18 dezembro 2010



eu não quero viver com a premissa céptica e cínica bem interiorizada: 'trust no one'. eu não quero as minhas veias envenenadas por esse amargo travo que a desconfiança sistémica e sistemática traz. não quero, por opção. claro que me tens alertado para o outro lado da moeda, para o preço a pagar. quando me esqueço, tu lembras-me. lembras-me, com crueldade (como fazem os amigos em estado de desespero - que as muito boas intenções levam por vezes à utilização de técnicas de muito baixo calibre..), recuperando, uma e outra vez, aquele velho exercício que é o desenho caótico da minha 'personal events timeline'. sabes que é suficiente para fazer lázaro regressar de bom grado às catacumbas. outras tantas vezes, socorres-te daquela modinha de sempre e segredas-me ao ouvido: 'are you ready to be heartbroken?'. é desleal. mas eu sei que não, que, no fundo, é uma apenas uma forma operativa, eficaz, de me mostrares onde conduzem os caminhos que escolhi. sim, tens razão, é um preço alto, quase obsceno. mas, em contrapartida, sei que também sabes que não consigo usar como lema na lapela esse tão moderno 'trust no one'. porque isso significaria não acreditar em nada, em ninguém. não acredito em grandes ordenamentos abstractos, nem em metafísicas, nem em epifanias. e não acredito em mim. por isso, o que me resta são os outros. essas catedrais imperfeitas, mas tão belas como as mais belas - adaptando as palavras pungentes e perfeitas do muito nosso tio charlie. 'trust no one'? 'trust everyone, trust anyone, trust each one - as long as you know Shakespeare inside out and, of course, providing that you keep well in mind that you will be broken many times. broken but not beaten'.