07 abril 2010



O Questionário de Proust – As Respostas de Roberto Bolaño

___________


Qual seu defeito mais deplorável?

Sou uma pessoa cheia de defeitos, e todos são deploráveis.

Qual defeito mais deplora nos outros?

A intransigência, a prepotência, a intolerância.

Qual seu estado mental mais comum?

Nos limites da idiotez, como quase todos os seres humanos.

Como gostaria de morrer?

Fazendo amor. (Na verdade qualquer um gostaria de morrer assim).

Se depois de morto tivessse que voltar à Terra, gostaria de voltar convertido em que coisa ou pessoa?

Um colibri, que é o menor dos pássaros e cujo peso, em algumas ocasiões, não chega a duas gramas. A mesa de um escritor suíço. Um réptil do deserto de sonora.

(..)

Qual a sua maior extravagância?

Minha grande coleção de wargames de mesa e minha pequena coleção de wargames de computador.

Em que ocasiões você mente?

Quando falo de pintura abstracta. Quando falo de poesia metafísica.

Que pessoa viva te inspira mais desprezo?

São muitos, e já sou demasiado velho para estabelecer um ranking.

Que pessoa viva admira?

Admiro as mães e avós da Praça de Maio. Pessoas como elas.

(..)

Qual sua idéia de felicidade perfeita?

Minha felicidade imperfeita: estar com meu filho e que ele esteja bem. A felicidade perfeita, sua busca, gera imobilidade ou campos de concentração.

Qual seu maior medo?

Qualquer coisa que cause algum dano ao meu filho.

Qual seu maior remorso?

São muitos, e se deitam, e levantam comigo, e escrevem comigo porque meus remorsos sabem escrever.

Qual a virtude mais valorizada socialmente?

O êxito, mais o êxito não é nenhuma virtude, é só um acidente.

O que te desagrada mais em sua aparência?

Aos 46 anos, se algo me desagradasse em minha imagem, seria um palerma. Tudo me desagrada, mas o assumo com resignação.

Quais são seus nomes favoritos?

De homem, Lautaro. De mulher, Carolina, Lola, Maria. De cachorro, Laika, Duque, Popi.

Que talento desejaria ter?

Saber tocar violão. Saber jogar futebol. Ser um bom jogador de bilhar.

O que te desagrada mais?

A má educação.

Quando e onde você foi mais feliz?

Eu sempre fui feliz. Ao menos, razoavelmente feliz. E em lugares e datas nas quais a felicidade não era precisamente o que mais abundava.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Nada. Primeiro porque não posso. Segundo porque é impossível.

Qual é seu maior objetivo?

Meu maior objetivo seria que meu filho se recorde de mim com carinho. E que meus amigos, de vez em quando, também. Mas isto é uma batalha futura.

Qual sua posse mais valiosa?

Meus livros.

Qual a manifestação mais clara da miséria?

As crianças que morrem de fome, os que morrem por enfermidades fáceis de combater, as crianças que sofrem abusos sexuais, as crianças que têm que trabalhar, as que são matratadas por seus pais. A manifestação mais clara de nossa miséria e de nosso fracasso como seres humanos é isto e Auschwitz.

Onde desejaria viver?

Se tivesse muito dinheiro, em Andaluzia, sem escrever nem fazer nada, passar o dia nos bares, conversando.

Qual seu passatempo favorito?

Ver vídeos até as cinco da manhã.

Qual a qualidade que você mais aprecia em uma mulher?

A inteligência e a bondade, igual nos homens. Em terceiro lugar o humor, ainda que sem inteligência e bondade o humor se dá por acréscimo.

Qual a qualidade que você aprecia mais em um homem?

Creio que esta pergunta já esteja respondida. Acrescentemos uma quarta qualidade, desejável, mas não exigível: o humor.

Qual seu herói de ficção favorito?

Julien Sorel. O Pijoaparte de Marsé. Horácio Oliveira de Cortázar. O Superman. O padre Brown. Don Isidro Parodi. O Cristo de Elqui.

Quais são seus heróis da vida real?

Os mesmos que já mencionei. Acrescentaria Misael Escuti e Honorino Landa. Acrescentaria Baudelaire e Oscar Wilde.