08 julho 2010


aqueles poucos seres que vão pass(e)ando por este jardim, sabem que é mais comum encontrar por aqui bandas e cantores e cantoras mais ou menos obscuros ou mais ou menos clássicos do que propriamente artistas mainstream nossos contemporâneos. claro que é uma questão de gosto, mas também uma espécie de espírito de missão: dar a conhecer o que este vosso humilde jardineiro acha que merece ser um bocadinho mais conhecido. justiça poética à moda do inverno? pode dizer-se que sim, desde que com o devido respeito pela escala das coisas.

vem isto a propósito dos REM - sim, a banda americana. eu não aprecio por aí além a banda de estádio em que, de facto, se transformaram. todo um desfilar de hits atrás de hits, normalmente bem construídos, melódicamente bastante acima da média, mas sem aquele golpe de asa (e de risco) que, para mim, costuma fazer a diferença.

no entanto, há um lado dos REM que me comove. e falo aqui das canções e não de qualquer registo biográfico da banda. (sim, admiro o michael stipe que diz 'free tibet', mas isso não faz dele um ser humano superlativo - também eu digo tanta coisa nobre e, no final de contas, serve para quê? adiante, para não descarrilarmos na conversa.) dizia eu que há um lado nos REM que me deslumbra. vamos a ele.

no meio da imensa discografia - uma banda com quase 30 anos (incrível, não é verdade?) -, encontramos uma dúzia de canções especialmente lentas, especialmente simples. normalmente são construídas com base num motivo de teclado, que serve de base planante para a voz de michael stipe. são canções quase cantadas num sussurro, lentas como já disse, envoltas num lirismo fulminante. este lirismo não recorre a construções semânticas complexas, nem a orquestrações luxuriantes. é antes um lirismo contido, uma espécie de minimalismo sonoro que serve para que a expressão - a forma peculiar de cantar - de michael stipe faça o seu demolidor trabalho. entra em nós e nunca mais sai.

como exemplo deste tipo de canções, podemos apontar (e são apenas três exemplos): 'nightswimming', 'at my most beautiful', 'why not smile'. todas elas têm em comum uma capacidade de nos fazerem sentir. e todas de uma beleza insidiosa - porque é impossível escutá-las e passar à frente; porque, ao escutá-las, é impossível escolher. sim, lembram-nos certas pessoas que nos obrigam a amá-las instintivamente, sem opção, escapatória. vocês entendem decerto o que quero dizer.

esta manhã, ao escutar a rádio radar, e em particular a sua rubrica 'em repeat', cruzei-me, mais uma vez, com os REM, cantando 'why not smile'.

o resto fica comigo, se não se importam. de certa maneira, e com vossa licença, fica também um bocadinho convosco, através destas linhas que aqui vos deixo. talvez 'at my most beautiful'. ou perto.

1 Comments:

Blogger Nuno Guronsan said...

As tuas escolhas, meu caro, são sempre flores bem-vindas, sejam elas dos jardins mais intímos ou desconhecidos, sejam elas pérolas desencantadas dos baús menos abertos para grandes marcos culturais de todos os nossos tempos. E acertaste quase em cheio, pois posso mesmo dizer que a minha música preferida destes senhores é o Nightswimming. Nunca a voz de Stipe esteve tão bonita, tão reconfortante, tão perto do meu coração, juntamente com o som quase naif daquele piano...

Obrigado. Como sempre.
Abraço.

quinta-feira, julho 08, 2010 11:22:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home