05 agosto 2010


era no tempo das suaves raparigas
e era ainda e para sempre esse agosto
que de areia esculpia flores vestidas
de claridade salgada, acre como mosto.
era no tempo das suaves raparigas
andorinhas anunciando a alvorada
semeando palavras como espigas
preparando a colheita mais desejada.
era no tempo das suaves raparigas
forma poética e, bem sei, algo brutal
de declinar no plural a que me obrigas
aquilo que só pode existir no singular.
era no tempo das suaves raparigas
e novecentos era ainda tempo presente
- tudo trocaria: agosto, espigas, mosto
por esse, de mim ausente, teu rosto
(e contudo em mim tão presente).