15 junho 2009

há dias em que escrever nos salva de nós próprios,
bem o sabemos, todos os que frequentam o templo da palavra.
outros dias há em que escrever nos custa a pele e os olhos mil
que não temos - mas que valem aqui como metáfora para o tanto
que queremos dizer, sem saber exactamente como.
por vezes, abrimos o teclado - como a antiga e já morta
máquina de escrever do avô - e teclamos furiosamente,
à procura de matar pelo tédio ou pela raiva todas as palavras
e assim nos esvairmos com elas, ou pelo menos a dor completa
que somos em dias infelizes. todos os temos, amigo leitor,
não desvies o olhar, mesmo se as palavras, estas palavras,
te desfazem o sorriso, pedras pontiagudas e traiçoeiras,
vindas dos confins do universo e da mão que ainda agora beijavas.
vá-se lá entender o mecanismo sideral que tudo comanda, desabafas
agora de ti para ti. ninguém te ouve, e tu sabes. agora entendes,
finamente, finalmente, que este texto é nitroglicerina e dinamite,
tnt, hidrogénio desviado, gás pimenta com metade de gás mostarda.
tudo coisas que fazem chorar, ocorre-te. mas tu, leitor meu, sabes
que os dedos que neste exacto e irrepetível segundo martelam este
teclado remoto não se debruçam sobre um território de fantasia,
cosa mentale, reino imaginado, floreado mal semeado, enredo ficcional.
não, não, não. sabes bem que o poeta é apenas um demiurgo que ficou
do lado de cá, sujeito às tempestades inclementes, fiel depositário
de segredos que bem melhor seria terem ficado para outrém. triste,
solitário, solidário (o que dói duas vezes mais), o poeta é um ser
impotente, velejador solitário, um ser que vegeta, por lhe ser
impossível viver a vida tal como tantos outros a levam. e porquê?,
perguntas tu, leitor amigo. e porquê?, pergunto eu, escritor pateta.
não sabes, não sei, ninguém sabe. calhou assim, pouca sorte, é a vida.
não tens respostas, mas tens perguntas. esse é o mistério maior das
leituras que fazes, sentir essa partilha maldita, entre eu que escrevo
e tu que me lês, entre tu que me fazes escrever e eu que te faço ler,
transmutada nas palavras angústia, dúvida, mal-estar, sobressalto.
inquietação, pois então. inquietação, como não. inquietação, danação.
lembras-te de darwin e da teoria da evolução das espécies. que bom
seria se emoções e seres emocionados, emocionáveis, pudessem trilhar
esse caminho de progresso, de crescimento, ganhando robustez, força.
mas numa escala mais útil, durante o teu tempo de vida, essa janela
minimal que te é concedida. procurar o júbilo em vida, espalhar a alegria,
exercer o magistério da luz. para os outros, mas também para ti.
para ti, leitor. e para mim, que escrevo. e partir em mil o espelho
que nos aproxima e separa, que nos deforma e devora. era hora..

mas não é.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"que bom
seria [[É]] se emoções e seres emocionados, emocionáveis, pudessem trilhar
esse caminho de progresso, de crescimento, ganhando robustez, força.
mas numa escala mais útil, durante o teu tempo de vida, essa janela
minimal que te é concedida. procurar o júbilo em vida, espalhar a alegria,
exercer o magistério da luz. para os outros, mas também para ti.
para ti, leitor. e para mim, que escrevo. e partir em mil o espelho
que nos aproxima e separa, que nos deforma e devora. era [[quando É ?]] hora..

-pergunto-me se queres mesmo que seja hora, essa hora H, de Hoje

ou se preferes aninhar-te no (teu )canto/limbo/hiato/vazio...e ficares a carpir nebulosas e sombrias teias em vez de sacudires (aos poucos, diariamente e conscientemente ) essas poeiras cósmicas seculares que te carregam os ombros e te baixam o olhar para o chão em vez de olhares de frente o Horizonte (outro H)..

-pergunto-me quando vais deixar esse manto nostálgico, sedutor mas enganador da tristeza vitimizada e vais tomar as rédeas da tua vida e perceber que se quiseres és tu que decides e persegues o que queres de facto ser...

-pergunto-me quando poderás enfim entender e ACEITAR que não é uma cruz com que nasceste, e que tens que carregar até ao fim dos teus dias...

-pergunto-me...
-pergunto-me que mais te poderei dizer para que entendas que estamos destinados ao júbilo, à alegria, à exaltação, à VIDA, que precisamos - tal como dizia Darwin para as espécies e muito bem disseste para o restante- de 'séculos' de 'aprimoramento', mas que cada vida conta para a frente ou não..depende do que fazemos com ela

-pergunto-me que mais posso fazer para te ajudar... e respondo : mais nada do que tenho feito..
a maior tarefa é tua.
Tu decides se queres ser apenas a fresca sombra/lua ou se queres Ser também o calor e o brilho do Sol, és ambos...

se ouvires o teu apelo interior, ele vai-te dando pistas, fica atento aos pormenores da tua vida, segue a tua intuição (aquela ideia primordial que surge antes do ego e a personalidade se porem a mandar 'bitaites' :), atenta às sincronicidades ( aos 'acasos') e deixa-te levar..


Não te inquietes...não te preocupes...procura..tenta...'estuda'...aceita...acredita...

Um dia, um momento, um rasgo, uma nesga...e será a TUA Hora!!

deixo-te um grande abraço
a.

segunda-feira, junho 15, 2009 3:46:00 da tarde  

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