como uma espécie de maldição. as esparsas entrevistas que dá são penosas de ler, pelo tom invariavelmente desencantado, por um certo realismo crú que destrói a poética que, normalmente, preferimos ver em todas as manifestações criativas.
amanhã, terca-feira, no teatro maria matos, ricardo rocha vai tocar a integral das suas obras "so far", para guitarra (que é compositor, igualmente talentoso, para outros instrumentos, mas talvez não quase genial, como quando aborda o amaldiçoado objecto do seu descontentamento - a guitarra, sempre a guitarra).
os concertos a solo deste ainda rapaz (na casa dos trinta e tais, cremos) são raríssimos. mas não é nada raro encontrar entendidos ou críticos musicais que se curvam em uníssono perante a sua capacidade de composição para o intrumento e diante do seu magistral domínio interpretativo.
se gostam do som da guitarra portuguesa, se gostam de carlos paredes ou de pedro caldeira cabral, não podem perder este espectáculo. ele diz que "só pode correr mal", dentro do seu habitual estilo auto-depreciativo. o que quer dizer que tem tudo para correr bem..
fica a nota.
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