23 junho 2009

better off without a wife

esquece o melhor que puderes.
há drogas e cinema (por
enquanto). não vais ser tu a aprisionar
os gestos felizes ou sem rumo
de que ainda sou capaz.
não é nada pessoal, garanto-te.

bebi sempre demais, acordo
tarde e as crianças estão longe de ser
o meu animal doméstico preferido.
detesto horários, famílias e obrigações.
até a partilha dos lençóis,
quando não é o amor a rasgá-los.

os dias, porém, depressa
nos obrigam ao esterco das rotinas,
ao desejo inútil de procurar
a morte noutros braços

mas não. não vou mudar de marca
de cigarros nem de pasta
dentífrica. acordo logo que puder,
já sabes. telefono-te rouco,
eventualmente triste, a precisar
de alguma liberdade para poder provar,
sozinho, que a liberdade não existe
mas dá bastante jeito.

e no entanto, depois disto tudo,
é altamente provável que eu te queira
amar. como não sei melhor, como sei.



manuel de freitas
in 'o coração de sábado à noite'