07 maio 2009




farto de tudo, ou de quase tudo (que as andorinhas serão sempre uma classe intocável, como aquela casta indiana que, anacrónicamente, mantém as golas arrebitadas e as calças impecavelmente vincadas), ele navega pelos blogs, naquele jeito luso-qualquer-coisa de se deixar ir, sem interesse propriamente dito, nem na viagem em si, nem em qualquer destino especial. o vento levá-lo-á, ou então a maré, impossível não lhe ocorrerem cinquenta e três aforismos ligeiramente desfocados (a palavra é: avariados). às vezes, farto de todos ou de quase todos (que as andorinhas serão sempre a sua privada guarda-avançada contra os apocalipses de fancaria), ele encerra-se a si próprio numa espécie de jardim - um espaço aberto em todas as direcções, mas, ao mesmo tempo, fechado ao mundo. a este mundo, logo acrescenta ao seu próprio 'flow' mental. conhecido por escrever mais depressa do que a sua própria sombra, às vezes, farto de tudo e de todos, ou quase quase, ele liga o gira-discos - a sua capela sistina portátil - e mergulha em abismos doces. há quem diga que nasceu aí a sua recorrente expressão 'my own private idaho' e não no filme homónimo. diziamos: ele pega num disco, cheio de poeira e rugas, cheio de suor dos dedos e de marcas de vida, ele pega num disco e, com desvelo e carinho, ajeita-o.. horas e horas depois, ele acorda. quase farto de tudo e de todos, mas um bocadinho menos farto. mexe na melena, passa o rosto por água (fria e forte, como ele gosta) e pensa: yeah, yeah, yeah..