24 agosto 2010


decantação


um poeta escreveu:
'vão cães acesos pela noite'.

a culpa não é dos cães,
mas dos nossos olhos

tingidos por imperfeição,
medo, usura, gravilha.

quando restar só açúcar e cinza,
talvez os teus olhos

tenham recuperado
o H de umanidade

(e o teu coração, já agora
- sideral constelação

que homem algum
dia algum compreenderá.

não eu,
seguramente.)

até lá, os dias são pequenos ciclos
de vida e de morte,

peles que nos nascem
e que deixamos para trás

reinvenção permanente
feita de puro instinto.

quando nada restar, dizia,
senão a tua poeira cósmica,

haverá ainda assim estrelas
e o teu nome gravado no meu céu,

como este amor inteiro
que trazemos ao peito.

o resto:
espécie de paisagem lunar,

abstracção que nunca alcançará
a tua essência:

esse sol - ou uma ideia de sol -
que Deus - ou uma ideia de Deus -

bordou na tua cartografia mais íntima.
e na minha, quer-me parecer.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

((quando nada restar, dizia,
senão a tua poeira cósmica,

haverá ainda assim estrelas
e o teu nome gravado no meu céu,

como este amor inteiro
que trazemos ao peito..))

terça-feira, dezembro 20, 2011 8:56:00 da tarde  

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