decantação
um poeta escreveu:
'vão cães acesos pela noite'.
a culpa não é dos cães,
mas dos nossos olhos
tingidos por imperfeição,
medo, usura, gravilha.
quando restar só açúcar e cinza,
talvez os teus olhos
tenham recuperado
o H de umanidade
(e o teu coração, já agora
- sideral constelação
que homem algum
dia algum compreenderá.
não eu,
seguramente.)
até lá, os dias são pequenos ciclos
de vida e de morte,
peles que nos nascem
e que deixamos para trás
reinvenção permanente
feita de puro instinto.
quando nada restar, dizia,
senão a tua poeira cósmica,
haverá ainda assim estrelas
e o teu nome gravado no meu céu,
como este amor inteiro
que trazemos ao peito.
o resto:
espécie de paisagem lunar,
abstracção que nunca alcançará
a tua essência:
esse sol - ou uma ideia de sol -
que Deus - ou uma ideia de Deus -
bordou na tua cartografia mais íntima.
e na minha, quer-me parecer.
1 Comments:
((quando nada restar, dizia,
senão a tua poeira cósmica,
haverá ainda assim estrelas
e o teu nome gravado no meu céu,
como este amor inteiro
que trazemos ao peito..))
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