'sob a calçada, a praia!'
'somos razoáveis: queremos o impossível!'
paris, maio de 1968
e é assim que chegamos a este dia, dito de greve geral, em que muitas coisas entram em suspensão, para que possamos pensar, para que a voz da rua se escute. que a aproveitem para isso e não para ir ao centro comercial. sejam homenzinhos e mulherzinhas, usem a cabeça, pensem no país que (não) temos e naquilo que temos que fazer melhor. façam como eu, peçam desculpa. não culpem as circunstâncias, os ladrões dos políticos, o estado do Estado, o desgoverno do Governo - pensem, como disse alguém famoso, naquilo que vocês podem fazer pelo vosso país, sim, pelos outros, sim, por vós, pá, por vós, pelos filhos que (não) têm, pela sociedade que (não) construíram, pelo estado danação desta (não) nação. sejam crescidos.
e é assim que sais de casa manhã cedo e ouves logo a força reaccionária das ruas, esse pequeno patronato ridículo, sem mundo para além do seu umbigo, a rosnar contra a greve geral - esses calaceiros, que deviam era trabalhar no sábado e no domingo! ouçam, pobres de espírito, eu trabalho numa grande empresa, do lado do patronato, e essa rapaziada politizada, furiosamente esquerdista, desrazoável tantas vezes, causa-me dissabores. mas é preciso entender, escutar, andar na rua e perceber, é preciso olhar a pobreza envergonhada, as políticas injustas, é preciso refazer as bases e, então sim, exigir, ser firme, afrontar quem bloqueia por bloquear, essas forças do contra só porque sim mais as suas agendinhas políticas, as rasteiras manipulações disfarçadas de alta política. é preciso pensar, pensar, pensar. é preciso lucidez.
e é assim que no caminho matinal vais cumprimentando um e outro e, de repente, estancas e pensas que, se porventura uma revolução liderasses, os teus seguidores seriam mais depressa essa massa de desvalidos de todos os géneros que cumprimentas com um sorriso do que toda a inteligentzia bem falante que te cerca, noutros círculos em que te moves. tu, como um duce dolce, um agitador, pregando o amor cósmico, tão new age, fazendo das flores no bolso de trás das calças não um símbolo de orientação sexual mas um rigoroso manifesto ético - flores, uni-vos e tomai o mundo!
e é assim que pensas, ainda no banho, 'faça-se em mim, segunda a Tua vontade', já que confias bem mais na Sua clarividência, do que nos teus critérios, escolhas, apetites, inclinações.
e é assim que josé mário branco passa em broadcasting - ouch. o célebre 'fmi', esse grito lancinante, desesperadamente poético e poéticamente desesperado. talvez 10 ou 20 pessoas escutem e talvez esse facto mude alguma coisa. e talvez uma só dessas 10 ou 20 pessoas mude o mundo. para melhor, para melhor, que para pior já basta assim, como na modinha-ditado popular.
e é assim que os clash te cantam ao ouvindo: 'i'm all lost in the supermarket, i cannot more shop happily'. e pensas que, há 30 anos, já esta civilização(?) líquida, materialista, repentina, fugidia, estava toda aqui no punk-rock estranhamente dançável desta banda de intervenção (no tempo em que os animais falavam, bem sei..).
e é assim que no teu fato impecavelmente janota, colocas uma gravata vermelha (não é encarnada, é mesmo vermelha-coração). e que no teu bmw prateado atravessas a cidade enquanto escutas o josé mário branco
e pensas
e pensas
Deus meu, o que faço eu aqui? meu Deus, quem sou eu?
e de maneira que foi assim. e de maneira que é assim. de maneira que sou assim.
'somos razoáveis: queremos o impossível!'
paris, maio de 1968
e é assim que chegamos a este dia, dito de greve geral, em que muitas coisas entram em suspensão, para que possamos pensar, para que a voz da rua se escute. que a aproveitem para isso e não para ir ao centro comercial. sejam homenzinhos e mulherzinhas, usem a cabeça, pensem no país que (não) temos e naquilo que temos que fazer melhor. façam como eu, peçam desculpa. não culpem as circunstâncias, os ladrões dos políticos, o estado do Estado, o desgoverno do Governo - pensem, como disse alguém famoso, naquilo que vocês podem fazer pelo vosso país, sim, pelos outros, sim, por vós, pá, por vós, pelos filhos que (não) têm, pela sociedade que (não) construíram, pelo estado danação desta (não) nação. sejam crescidos.
e é assim que sais de casa manhã cedo e ouves logo a força reaccionária das ruas, esse pequeno patronato ridículo, sem mundo para além do seu umbigo, a rosnar contra a greve geral - esses calaceiros, que deviam era trabalhar no sábado e no domingo! ouçam, pobres de espírito, eu trabalho numa grande empresa, do lado do patronato, e essa rapaziada politizada, furiosamente esquerdista, desrazoável tantas vezes, causa-me dissabores. mas é preciso entender, escutar, andar na rua e perceber, é preciso olhar a pobreza envergonhada, as políticas injustas, é preciso refazer as bases e, então sim, exigir, ser firme, afrontar quem bloqueia por bloquear, essas forças do contra só porque sim mais as suas agendinhas políticas, as rasteiras manipulações disfarçadas de alta política. é preciso pensar, pensar, pensar. é preciso lucidez.
e é assim que no caminho matinal vais cumprimentando um e outro e, de repente, estancas e pensas que, se porventura uma revolução liderasses, os teus seguidores seriam mais depressa essa massa de desvalidos de todos os géneros que cumprimentas com um sorriso do que toda a inteligentzia bem falante que te cerca, noutros círculos em que te moves. tu, como um duce dolce, um agitador, pregando o amor cósmico, tão new age, fazendo das flores no bolso de trás das calças não um símbolo de orientação sexual mas um rigoroso manifesto ético - flores, uni-vos e tomai o mundo!
e é assim que pensas, ainda no banho, 'faça-se em mim, segunda a Tua vontade', já que confias bem mais na Sua clarividência, do que nos teus critérios, escolhas, apetites, inclinações.
e é assim que josé mário branco passa em broadcasting - ouch. o célebre 'fmi', esse grito lancinante, desesperadamente poético e poéticamente desesperado. talvez 10 ou 20 pessoas escutem e talvez esse facto mude alguma coisa. e talvez uma só dessas 10 ou 20 pessoas mude o mundo. para melhor, para melhor, que para pior já basta assim, como na modinha-ditado popular.
e é assim que os clash te cantam ao ouvindo: 'i'm all lost in the supermarket, i cannot more shop happily'. e pensas que, há 30 anos, já esta civilização(?) líquida, materialista, repentina, fugidia, estava toda aqui no punk-rock estranhamente dançável desta banda de intervenção (no tempo em que os animais falavam, bem sei..).
e é assim que no teu fato impecavelmente janota, colocas uma gravata vermelha (não é encarnada, é mesmo vermelha-coração). e que no teu bmw prateado atravessas a cidade enquanto escutas o josé mário branco
e pensas
e pensas
Deus meu, o que faço eu aqui? meu Deus, quem sou eu?
e de maneira que foi assim. e de maneira que é assim. de maneira que sou assim.
2 Comments:
um pouco melhor que ontem, um nada pior que amanhã!
:)
'e deixo, livre, o coração bater.'
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