13 março 2011


anda para aí uma respeitável rapaziada a dizer, em quase todos os jornais cá da paróquia, que o mais recente filme de sofia coppola é um tédio, que é pobrezinho e, de tão displicente, quase insuportável.

acho-lhes graça, confesso. "somewhere" é um filme magnífico. e johnny marco, o actor de ficção encarnado com justeza por stephen dorff (o rapaz ali de cima) é alguém que bem conhecemos e com quem, com as devidas distâncias de escala, já todos nos cruzámos, uma vez por outra.

alguém que tem tudo - ou que assim pensa - e que acaba enredado, aqui sim a palavra aplica-se com propriedade, num tédio desolado, numa espécie subtil e letal de solidão. "podermos tudo" tem um pequeno problema - "usually, gets us nowhere". vem nos clássicos.

sofia filme o dia-a-dia deste pobre homem rico, da única forma certeira: retirando-lhe o brilho, a intensidade, o "glamour". num filme em que abundam mulheres esculturais e em que o nosso rapaz "gets what he wants", não é por acaso que o erotismo é quase nulo - tal como johnny marco adormece em pleno acto, nós, espectadores, apenas pressentimos o enorme desperdício e a persistente tristeza de tudo aquilo, movida a cigarros, comprimidos, horsepower made by ferrari, luzes falsas, lantejoulas baças..

bravo, sofia coppola. bravo, stephen dorff. bravo, elle fanning (a miúda que faz de filha de 11 anos de Johnny Marco - e que acaba por ser a única pessoa adulta que vemos em todo o filme, se pensarmos bem. e isto diz tudo, não diz?).