10 agosto 2010



os poetas só lâmpadas acendem.
eles próprios - extinguem-se -.

emily dickinson



de vez em quando, aparecem cometas - puro senso comum. no universo da música, existe um céu próprio para todos os cometas que até hoje cruzaram os céus dos melómanos. nesta muito particular dimensão cabem, por exemplo, aqueles discozinhos caseiros, gravados em sistema 'do it yourself meets low fi meets an exploding heart'. perfume genius é o alter ego de um miúdo americano. este ano, chegou-nos o seu disco de estreia, cremos, de sua graça 'learning'. nem sempre damos aos grãos de areia a importância devida. mas, para as leis da física, um grão de areia é tão meu irmão como tu, que me lês. learning the hardest way, bem poderíamos dizer. ao menos, com música, ao menos, com alma, ao menos, com urgência. somos todos a kind of perfumed genius, cruzando os céus, enquanto ardemos.



the walker brothers, que não eram irmãos, mostram aqui, já na fase final da sua carreira, onde é que tantos nomes que tanto amamos foram beber essa peculiar pungência que encontramos nos 'crooners ultra-românticos'. scott walker, esse homem fora do sítio, alma mater deste grupo que fez canções épicas e epidérmicas como poucos mais, tem tido uma (não-)carreira errática. fugiu do mundo e das luzes, quando tinha uma voz assim, um lirismo assombroso na escrita de canções, uma gravitas que nos pôe em respeito, logo à primeira audição. tem lançado discos bissextos, no limite do conceptual-inaudível, obras sobre as quais dizer que são pintadas em tons negros é ser solar. scott walker, ontem, como the walker brothers, anteontem, são um cenotáfio à vacuidade dos nossos dias e à imensa máquina de triturar em que nos tornámos. ou de como a fuga, por vezes, é uma sublime e desesperada forma de ética. porque a sobrevivência é uma ética. 'between the lines' devíamos todos saber ler, como cantam estes já antigos 'irmãos'. brother, where art thou?





em 1968, van morrison gravou 'astral weeks'. discos assim salvam vidas inteiras. e refundam outras tantas.
ou de quando a beleza é pura transcendência e a transcendência é pura metafísica.