06 abril 2009




hoje, à saída do almoço, cruzo-me com uma mão-cheia de personagens castiças, aqui do bairro onde trabalho. não é o bairro, dizem que genialmente, erigido pelo gonçalo m. tavares, esse rapaz que nunca se cansa de escrever e editar e ser pai de várias crianças e passear por aí - tantas são as vezes que nos encontramos por essas ruas. é apenas um bairro lisboeta, nem popular nem burguês, antes uma mistura luso qualquer coisa, porventura mais definidora da nossa matriz enquanto nação arraçada e de manga pouco arregaçada. mas, dizia eu, entre esses personagens, um salta-me à vista, pelas incontornáveis semelhanças com o poeta charles bukowski. logo digo, num repente inspirado, para quem me acompanha: 'aqui está o bukowski de campolide'. que graça. agora, horas depois, penso melhor. afinal, quem me garante que outros, noutros tempos, noutras geografias, não se viraram para um personagem curioso de uma certa rua americana e, entredentes, disseram: 'olha, aqui está o baudelaire que merecemos; o sade estadunidense em registo urbano-decadente; o maldoror com cheiro a whisky de segunda e a inteligência de primeira..'. pois é. as palavras, às vezes, matam. pelo ridículo e pela leviana leveza. mea culpa, mea culpa.

1 Comments:

Blogger Abssinto said...

:)

Eu, que me lembre, em Lisboa já vi pelo menos um Baudelaire e um Tom Waits, gémeos idênticos.

quarta-feira, abril 08, 2009 10:19:00 da manhã  

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