19 junho 2010

..estás agora com um livro não identificado na mão, é de noite, o sótão da casa é o mesmo da casa dos teus avós em lafões, há muitos anos. estás sózinho e acompanhado, não há critério que te ajude a perceber. lês qualquer coisa. sabes que algures a figura está perto, como se estivesse ali e não estivesse ali. adormeces, as coisas mudam de lugar, acordas. vês que a figura esteve ali - sentes ainda a sua presença de uma forma que não é humanamente articulável, a não ser que inventasses uma nova linguagem, mas não tens esse dom, és ainda e só e para sempre humano. procuras o livro, onde está o teu precioso livro, procuras. percebes que a figura to terá tirado, durante o sono. que o leu, dobrou nos cantos, usou e abusou da semiótica que todo o livro traz consigo, aos ombros, a tira-colo, de todas as formas que possas imaginar. algures, com a sua letra minuciosa, há riscos e rabiscos, textos crípticos, numa escrita tão pequena que os teus olhos não conseguem ler, acompanhar, ficas-te pelos princípios de cada frase. repulsa e amor, deve ser uma coisa assim. por um objecto que assume todas as propriedades concentradas de uma figura humana. de súbito, estancas. e percebes, em determinada página, uma frase legível - algo que é para ti, só pode ser para ti. a frase diz-te:

"quero um amor fresco, todos os dias"

e entendes, finalmente, porquê - o porquê de certas coisas.

dias antes, em registo acordado, leras num mail que os nativos do teu signo dão muita importância (ou será que o que leste é que aquilo de que vais falar a seguir tem mesmo muita importância?) aos sonhos. aqui está, a prova provada de que assim é.

o outro tinha um sonho. eu tive um sonho. mas, sabes uma coisa, figura-livro-esfinge? trocava o sonho por uma vida.