18 fevereiro 2010



mais de trinta anos depois, o regresso ao passado, num registo brutalista e ao mesmo tempo poético. invocação, evocação e esconjuramento de memórias, dores e fantasmas.

a infância, o colonialismo português sem eufemismos, tal como praticado no quotidiano mais chão, a memória de um pai que foi amado e odiado ao mesmo tempo - o género de sentimento que só dedicamos uma ou duas vezes na vida a pessoas que nos fulminaram e que, paradoxalmente, nos iluminaram.

uma linguagem visceral, marcada pelo sangue e pelas lágrimas, mas também pelos cheiros, pelas cores, pelos sorrisos da pequena isabela desses longos e cálidos dias africanos.

para que conste, os nossos mui portugueses brandos costumes são muito relativos. e, como suspeitávamos, ninguém fica bem nestes polaroids que queimam - ninguém.

li-o em dois dias. há mais vida neste livrinho do que em biografias inteiras que conheço de cor.

e há mulheres assim, de coragem. conheci algumas na minha vida. a admiração que tenho por elas é proporcional ao homem que gostava de ser, mas que nunca saíu de uma folha de papel ou de um blog, como este a partir do qual vos escrevo.

(há quem sonhe com coisas, como há quem queira conquistar o mundo. eu sonho com pessoas, eu sonho com sonhos. alimentado(s) a livros, poemas, discos, cinema, palavras, memórias, utopias, objectos vivos, estrelas fulminantes, constelações amorosas, medos e dores. eu sonho, logo eu sou. eu sou, por isso eu sonho. até ao fim.)