08 março 2010

(in memoriam de todos os mortos que me preenchem os dias)


anteontem primeiro domingo de novembro
a névoa podia-se cortar à faca.
as árvores brancas da geada e as estradas e planícies
pareciam cobertas por lençóis. depois apareceu o sol
enxugando o universo e somente as sombras
permanecem banhadas.
pinela, o camponês, atava as cepas
com ervas secas que segurava entre as orelhas.
enquanto trabalhava falei-lhe da cidade,
da minha vida que passara num relâmpago
do meu terror da morte.
aí silenciou todos os rumores que fazia com as mãos
e só então se ouviu um pequeno pardal cantando ao longe.
disse-me: medo porquê? a morte nem sequer é maçadora.
apenas vem uma vez!


in 'o mel', de tonino guerra, assírio & alvim