dia de todos-os-santos
era dia de todos-os-santos, tal e qual,
e o carro deslizava suave pelas colinas douradas
ao encontro de um qualquer encontro.
na rádio, o velho lobo era homenageado em directo
e escutava-se agora a voz do homem que jaz morto.
talvez um dia, quem encontrar as gravações antiquíssimas
de uma certa estação fria,
sinta o mesmo - pudor e amor - por sentir ter entre mãos
algo precioso, que nos pertence e que não nos pertence.
na mesma rádio, falava-nos agora a companheira do velho lobo,
e a voz não tremelicava, a emoção estava controlada ao mílimetro,
coisa de que não somos capazes (talvez quando crescermos).
a canção que se escutava em fundo, apenas trecho musical
mas não menos fulminante, era aquela daquele rapaz
com nome de cidade oriental esventrada - beirut -
aquela exactamente que nos faz deflagrar o coração.
quando, mais tarde, pedi o vinho da madeira doce
e o saboreei em tragos muito lentos e muito suaves,
pensava em ti - videotape que trago inscrustado -,
no velho lobo (almirante do ar, ocorre-me a expressão),
na sua companheira tão elegante (e tão superior a mim,
naquela justeza admirável e contida que só as mulheres).
as colinas de lisboa continuavam lá
e eu deslizava como que pelo dorso de um puro-sangue amigo,
e tudo era suavidade e tudo era como a doçura antecipada
do vinho da madeira que beberia dali a instantes
(mesmo que, claro, o não soubesse - que a poesia tem limites)
quando estacionei frente ao rio,
não percebia porque tremia, nem porque tinha os olhos
enxaguados, exauridos, exangues, extenuados,
nem muitas outras coisas deveras patetas (coro levemente).
lembrei-me então daquele dono de circo que dissera no jornal do dia
- só levam daqui os três ursos depois de me matarem a mim primeiro!
virei-me para ti, meu senhor cosmos estuporado, e gritei:
- só levam os meus sonhos depois de me matarem a mim primeiro!!
ou tudo ou nada, desgraçado!!
quando entrei no tal encontro, apresentei-me assim: olá, sou poeta.
e lisboa e o rio abraçaram-me, entre eles,
enquanto ursos levitavam ao pé do Cristo-Rei,
e o velho-lobo-do-ar-almirante mai-la sua sereia me piscavam o olho
e o rapaz como nome de cidade oriental esventrada me dizia baixinho:
- i dream of electric dreams which dream of you..
e era o tejo
e eras tu
e era já a saudade que não sei dizer
e foi assim
o meu dia de todos-os-santos.
era dia de todos-os-santos, tal e qual,
e o carro deslizava suave pelas colinas douradas
ao encontro de um qualquer encontro.
na rádio, o velho lobo era homenageado em directo
e escutava-se agora a voz do homem que jaz morto.
talvez um dia, quem encontrar as gravações antiquíssimas
de uma certa estação fria,
sinta o mesmo - pudor e amor - por sentir ter entre mãos
algo precioso, que nos pertence e que não nos pertence.
na mesma rádio, falava-nos agora a companheira do velho lobo,
e a voz não tremelicava, a emoção estava controlada ao mílimetro,
coisa de que não somos capazes (talvez quando crescermos).
a canção que se escutava em fundo, apenas trecho musical
mas não menos fulminante, era aquela daquele rapaz
com nome de cidade oriental esventrada - beirut -
aquela exactamente que nos faz deflagrar o coração.
quando, mais tarde, pedi o vinho da madeira doce
e o saboreei em tragos muito lentos e muito suaves,
pensava em ti - videotape que trago inscrustado -,
no velho lobo (almirante do ar, ocorre-me a expressão),
na sua companheira tão elegante (e tão superior a mim,
naquela justeza admirável e contida que só as mulheres).
as colinas de lisboa continuavam lá
e eu deslizava como que pelo dorso de um puro-sangue amigo,
e tudo era suavidade e tudo era como a doçura antecipada
do vinho da madeira que beberia dali a instantes
(mesmo que, claro, o não soubesse - que a poesia tem limites)
quando estacionei frente ao rio,
não percebia porque tremia, nem porque tinha os olhos
enxaguados, exauridos, exangues, extenuados,
nem muitas outras coisas deveras patetas (coro levemente).
lembrei-me então daquele dono de circo que dissera no jornal do dia
- só levam daqui os três ursos depois de me matarem a mim primeiro!
virei-me para ti, meu senhor cosmos estuporado, e gritei:
- só levam os meus sonhos depois de me matarem a mim primeiro!!
ou tudo ou nada, desgraçado!!
quando entrei no tal encontro, apresentei-me assim: olá, sou poeta.
e lisboa e o rio abraçaram-me, entre eles,
enquanto ursos levitavam ao pé do Cristo-Rei,
e o velho-lobo-do-ar-almirante mai-la sua sereia me piscavam o olho
e o rapaz como nome de cidade oriental esventrada me dizia baixinho:
- i dream of electric dreams which dream of you..
e era o tejo
e eras tu
e era já a saudade que não sei dizer
e foi assim
o meu dia de todos-os-santos.
2 Comments:
fora outro o rio
seria eu
soubesses dizê-la seria a minha
x
'Quando conheceres a tua verdade, vive- a.'
(Lisboa, o Rio e o Poeta num abraço só :)
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