21 abril 2009




imagino, não poucas vezes, que a vida era outra coisa:
avenidas rasgadas a perder de vista, à espera de noites
que, contravolta e redemoínho, fizessem da série de dias,
e de nós próprios neles, uma coisa exactamente assim,
como na primeira linha deste poema(?), assim bem diferente.
quero dizer, meu menino travesso sem juízo por inteiro:
uma coisa formidável, maravilhosa, uma epifania sem o
protocolo da igreja nem um qualquer desejo de perfeição.
apenas assim, dizia-te: estupenda. digna de um poema sério,
seria outro modo de dizer, talvez mais feliz e mais exacto.
em vez deste arremedo mal amanhado, terias aqui um soneto
esplendoroso e geometricamente cinzelado. ah, claro está,
um senão todavia: não seria eu, nem serias tu, caro leitor,
quem aí e aqui estaríamos. essa é a dúvida fundamental:
antes esta vida videirinha e possível, mas nossa, ou uma
vida fervilhante, vivida por outrem, num quase bilhete-postal?
ganhariam os perfeccionistas? decerto. mais aqueloutro museu.
perderíamos, todavia, o rumo. e tu, mais do que tudo..

e tu, mais do que eu?