07 junho 2010

dos livros sem pó (ou as minhas mais recentes leituras)


(..)
grafei “inventadas”? pois bem:
e a mentira (a literatura)
é ainda a improvável derrota
de que não nos salvaremos
nunca. tão igual à vida, portanto.

manuel de freitas


'escarpas', gastão cruz [o regresso, em boa forma, de um poeta canónico e formalista.]
3,5 em 5

'mulher ao mar', margarida vale de gato
[auspiciosa estreia nas lides poéticas em nome próprio de uma ilustre tradutora.]
4 em 5

'a última porta', manuel de freitas
[antologia do superlativo poeta (e crítico e editor), arauto-mor da geração dos 'poetas sem qualidades'.]
5 em 5

'londres', nuno dempster
[longo poema corrido de um ilustre (quase) desconhecido.]
3 em 5

'macau', paulo henriques britto
[recente prémio PT de literatura; um livrinho magnífico e, a espaços, cintilante.]
4,5 em 5

'santo súbito', miguel-manso
[terceiro livro de um novo poeta com voz própria e coisas para dizer. ligeiramente menos conseguido que as suas duas obras anteriores ('contra a manhã burra' e 'quando escreve descalça-se'), continua contudo a mostrar-nos um território delicado e pessoal, eregido com bom gosto e uma recusa do confessionalismo excessivo - pecha de muita 'jovem poesia'.]
4 em 5

'disse-me um adivinho', tiziano terzani
[curiosísssimo relato do lento e atento périplo de um jornalista pelos orientes do nosso contentamento.]
4 em 5

'franny e zooey', j.d.salinger
[duas novelas ou contos, sendo 'franny' um suave 'tour de génio', como o autor nos habituou.]
5 em 5, por 'franny' / 4 em 5, por 'zooey'

'carpinteiros, levantai alto o pau de fileira (seguido de seymour, uma introdução), j.d.salinger
[mais duas novelas ou contos, sendo 'carpinteiros(..)' um conto que merece o epíteto p-e-r-f-e-i-t-o..]
5 em 5, por 'carpinteiros(..)', 4 em 5, por 'seymour(..)'

'pergunta ao pó', john fante
[um dos grandes inspiradores do nosso tio charlie - ver entrada seguinte. um livro lindo, lindo. lindo, sobre as desventuras de um jovem aspirante a escritor. vitalista, livre e libertador. magnífico.]
5 em 5

'correios', charles bukowski
[uma das obras em prosa do poeta-quase-maldito, para muitos desconhecida. bem-humorada, sulfúrica, cortante, cheia de rugas e de vícios. humana, portanto.]
4 em 5

'os objectos chamam-nos', juan josé millás
[quase uma centena de micro-contos, algures entre o tom confessional-urbano e uma espécie de suave realismo mágico, reiventado à moda de madrid.]
4 em 5

'inverness', ana teresa pereira
[mais um 'opus' no trilho encetado pela autora, há quase duas décadas. como sempre, deliciosamente anacrónico, encantatório, no habitual registo cosmogónico, ritualista e, porque não dizê-lo, quase com sabor a mistério e suspense.. metafísico.]
4 em 5

'des histoires vraies', sophia calle
[livrinho saído da oficina polivalente desta conhecida artista multimedia, mostra-nos, em vinhetas curtas, pequenos episódios quotidianos onde o papel do acaso, de um certo 'fantástico minimalista', da semiótica existencial ocupam lugar de relevo. estranho, perturbador a espaços, belíssimo.. como, aliás, quase todas as intervenções artísticas desta, ousamos dizer, 'artista total'.]
4 em 5

2 Comments:

Blogger JdB said...

Eu ignorante me confesso...
Da sua lista li o Millás - acabei mesmo de ler o Laura e Júlio de que gostei muito.
Talvez daqui a um mês leia uma nova lista sua e o acto de contrição se dite da mesma forma.
Diferenças, porque quando todos pensam da mesma forma não pensam grande coisa...

terça-feira, junho 08, 2010 8:57:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

caro jb,

lembrar sempre aquela impossibilidade lógica: ninguém conseguirá nunca ler tudo..
vamos lendo, guiados pela intuição, uns quantos críticos que aprendemos a respeitar, o impulso próprio das rondas pelas livrarias. sim, é um facto, tenho lido muitíssimo. mais importante: tenho lido coisas 'boas' (whatever that means..).
um abraço literário, desta vez,

gi.

terça-feira, junho 08, 2010 10:03:00 da manhã  

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