09 maio 2010


há no cinema de joão pedro rodrigues, para além de uma fome que é própria da arte que não faz cedências - pura, de certa maneira -, um sopro melodramático raro, em terras lusas. douglas sirk espreita a cada esquina. excessivo, barroco, por vezes ensimesmado em torno da eterna questão do género vs. identidade, é um cinema que divide. e é um murro no estômago, daqueles que nos levam a acreditar que é na fealdade banal que encontramos tantas e tantas vezes os gestos e objectos, os actos, mais sublimes. ontem, durante a baixa madrugada, o joão pedro pegou-me pelos colarinhos e mostrou-me estoutra lisboa, a do seu filme 'odete - two drifters'. como diz uma oração lembrada por um padre poeta: lembra-te que o coração ferido é o coração mais inteiro. palmas e flores, rapaz.