dizias, portanto, que a vida, lá fora, cá dentro, continuava como se num imenso e contínuo plateau. parte verdade - o cinema é, ilusão ou não, também um sistema sociológico, habitado por seres humanos, como tudo o resto -, parte mentira, mas ainda assim um gigantesco plateau.
se é um plateau, é um plateau de que autor, de que género de filme? nada de grandes gestas heróicas, nada de comédias, de grande sagas históricas, de ficção sci-fi. talvez uns pózinhos de série b, algum noir, uma pitada de existencialismo clássico e outro tanto de modernidade angustiada. mas este cinema não existe. o que existe é, por exemplo, o cinema colorido por fora, anacrónico no grão e na paleta de cores e de objectos que ocupam a cena, o cinema, dizíamos, de eric rohmer.
nada de grandes dramas. nada de cavalgadas em prol da salvação do mundo. nada de biopics exemplares, bigger than life. cinema quase vérité, feito das pequenas coisas que não atrapalham o fluir do mundo, mas que, a uma escala micro, pessoal, são verdadeiros turbilhões subterrâneos.
dizias, portanto, que era como se habitássemos (n)um plateau. de maneira que é assim que continuamos a flanar pelos dias.
és cinema e ao cinema voltarás. metade ficção; metade realidade humana. onde começa uma e acaba outra? boa pergunta. boa pergunta..
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