22 fevereiro 2010



soletra-a com doçura e grava-a nos teus gestos mais ínfimos.

sonhava, nesses dias, com uma coisa, uma casa, um caso, semântica solta, como se vivendo em abismo, pão-de-ló figurativo, furiosos combates sem ruído.

o sentido da neve qual é?

talvez ocorresse perguntar se alguém se lembraria da parábola:

- lázaro, levanta-te e caminha.

palavras exactas proferidas pelas flores mais futuras.

continuando a dizer: fui criado com violência, alimentei-me de raiva, dediquei a minha vida a provar o contrário: aquela palavrinha de quatro letras bem portuguesas, sempre em suspensão abstracta, à falta de matéria concreta.

coisas de resto improváveis, como um haiku digital, semeado à beira do lago que só tu vês - mas que existe, para além de tudo o que dizem, de tudo o que possam ainda dizer.

ficção rare com poesia a cavalo - é o prato do dia, como sempre, como dantes.

cintilações, talvez, quem poderá dizer. restos, rastos de estrelas cadentes caem do céu, como se metal fundido aceitando a gravidade.

mais perto de agosto.

flores semânticas perigosamente próximas de cortazar, dessoutro irmão. semiótica de beira de estrada e nexos de causalidade afectiva - disse-me, por entre um gancho de esquerda, que raspou o meu peito junto ao coração.

picador de gelo e matar-me-ia,

mas isto, claro, só para que as flores pudessem dizer o que está escrito, para além de todo o tempo:

- levanta-te e caminha.

vou contar-te uma história, disse o velho ao rapaz: lê estas palavras ao contrário, parte daqui, parte agora, parte já.

e assim foi. e assim me fui.