"Joga com energia e rapidez, com uma mestria cruel, mostrando os dentes brancos sem sorrir quando devolve a bola. Vai ganhar. O seu adversário, o rapaz grande e louro, já o sabe; a sua defesa reveste-se de uma galanteria comovedora. A sua beleza é tão suave, tão natural, tão nobre; e no entanto o seu corpo marmóreo, de linhas clássicas, parece constituir uma desvantagem para ele. As regras do jogo impedem-no de funcionar. Devia deitar fora a raqueta inútil, saltar a rede e obrigar aquele gatinho cruel a submeter-se à sua força marmórea. Não, pelo contrário, o jovem louro aceita as regras, escraviza-se a elas, prefere ser derrotado e humilhado a quebrá-las. A altura e o tom claro do cabelo conferem-lhe um ar de nobreza antiga. Fará um jogo limpo, como um desportista perfeito, até perder a última partida. E não irá isto acontecer-lhe durante toda a vida? Não continuará a envolver-se no tipo de jogo errado, no tipo de jogo para que não nasceu, contra um adversário que é rápido, inteligente e impiedoso?"
Christopher Isherwood, "Um Homem Singular"
Christopher Isherwood, "Um Homem Singular"
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