em 1988, a inglaterra continuava, como sempre, à espera da 'next big thing', expressão que dura até hoje, impulsionada por uma imprensa musical agressiva e saudosista dos tempos em que o império britânico majestosamente dominava os charts e os afectos da música pop rock.
nesses dias, no retrovisor confundiam-se ainda as sonoridades do rock mais progressivo, do glam rock britânico, do movimento punk, do new wave já a roçar as electrónicas de consumo livre, dos urbano-depressivos da corte 'joydivisiana', do pós-punk anguloso, dos novos e obscuros românticos da 4AD, do dance-rock embrionário da factory, da ascensão do indie mais assumido e cristalino.. um pouco mais para trás, toda a estirpe de bandas que fizeram a transição dos sessenta para os setenta, herdeiros dessa swinging london (the kinks e tantos outros) e, claro, os sempiternos beatles e stones, à cabeça da excelsa armada inglesa. britania rules, bem poderia ser, por esses dias, o lema. claro que, nos outros quadrantes, o mundo não parou, mas o frenesim criativo britânico era evidente. chegados aos anos oitenta, na ressaca de tantos movimentos, de tantos sub-movimentos, o síndroma era agora o de orfandade desses rapazes, marcantes como talvez nenhuns outros nessa década, os mui venerados the smiths, com as suas palavras orgulhosamente sofisticadas, a sua capacidade de estilhaçar emoções de adolescentes em todo o lado, o superlativo manto de guitarras em filigrana.
estamos em 1988. e o movimento que ficou conhecido como madchester (de manchester + a loucura desse ambiente efusivo que anteciparia as raves do virar da década de 80 para 90 e que estavam quase, quase a chegar..) bate à porta. bandas como the happy mondays, inspiral carpets, the stone roses e tantas outras, hoje semi-esquecidas, foram então arautos e linha avançada dessas canções apostadas em abanar com o cinzento das cidades inglesas, através de uma forma positiva e dir-se-ia imediatista, hedonista, indulgente de olhar, fazer e sentir a música pop rock. os the stone roses lançam então este single ('elephant stone'), inaugurando um período de 2 ou 3 anos em que madchester foi grande..
depois, depois viria o shoegazing, o britpop e, do outro lado do atlântico, o grunge. antes de movimentos vindos das periferias (o hip hop mais mainstream, o house, o trip hop de bristol, o grime londrino, a soul eletrónica, etc.) virem estilhaçar a teoria dos movimentos dominantes. nada foi como dantes. lá, em terras de sua majestade, como do outro lado do mundo. a cultura do do it yourself, o apogeu da cultura clubbing moderna, o ressurgimento dos undergrounds, a americana, a new weird folk, o low fi, o slow sad core, o drum and bass, o pós-rock vieram, entre 1995 e 2000 mudar tudo. nada mais foi como dantes, uma vez que, em consonância com as novas possibilidades tecnológicas, com o acesso democratizado aos meios de produção e com a revolução que foi a internet, passámos a ter múltiplos géneros musicais em saudável coexistência, baralhando influências e influenciados, rasgando fronteiras de géneros, lançando crossovers atrás de crossovers. mas isto é falar já do presente..
voltando atrás: o ano era 1988. e o palco começava a ser deles. senhoras e senhores, the stone roses.
2 Comments:
Stones Roses é uma das poucas bandas britânicas dessa fase que não gostei muito....mas as citadas no post, são demais.
Deixo uma dica de banda nacional muito boa: Instiga
escuta o último disco deles..o "Tenho uma banda"...
baixei no site deles mesmo
www.instiga.com
: )
Também nunca fui admirador dos rapazes. Faltava-lhes o factor "qualquer coisa"...
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